dezembro 24, 2004

Natal é Tempo

Luzes iluminando nossas vidas. Muitas pessoas nas ruas. Crianças correndo. Pessoas rindo. Uns entregando presentes. Outros ganhando. Alguns sonhando. Um cheiro diferente no ar. É NATAL!

NATAL é tempo de balanço: quantas vezes rimos, quantas vezes choramos, os amigos que perdemos, aqueles que ganhamos, as metas que não conseguimos alcançar, quantos quilos engordamos, quantas loucuras cometemos, quantas vezes nos lamentamos, quanto gastamos com coisas fúteis, quantas vezes deixamos de ser úteis.

NATAL é tempo de reflexão: de pensar naquele que está ao nosso lado e naquele que não está mais. De esquecer as desavenças, de encontrar a paz. De buscar no fundo do coração um sentimento que não precisa ser expresso em palavras, apenas com o olhar. Olhar de Feliz Natal. É o tempo certo de esquecer as desavenças para sempre. É o tempo preciso para pensar na miséria. É o tempo que não encontramos durante o ano inteiro para PENSAR o bem, DESEJAR o bem, PRATICAR o bem.

NATAL é tempo de conscientização: de entender que a perfeição é do tamanho da pretensão que cada um tem de ser perfeito. De aceitar que o belo não é um conceito padrão, mas sim que se encaixa à essência de cada pessoa. De compreender que a individualidade às vezes é necessária, mas que só a união faz a força. De afirmar que o único caminho para o sucesso é o foco nos objetivos, buscando sempre pensamentos positivos.

NATAL é tempo de mudança: de descobrir o que falta para sermos pessoas melhores. De entender que o mundo precisa ser diferente e que cada um PODE dar a sua contribuição para isso. É tempo de entender que a opinião alheia é importante sim e aceitá-la faz da gente pessoas menos egoístas. É tempo de crescer, de amadurecer.

De todos os tempos, NATAL é o tempo que Deus nos deu de presente para sermos filhos melhores, amigos melhores, pais melhores, PESSOAS melhores. É o tempo que Deus escolheu para nascer em nossos corações e nos fazer REFLETIR, CONSICIENTIZAR e MUDAR.

Que neste Natal, Deus nasça mais uma vez no seu coração e faça de você uma pessoa AINDA MELHOR.

FELIZ NASCIMENTO!

FELIZ NATAL!

dezembro 13, 2004

???

Uma das grandes frustrações com a geração a qual pertenço é justamente a ausência de argumentos construtivos para se fazer uma revolução, não para mudar o mundo, mas para fazer a diferença nele. Seja qual for o objetivo de fazer a diferença no mundo, no seu trabalho, na faculdade, em qualquer lugar, esse objetivo deve vir amparado pelo respeito às classes sociais, às essências sexuais, às diversidades raciais e também às diferenças de opiniões.

A verdade é que ninguém está de fato preocupado com isso. Talvez, nem mesma eu esteja. As pessoas não estão preocupadas em ser diferentes ou em fazer a diferença. Todo mundo pensa igual, como se a razão tivesse sido padronizada, restrita a um singelo pensamento coletivo: vamos seguir o fluxo que a sobrevivência vem por conseqüência. É isso, a preocupação deve ser com a morte e não com a vida.

Esse fulano aí do seu lado provavelmente não esteja vivo. Essa que vos escreve pode estar proferindo essas palavras do além. Do além da indignação humana. Do além da impossibilidade de compreensão. Do além das nossas dúvidas remetidas à miséria da condição humana. Há tanta coisa pra se lamentar. Pra duvidar. Pra conspirar. Quem está preocupado com o respeito?

Quem aqui se reconhece humano o suficiente para proliferar o perdão? Quem aqui se reconhece puro suficiente para chorar? Não existem lágrimas. Não há sorrisos. O ar que respiramos chama-se melancolia e a vida que bate em nossos corações está isenta de qualquer significado. O desrespeito nos governa.

A vida que se finge viva nos apodrece diariamente. Minuto a minuto. O amor é inatingível e a solidão não está só. Está acompanhada pelo desespero de abrir os olhos e entoar a voz. Estamos todos mortos pelo desrespeito. E a minha última palavra é BASTA.

dezembro 08, 2004

Depois do Perigo

(Lucina e Zélia Duncan)

Não, não me aqueça
Hoje eu quero o frio
O vazio
Que a sorte deixou aqui
Quero sentir a altura do abismo
Pra eu poder subir depois do perigo
Não, não me acalme com silabas doces
Hoje eu quero o açoite das palavras rudes
Pra que eu possa me defender em atitudes
Não, por favor hoje não me proteja
Para que eu finalmente veja
O que a vida reservou pra mim
Quero sentir a altura do abismo
Pra eu poder subir depois do perigo

novembro 29, 2004

Segunda-feira muito louca

Detestar as segundas-feiras nunca esteve no meu rol de detestações diárias. Segunda-feira é, antes de mais nada, uma quebra de rotina e, para quem vive em função de inconstâncias, vem a ser um ótimo aperitivo para o início da semana. Vá lá que tal otimismo dura, no máximo, até a terça-feira, mas aí é uma outra história.

Minha segunda-feira começou bem. Ignorei o despertador. Repeti mais de cinco vezes em pensamento "só mais alguns minutinhos". Acordei no banho. Não bebi meu café na xícara de sempre. Troquei os "Anos Incríveis" pela centésima transmissão do "Prêmio Multishow". Saí atrasada de casa pra não contrariar a ordem natural das coisas. Peguei um coletivo lotado. Ouvi duas vezes seguidas a fita da Zélia Duncan no meu walkman, cantando todas as músicas e repetindo todas as falas dos seus comentários. Ignorei os olhares curiosos. Cheguei ao escritório e, como sempre, me dirigi ao toalete para lavar as mãos e pentear meus cabelos rebeldes. Peguei o café-da-maria e um copo com água. Bati um papo matinal com a Cris. Sentei na frente do meu computador. Selecionei algumas músicas que não ouvia há tempos. Baixei meus e-mails. E o telefone tocou.

Tem horas que o simples tocar do telefone faz com que você deseje ser qualquer outra pessoa, atuar em qualquer outra área ou estar em qualquer outro lugar. Tenho a impressão de que, quando o telefone toca, junto com as ondas sonoras vem uma espécie de vibração que precede o assunto a ser tratado. Sei lá se é o meu sexto sentido em ação ou algum poder marciano, mas há momentos que o toque do telefone me dá vontade de sair correndo. O problema é que eu nunca saio.

O infeliz do outro lado da linha decidiu quebrar a seqüência da minha segunda-feira normal e jogar nas minhas costas todos os rezíduos maléficos do seu final de semana frustrado. Por pouco, quase esqueci da ética e moral que movem minha profissão e mandei o elemento se dirigir ao banheiro mais próximo e enfiar a cabeça na privada. Eu, que mal enxergo a ponta do meu pavio de tão curto que ele tem estado, tive que manter a compustura. Até tentei não ser irônica. Até tentei não ser redundante. Esgotei a minha capacidade de dizer a mesma coisa por um milhão e trezentas e setenta e sete mil formas diferentes. E a conversa com o fulano se prolongou em duradouros quase oitenta minutos. Dá pra acreditar? Um dia bonito, os passarinhos cantando, o Natal chegando e o fulano gastando o telefone da empresa em que trabalha, só para ESTAR COM A RAZÃO! E eu lá quero saber dessa tal de razão? Sério. Ultimamente estou mais para a sensibilidade do que para outra coisa qualquer.

Ei, alguém aí tem um chiclete?

novembro 17, 2004

O pior de mim I

Saudades de mim
Do mistério da minha essência
Do que me faz doce a amarga
Líquida, homogênea
Ingredientes da vida

Medo de mim
Da ousadia de ser
Da audácia de falar
Pensamentos silenciosos
Verdades inquietas

Raiva de mim
De tudo o que não sinto
Da simplicidade difícil
Do que falo e não digo
Quando paro para refletir

Pena de mim
Da covardia disfarçada
Do frio que me apetece
Desconhecido que me conhece
Da felicidade amargurada

novembro 09, 2004

A sorte vem por e-mail e ondas sonoras

Tá legal, tá legal. Prometo que nunca mais reclamo de falta de sorte na vida. Não digo isso porque estou viva. Também não digo porque estou empregada (ops, melhor não tocar neste assunto). E digo menos ainda por ter um teto e não precisar dormir na rua. Sim, claro, são motivos suficientes para eu viver feliz para todo o sempre, amém. Afinal, muitos são felizes por menos, oras. Então tá. Ei, Papai do Céu, tá me escutando? Valeuzão por tudo, viu! Papai Noeeeel, fui uma boa menina o ano inteiro. Muito obrigada pelas suas antecipações.

Calma, não ganhei na mega-sena. Mas desperdicei uma boa chance, pode acreditar. Algumas pessoas são céticas com relação a promoções, mas eu certamente quebrei umas boas barreiras há cerca de dois meses. E foram com estes argumentos que acalmei uma grande amiga por ter recebido um e-mail promocional indicado por mim.

Imagine você com uma enorme vontade de conferir o super show de uma cantora que curte muito. Agora, imagine a sua enorme vontade atrelada ao fato de você não ter dinheiro. Você, evidentemente, buscará algumas saídas. Recorrer à sua mãe é uma delas. Mas a sua mãe já encerrou a cota de "quebra-galhos" do mês e resolve não ceder desta vez. Você tem seu irmão, mas ele também não pode quebrar esta. Você imagina algumas situações: talvez vender alguns objetos de casa, mas isso traria conseqüências drásticas. Não valeria a pena. Um empréstimo, talvez. Hmmm... melhor não. Então você parte para o "se":

Se não tivesse gastado seu dinheiro com coisas supérfluas...

Se tivesse um namorado rico...

Se não tivesse zerado o cartão de crédito...

Se houvesse algum milagre...

Ops! Milagres acontecem. Quando eu já estava mais que conformada, continuei dando o rumo normal à minha vida. Nada de baladas até o próximo mês. Nada de cinema. Nada de compras. Nada de lanche com os amigos. Tive que optar pelo "curtindo a vida adoidado na Internet", manja? É, dá para se divertir às vezes. E foi no Orkut que os anjinhos disseram amém. Lá mesmo, na comunidade da Zélia Duncan. Explico: alguém mencionou que o fã-clube estaria sorteando alguns convites para o show da Rita Lee, que a Zélia faria uma participação especial. Seria apenas uma participação, mas era também a gravação do DVD da Rita. Já era alguma coisa, né? Pois bem. Fui até o site do fã-clube, registrei a minha inscrição na promoção e desencanei total. Numa hora dessas, a melhor coisa é dispersar. E assim tentei fazer.

Em determinados momentos, por mais que você tente, não consegue. Quem disse que havia forma de dispersar? No dia seguinte, a caminho do escritório, a Nova anunciava a promoção para o tão sonhado show no Directv. Bastaria ligar para a rádio e informar o nome e documento de identidade. Ah, sim! Antes, eu teria que decorar o telefone da rádio que ouço todos os dias, cujo número é repetido zilhões de vezes e eu sequer saberia informar o primeiro dígito se me perguntassem. Até aí, valeria o sacrifício.

Cheguei ao escritório e disquei. Fui atendida no primeiro toque. Começamos bem, pensei. Fiz o que tinha de ser feito e esperei pelo resultado que seria divulgado na programação em vinte minutos. Liguei meu PC, continuei ouvindo meu walkman e fingi que nada estava acontecendo. De repente, alguém me chama. Tiro os fones e olho para trás. Quando me volto e recoloco os fones, ouço apenas: Parabéns, Juliana! Aguarde o contato da nossa produção". Venhamos e convenhamos que "Parabéns, Juliana!" não significa absolutamente nada. Você já parou pra pensar em quantas Julianas existem no mundo? Eu já. E não são poucas. Fiquei com vontade de brigar com a outra Juliana que havia me desconcentrado na missão, mas procurei me acalmar. Quase uma hora depois, eu lá, me corroendo em dúvidas, e o telefone toca. Era a moça da rádio. Sim, eu era a Juliana sortuda. Eu havia ganhado um par de ingressos para ver Zélia Duncan no Directv.

Como era de se esperar, não me cabia em mim de tanta felicidade. E todo mundo com aquela cara de surpresa de "Sim, as promoções funcionam". Quando volto do meu almoço, tal não foi minha supresa ao ver a mensagem que estava em minha caixa-postal. Era a resposta do fã-clube. Eu tinha sido uma das premiadas para ir à gravação do DVD da Rita Lee. Ah! E na sexta recebi a resposta dizendo que também ganhei dois ingressos para ver "Mulher Gato" no cinema + 1 walkman. A minha frase foi uma das vencedoras, em resposta à seguinte pergunta: "O que você faria se recebesse os poderes da Mulher Gato?".

Naquela semana acontecia o maior acúmulo da mega-sena dos últimos tempos. Pergunte se eu joguei.

outubro 21, 2004

Arte Filosofal

Como assim "este era o objetivo"? Quem disse que a arte tem objetivo específico? Cada um entende como a sensibilidade permite. Se eu levei para o lado racional, também não estou errada. Quem disse que o conjunto é irrelevante? Não basta tocar, tem que convencer. E não me convenceu.

outubro 20, 2004

Beije-me!
Quantos beijos você quer?
Hmm... Todos.
Olha que eles são infinitos.
O que importa, se temos todo o tempo do mundo?

outubro 14, 2004

O Cinema Brasileiro

O cinema é cultura. O cinema é arte. O cinema também é filosofia. As sensações cinematográficas podem ser comparadas às sensações literárias e é justamente por isso que vivo repetindo que, assim como acontece quando lemos um livro, jamais terminamos de ver um filme sem um mero grau de transformação. O cinema transforma.

Hoje, quando pensamos em cinema nacional, já estamos, automaticamente (por questão de cultura ou de maturidade social), nos distanciando do tabu que este assunto nos remete. Sim, o nosso cinema possui novas caras e arranca novas sensações. Não penso que isto ocorra em função da queda do favoritismo norte-americano e nem mesmo por uma epidemia patriótica que se infiltrou nos brasileiros de última hora. A questão é muito mais positiva do que se pensa. O conceito de qualidade está mudando. E mais: não só o conceito de qualidade estética, mas, sobretudo, intelectual.

É óbvio que o nosso humilde cinema não transcende as superproduções dos filhos de Bush. Não cabe aqui tirar-lhes este mérito. Mas as pessoas estão cada vez mais buscando o cinema-cabeça. Aquele que toca, que arrepia, que faz chorar e refletir. É este o ângulo que os nossos cineastas têm buscado e alcançado com êxito, seja no contexto documentário, como foi com Carandiru e recentemente com Olga, ou no contexto filosófico-reflexivo, como está sendo com A Dona da História.

Este último, ainda traz o conceito da arte gerada pela arte, a concepção (em seu verdadeiro sentido), de uma nova tendência: o cinema brotado do teatro, técnica feliz e bem sucedida, experimentada pela segunda vez por Daniel Filho. Não há investimentos de grandes proporções, mas há um refinamento na escolha do elenco e na adaptação do roteiro. O expectador se encontra, se identifica, reflete. E tudo isso acontece sem a necessidade de gastos milionários. O resultado pode ser visto nas estatísticas das bilheterias. As pessoas estão indo mais ao cinema, as crianças, assim como acontecia no passado antes das atuais tecnologias, estão pegando gosto pela sétima arte.

Naturalmente, ocorre o incentivo a talentos desconhecidos ou reprimidos e desperta-se a atenção das autoridades governamentais para esta nova fonte de lucro financeiro e intelectual que se revela o Cinema Brasileiro. Há lazer mais lucrativo do que apreciar a sétima arte?

outubro 13, 2004

Fale aí

Por acaso, o filho quer saber se a mãe está cansada quando deseja seu peito desesperadamente? Não. Assim também é a minha ansiedade por não postar nada aqui desde o dia 27 de setembro. Resolvi então dar um drible no tempo de que (sério), não disponho, e mandar um sinal de vida do meu planeta conturbado. Eu poderia falar do Dia das Crianças, do Programa da Xuxa, da correria que foi com o Vitinho no Shopping e no Paique Piigoso. Poderia falar ainda do Dia da Padroeira do Brasil e da vela que queima lá em casa em sua homenagem. Poderia falar também da minha vida profissional que não está muito diferente da vida pessoal. Aliás, que vida pessoal? Ah, sim! Eu esqueci que as minhas vidas são, na verdade, uma só. Simples, não? Tenho vontade também de falar do filme que vi na sexta com meus amigos, mas este ficará para um outro post. Só uma sugestão: não encare isso como promessa, okay? Se eu ousasse falar da minha não-ida a Curitiba, programada dois meses antes do feriadão, combinadíssima com uns amigos super que me acompanhariam, a graça que já não existe se perderia de vez. Para segurar a graça, só se eu falasse do show que pretendo ir no próximo final de semana. Como corro o risco de não ir, melhor não falar mesmo. Bom, disse que o tempo era curto, certo? Então, posso falar que passei aqui só pra dar um Oi!. Pronto, falei.

setembro 27, 2004

Escrevendo no Escuro

Perguntaram-me se eu gostei do filme. Como assim, se eu gostei do filme? Simplesmente amei o filme. Uma produção tocante, como poquíssimas que vemos por aí. Comentaram, então, que eu tinha o coração de pedra porque não estava chorando. Ah, sim, lembrei-me que determinadas utopias emocionam e, naquele momento, por ser convencional, eu deveria estar chorando. Mas não estava. Talvez, eu realmente devesse já que, de certa forma, era oportuno. Eu tinha motivos, mas não tinha forças. Sequer optei por comentar o filme - não estava muito racional naquele dia.

Agora, passadas algumas horas, entendo que sim, o filme era mesmo utópico. Personagens bem estruturados, enredo convincente e atuações excepcionais. Era um musical. O bem e o mal eram abordados de forma ambígua e a mocinha não foi polpada como normalmente acontece. A mocinha, uma "pessoa humana", com o perdão do pleonasmo tão bem apropriado nesta ocasião, era o verdadeiro exemplo de bondade. Sua alma era pura. Suas atitudes eram impecáveis, virgens do mal. Era o protótipo mais apropriado que já vi de mãe - o modelo ideal de ser humano. Selma era o tipo de pessoa que, se você se deparasse com ela na rua ou no supermercado, certamente ficaria envergonhado. É o tipo de amiga que não executa um mínimo esforço para ensinar grandes lições. A sua essência se permite isso facilmente. Tenho certeza de que Selma seria o tipo de filha exemplar, assim como gostaria que seu filho fosse. Até mesmo suas mentiras eram perdoáveis, mediante a causa que a fazia mentir. Sua ingenuidade não causava graça, mas sim admiração. Não comovia, emocionava.

Este é o tipo de filme que lhe deixa com vergonha das suas atitudes. Impossível não remeter-se à mesquinhez humana. Inevitável não revoltar-se contra a sociedade travestida de Deus. Uma gota de angústia adentra em você com tamanha intensidade que, quando percebe, já está alojada lá no fundo do seu coração. A vontade é de chorar sim. De sair correndo e entrar no primeiro templo que aparecer. De se redimir, de lamentar, de refletir, de questionar. E o pior: sem encontrar respostas. Porque a intolerância não admite justificativas plausíveis. E o mundo é isso o que vemos: fracos versus fortes. Caminhamos distante do mundo ideal, em que a felicidade é cultivada coletivamente e de forma recíproca. Ninguém percebe que não se é feliz em conseqüência de tristezas. E que não se consegue o sucesso em conseqüência do fracasso alheio.

O filme é Dancer in the Dark, de Lars Von Trier. Estas palavras estão sendo escritas no escuro, para que continuem sendo verdadeiras. Porque, às vezes, lê-se melhor no escuro, com mais nitidez. As idéias ficam mais claras.

setembro 22, 2004

Flores

(Fred Martins/Marcelo Diniz)
Flores para quando tu chegares
Flores para quando tu chorares
Uma dinâmica botânica de cores
Para tu dispores pela casa
Pelos cômodos, na cômoda do quarto
Uma banheira repleta de flores
Pela estrada, pela rua, na calçada flores num jardim
Pétalas ao vento para tu contares
Flores para compores
Metáforas antes de comê-las
Pelos cômodos, na cômoda do quarto
Uma banheira repleta de flores
Pela estrada, pela rua, na calçada
Flores para mim
Flores pros meus braços
Ofertá-las para parabenizar-te
Flores, quantas flores forem necessárias
Pra perguntares pra que tantas flores...

setembro 13, 2004

"Você é o amigo impecável a quem eu respondia que tudo ia mal, que tudo se tornara opaco. Enquanto os demais se calavam ou riam de mim, afastavam-se, deixavam de telefonar, você permaneceu firme no seu afeto por mim, dividindo comigo o estranho segredo de uma relação que cada um condenava -- inclusive você -- mesmo continuando a receber as informações berrantes. Foi mais do que uma presença, algo que permitiu estabelecer a ponte entre as minhas palavras e o indizível, entre a minha loucura e o resto do mundo que estava ali, a me olhar... Vivo, respiro, você está ao meu lado neste infinito de neve. Como lhe exprimir isso? Um dia, escreverei para você, para que saiba o quanto nada é inútil... Que os corredores escondidos onde se passam os amores e se estreitam as amizades levam necessariamente à luz, a fim de que cada um possa reconhecer a elegância dos que souberam, em silêncio, escutar."

em O Próximo Amor, de Yves Simon

setembro 08, 2004

Declaração de Amizade

Hoje, acordei com vontade de falar dos meus amigos. Bem, é claro. Tão bem como eu falaria deste churro que como agora. Não pretendo palavras de gentileza. Se assim for, será mera coincidência. Também não pretendo palavras duras. Às vezes, elas acabam saindo, mas eu sei e meus amigos também sabem, que não merecem isso e que, muitas vezes, são apenas palavras e não intenções.

Não é dia do amigo e também não perdi nenhum. Estão todos aqui comigo, em algum lugar do meu coração. Meu coração não é tão grande assim. Gostaria que fosse, mas não é. Acho que é a parte do meu corpo que menos gosto - meu coração. Questão de tempo, creio eu. Com o tempo, a afinidade se cria e, então, poderei dizer que sou muito mais bondosa do que me permito aparentar. Mas meus amigos nos entendem – a mim e ao meu coração. E este é um dos motivos que me levam a escrever sobre eles. Para eles.

A amizade é um sentimento tão complexo quanto o amor. E lindo também. Vai entender porque você olha para aquela pessoa e, de repente, a mágoa dela passa a ser a sua. A alegria, idem. Se ela está bem, você está. Vai entender porque essa mesma pessoa é a primeira que você pensa quando algo incrivelmente bom lhe acontece. E no contrário também, quando algo terrível passa pela sua vida. Vai entender, ainda, porque você, às vezes, uma pessoa tão metódica, tão centrada, tão limitada, se permite transgredir ao lado de uma pessoa que não lhe exige esforço nenhum para isso – apenas está lá, ao seu lado.

E os amigos propriamente ditos? Como entender as suas origens, o início de todas aquelas sensações boas e ruins? Tem aquele que cresceu com você e conhece um lado seu que aquele outro, que estudou contigo durante quatro anos, desconhece. Ou aquele que você conheceu num show e, por uma paixão em comum, tornaram-se companheiros de muitas experiências. Tem também aquele que era amigo do amigo do seu amigo e você jamais se imaginou ligando para ele numa hora daquelas da madrugada, só para trocar confidências.

O tempo passa, você pode estar na deprê que for, mas sempre aparecerá alguém na sua vida. Não importa se for ali na esquina ou aqui pertinho, no Orkut. E toda vez que um estremecimento romper a base da sua amizade, você vai ficar mal porque todas as pessoas que passam pela sua vida são importantes para você. Todas elas lhe acrescentam um aprendizado, lhe oferecem uma novidade. E você sempre precisará delas e sempre vai encontrar um pedacinho de você nelas. Porque são os nossos amigos os grandes personagens da nossa história. E escritores dela, em parceria com nós mesmos. São peças chaves na nossa vida. São diamantes que precisam ser lapidados, cada um ao seu tempo.

Aos meus amigos, a todos eles, os que conheço na prática ou na teoria, ou nos dois, o meu enorme abraço. A minha declaração de amizade eterna, enquanto durar.

agosto 30, 2004

Eu me transformo em outras

Muitas vezes, acabo pagando um preço alto por não ser boa observadora. Mas percebo também que, quando observo demais, o desconto não é nada merecedor de algum reparo. É triste, muito triste, você ver um grande ícone da mídia brasileira se mostrar só um pouquinho nada convencional, para as pessoas caírem matando. E olha que eu nem falo da massa crítica profissional. Falo dos verdadeiros críticos mesmo, o povo. Aquele mesmo povo que surpreende quando mostra uma opinião produtivamente formada e que também surpreende, com impacto não menos intenso, quando decide não processar o raciocínio de forma construtiva para denegrir a imagem de alguém. Se é que se pode denegrir a imagem de alguém construtivamente.

Ao sair do show “Eu me transformo em outras” da Zélia Duncan, neste último sábado, o burburinho que se ouvia parecia coletivo. A maioria das pessoas não tinha gostado do show. Se a maioria das pessoas não tivesse gostado do show porque não houve muito investimento na produção ou porque o show atrasou um pouco ou, ainda, porque a cantora não interagiu muito com o público, vá lá. Mas, não. A maioria não curtiu o show por causa do estilo das músicas cantadas e pelo fato de não ter havido espaço para os “Clássicos da Zélia Duncan”.

Posso tecer aí algumas teorias: grande parte das pessoas foi ao show sem conhecer o projeto “Eu me transformo em outras” e acabou se surpreendendo com o que ouviu. Se isso é verdade, posso dizer também que a falta de investimento de material publicitário também teve sua parcela de culpa, logo, esta grande parte das pessoas não é e não pode ser tão ferozmente criticada neste texto. Uma outra possibilidade pode ser o fato de que todas essas pessoas tenham ido ao show porque não tinham nada melhor para a noite de sábado. Está bem, essa possibilidade é bastante razoável. Mas a possibilidade que mais faz sentido em todo este processo crítico é que, infelizmente, a massa social apreciadora de música está corrompida. E digo isso com grande pesar, pois se incluem nesta categoria até mesmo a parte desta massa que aprecia a boa música. Na verdade, não só a boa música, mas também os bons cantores.

Sim, diga aí o que está pensando neste momento. Deixe-me ajudá-lo: “mas que menininha petulante, que não se digna a, sequer, respeitar o gosto alheio. Vem aí, com esse textinho moralista e não tem capacidade de perceber que está se manchando com o próprio veneno. Menininha prepotente, essa!”

Era justamente isso o que se passava pela sua cabeça, né? Pode falar, eu não ligo. Você pode até não acreditar, mas a minha inflexibilidade está bastante controlada. Explico: pode sim ser questão de gosto. Aliás, seria estranho se não fosse, porque eu não iria ao show de um artista que não estimo. Não mesmo. E não me venha dizer também que sou uma tiete simplista e sem noção. Tudo isso faz parte de uma teoria que costumo adotar: não comente sobre aquilo que você não possui um mínimo de conhecimento. E, quando eu digo que gosto de música, eu simplesmente gosto. E tenho a mania de estudar aquilo que gosto, à minha maneira. Para mim, a atitude das pessoas que criticaram o show foi uma atitude superficial, sem conhecimento de causa. Falar por falar, apenas para gerar uma opinião, entende? Eu, particularmente, prefiro ser taxada de “sem opinião” do que de “superficial”.

Se você aí gosta de música, de boa música, se não tem preconceito contra os clássicos e se amarra ver o clássico sendo abordado por um contemporâneo, não perca o show de Zélia. Escute o CD e aprecie. Boa música faz bem à alma. Já a superficialidade, esta me transforma em outra pessoa. Nada agradável, lhes garanto.

agosto 23, 2004

Transgredir de verdade é a solução

O meio artístico está cheio de figuras marcadas por uma personalidade forte e por altas dosagens de transgressão. Diante de termos como este, imaginamos um filhinho de papai armando a maior baderna na televisão e influenciando milhares de jovens Brasil afora. Vá lá, não é mentira. Mas é bem verdade também que toda época tem os seus ícones conturbados. Abra uma revista qualquer ou ligue a televisão e você encontrará inúmeras Britneys Spears causando no meio musical, milhares de Dados Dolabellas no meio artístico e intermináveis Fernandas Yongs no meio literário.

Certo, podemos tirar boas perspectivas de tudo isso, afinal, toda época é brindada com tipos que vão contra a corrente. Falo dos famosos transgressores. E, nesse mundo aonde ninguém é de ninguém e todo mundo é igual mas é diferente, transgressor é o adjetivo que a maior parte da nossa classe artística quer carregar a tiracolo. E a problemática disso tudo - sim, porque existe uma problemática -, fica em torno do significado das coisas. Ser transgressor é, antes de tudo, uma responsabilidade. Uma grande responsabilidade. Não é aparecer na mídia e utilizar-se do seu poder para subverter os fracos e oprimidos.

Ser transgressor não é ditar moda. Fazer uma tatuagem ou colocar um piercing no nariz. Tatuagens ou piercings não expoem causas. Transgredir é ir contra, construtivamente. É oferecer uma ideologia. É abrir os olhos da sociedade. Falo do bom transgressor, daquele que faz e que fica.

Transgressores hoje são confundidos com rebeldes sem causa. Muito diferente dos transgressores de ontem. O indivíduo vai, escreve um bilhete de cunho preconceituoso contra todos os nordestinos que vivem na Selva de Pedra, entrega nas mãos de um pobre coitado e pronto. Acha que sua revolução está travada. Este, senhoras e senhores, é um falso revolucionário. Diferente dos jovens que lutaram contra a ditadura na Era Vargas. Diferente dos jovens que passaram suas mensagens por meio da música e foram censurados. Diferentes de espíritos como o meu, como o seu, que me lê agora.

Quando eu falo que a juventude brasileira está corrompida, não minto. Mas também não minto quando penso que ainda há esperanças. Que ainda há boas músicas, bons livros e bons justiceiros. Façamos das nossas crenças a nossa voz, o nosso grito. Vamos compartilhar a nossa sensatez e destruir a hipocrisia. Vamos fazer arte na cabeça dos nossos jovens. Vamos combater os falsos moralistas. Quem se habilita?

agosto 16, 2004

Por que as pessoas vão ao cinema?

Pelo mesmo motivo que as impulsionam a ouvir uma música, você pode dizer.

Por ser um hobby tecnicamente construtivo, capaz de abstrair as futilidades da vida ou de transformá-las, dependendo do ponto de vista.

As pessoas também podem ir ao cinema para se ver sozinhas. Para fugir do mundo que as cerca. Ou para fugir de algumas pessoas. Ou ainda, para fugir com uma pessoa. Uma só.

Para sonhar, sem se importar com a realização. Fechar os olhos e se imaginar caminhando num belo campo coberto de flores silvestres, livres de pensamentos ruins, das maldades que nos cercam, dos espíritos corrompidos. Ou nuas, numa cama forrada com lençóis brancos, acompanhadas pela Nicole Kidman ou pelo Gael Garcia Bernal.

Talvez as pessoas entram na sala escura e sentam-se em frente à grande tela com a intenção única de se transformar. E ninguém termina de ver um filme sem um mero grau de transformação.

Respostas. As pessoas também podem ir ao cinema em busca de respostas. Significados. Justificativas. Elas desejam compreender o amor, explorar o amor, absorver a visão dos cineastas. Compreender a guerra também é outra possibilidade. Talvez as pessoas queiram encontrar culpados. Ou se descobrir culpadas. Existem boas almas que se preocupam com isso.

Projeções. Sim, o cinema também permite ao indivíduo projetar a sua vida. Desenvolver um objetivo. Oferece um ponto de partida, um apoio para o primeiro passo.

O principal motivo que leva as pessoas ao cinema é o auto-conhecimento. O estado de meditação a que recorrem entre uma cena e outra. Entre uma pipoca e outra. A reflexão de um sorriso inesperado, de um comentário baixinho entre o casal do lado. De analisar uma história para poder comentá-la depois. Para recomendar a uma pessoa querida.

As pessoas vão ao cinema porque o cinema é arte. Para quem faz e para quem aprecia. Porque, ao contrário do medo social, a juventude não está corrompida por completo. O cinema salva, assim como a música. Assim como os livros.

agosto 12, 2004

Hein?

A soma dos preconceitos é igual ao quadrado da ignorância multiplicado pela hipocrisia da sociedade. Seria o preconceito uma questão de cultura? Ou será que seria apenas uma complicada questão de educação de berço? Ou, ainda, um distúrbio psicológico, daqueles que nem Freud explica? Hein??

agosto 03, 2004

Criticando a Crítica

Em épocas como a nossa, com toda uma expansão tecnológica, uma diversidade cultural cada vez mais em evidência, com uma forma de pensamento muito diferenciada do convencional, do clássico, do politicamente correto, surgem conceitos no mínimo interessantes sobre a forma de se ver a vida e, sobretudo, sobre a forma do gostar e não gostar, do aceitar e não aceitar, do querer e do não querer, do ser e do não ser.

As pessoas tornam-se críticas umas das outras sem ao menos entenderem o verdadeiro significado de ser crítico. Mas isso é bom? Não, senhoras e senhores. Definitivamente, não é. Hoje em dia, fala-se muito e desconhece-se este muito de que se fala. Não existe relação entre a crítica e o assunto criticado e, por mais que esta minha idéia se designe a uma visão unilateral, insisto em dizer que não é.

O que é muito comum hoje em dia é ver a crítica tecida afastar o crítico do assunto principal e aproximá-lo da sua essência. Conseqüentemente, descobrimos uma sociedade fútil, superficial. Vivemos num mundo de plástico. E se você não está captando esta minha mensagem, tenho algumas dicas que facilitará a sua compreensão: acesse alguma comunidade do tão falado Orkut, dê uma navegada em alguns muitos blogues por aí, leia aqueles e-mails que circulam por nossas caixas-postais em formato de correntes, ouça um pouco a conversa do fulano de trás no coletivo, assista um capítulo de uma novela qualquer.

Não adianta, não há como fugir. Críticas superficiais já fazem parte da nossa cultura e caminhamos cada vez mais para dentro dessa cultura imprópria. Estamos nos afogando em detalhes sórdidos. Alguém precisa resgatar certos valores, certos comportamentos. Aceitar o novo, mas não ignorar o velho, manja? Aprender com o velho. Aprimorar o velho. Precisamos colocar propriedade em nossos argumentos. Precisamos merecer ser ouvidos. Senão, os nossos gritos serão em vão. A nossa juventude não vai ficar como ficou as juventudes passadas. Não seremos lembrados por bons motivos, por grandes feitos. Precisamos intelectualizar os nossos jovens. Alguém aí me ouve? Façam eco deste meu lamento.

julho 27, 2004

Jaburu neles

Extra! Extra! Extra! Dizem as boas línguas que o Marcelino reinstituiu o PRÊMIO JABURU DE PROSA E POESIA!

Quer fazer um bem para o meio literário? Quer mesmo? Então, clique bem aqui e não faça cerimônias para indicar a pior obra literária que você leu nos últimos tempos.

Não tenha dó. Indique o nome da obra e seu criador que os leitores encarecidamente agradecem.


Li-te-ra-tu-ra

Literatura. Literatura. Literatura. Há assunto mais envolvente que Literatura? É pauta em todas as rodas de amigos, em sala de aula, nas boates, na fila do banco, em tudo. Ah, você duvida? Tudo é literatura, my darling. Tudinhô. Você abriu a boca, pronto: virou história.

Música é literatura. Sim, sim, literatura em movimento, é verdade. Mas é literatura sim. Pensamento também é e, se não foi escrito ou mencionado, é literatura não revelada. Mas é.

Tudo nessa vida tem um desfecho. Tudo tem começo. Tá bom, eu confesso, nem tudo tem um fim. Mas eu não ia dizer isso. Sério! A literatura, monsenhor, está aonde você quer que ela esteja. Pode ser aí ao seu lado ou aqui, na minha mente perturbada. Ela não larga do nosso pé e isso não tem nada a ver com gostar ou não de ler. Se você esquece dela, ela lembra de você. E pronto.

É um ciclo. Vicioso não. A literatura é um ciclo virtuoso.

julho 23, 2004

Terráqueos com a cabeça em... Marte

Muito prazer, Guaíba!

No elevador panorâmico...

- Você já foi apresentado ao Guaíba? - perguntou a moça que o recepcionava.
Zé, que além de bom profissional era educado na presença de desconhecidos, dirigiu-se ao ascensorista do elevador:
- Muito prazer, José!
A moça, que também era muito educada, mas não contendo a risada explicou:
- Ah, sim, este é o Sr. João. E à sua frente, temos o Rio Guaíba.

***

Viciada em literatura

Julio liga para Isabela...

- Oi, Isa, tudo bem?
- Tudo. O que manda?
- Meu, aqui está uma correria. Os alunos estão organizando a participação nos jogos universitários e estão atrás de patrocínio. Sabe quem irá patrociná-los?
- Não faço idéia...
- Daslu.
- Caraca, que legal!
- Sabe quem é, né?
- Ai, claro que sei. Daslu - grande poeta!

***

Ingenuidade estantil

Marcelo e suas amigas combinando um cineminha...

- E então, pessoal, já decidiram qual filme veremos?
- Ah, eu só vou ao cinema pra pagar meia.
- Se for assim, não contem comigo!
- Por quê?
- Que isso! Ir ao cinema, assistir meio filme e ir embora!? Ah, não...

***

Balde de água fria

Numa mesa de bar...

- Nossa, já são oito horas. Preciso ir. Meu chuveiro queimou e preciso providenciar um urgentemente.
- Relaxa, fica mais. Sabe o que você pode fazer?
- O quê?
- Pega o seu carro, vai no posto da rua de cima e enche o tanque. Eles estão com uma promoção assim: "Encha o tanque e ganhe uma ducha!"

julho 20, 2004

Seção Publicidade

1. Quase amiga de Clarah Averbuck

Eis parte da dedicatória que Clarah deixou no meu "Vida de Gato", no lançamento oficial, ontem, na Fun House. Muito simpática e descontraída, ela recebeu amigos e amigos dos seus amigos, para uma noite de autógrafos e muita cerveja, vinho e afins. E, quem compareceu, também teve a oportunidade de ver a performance de Catarina, a Pequena que revelou-se, transformando-se em Catarina, a Pequena Dançante.

"Vida de Gato" é o terceiro livro de Clarah Averbuck, publicado pela Editora Planeta. Foi gerado em cerca de três meses, ainda na época em que o falecido Brazileira!Preta fazia acontecer na blogsfera. Logo no começo da obra, você já adentra no universo teen conturbado e contra-indicado em caso de preconceitos vários que você possa vir a ter contra jovens-mães-escritoras-tatuadas.

Em seu "Vida de Gato", Clarah Averbuck atesta mais uma vez que estilo e personalidade também são fatores cruciais para uma boa literatura e, sobretudo, para a descoberta da nova literatura. Clarah é, atualmente, a escritora que mais atinge o público jovem no Brasil e, conseqüentemente, o arrasta para o universo literário, coisa que seus piores críticos não conseguem enxergar. Ou não querem enxergar, amparados por um tradicionalismo idiota. Não. Você me entenderá mal apenas se quiser. Não estou renegando os clássicos. Viva os clássicos! Viva os contemporâneos!

Quer entender tudo isso que eu disse aí em cima? Leia Clarah Averbuck.

2. Paralelo de Luiz Esposto

Sim, ele mesmo. O cara que mais pisou no meu pé na faculdade. O cara que me tirava do sério quando ousava interromper as minhas prosas em sala de aula. O cara responsável por um dos momentos mais engraçados na Uniabc, quando confundiu insulfilme com tarde de temporal. O cara que quase me convenceu a ser professora de verdade (e que, inconscientemente, continua tentando). O cara que tem a paixão como educação e educação como paixão.

Luis Esposto resolveu compartilhar com a gente suas experiências e expectativas na área educacional, vividas dentro e fora da sala de aula. Decidiu compartilhar teorias, suas ou não, e seu intelectualismo refinado. Tenho o orgulho de lhes apresentar o Paralelo. Espero que gostem!

julho 19, 2004

Os filhos da gota

Corre, moleque! Olha lá, tem lugar na janela. Cuidado com a moça, ô filho da gota serena!

Ai, não abre. Está tudo emperrado.

Se fizer barulho, desce todo mundo. Tô avisando!

Podexá, ô fio do chico! O motô tá estressado, tá vendo?

Noooossa, tô até vendo minha mãe quando eu chegar em casa: "Aonde você estava até agora, Derrota?" "Mas é um desgraçado, um fio da moléstia mesmo!"

Caramba, você fala igualzinho. E meu pai? Vai querer me arrancar o couro...

Nem sei aonde eu vou dormir. A v... da minha irmã já deve ter pegado minha cama. Se eu não tô lá na hora de dormir, já era.

Mas também, ô gota serena, você tem um monte de irmão!

Eu tenho SEIS irmãs!

Vixi, a mãe dele é uma parideira!

Fica quieto aí, ô mané. Você não sabe de nada. Meu pai tem duas mulheres, né?

E mora com as duas??

Daarrrd!! Claro que não, só com minha mãe.

Olha a batida! Caramba, como é que o carro foi parar daquele lado?

Olha ali o bombeiro!

Ai, mas é um burro mesmo. Como o carro foi parar daquele lado? Com a mão, né, estrupício!

Ah, sim, com a mão. Mas como tu é burro, moleque!

Se continuar o barulho, desce todo mundo. Tô avisando!

Cala a boca aí, ô Derrota!

Ei, vamos descer em Diadema?

Pra quê?

Xiii, a menininha tá morrendo de medo.

Vamos aí. Dá o sinal!

- Valeu, motô!
- Tchau, fio do chico!
- Valeu, ô filho da gota!

julho 13, 2004

O encontro marcado

Melancolia. Deve ser porque acabei de ler mais um livro. Talvez o melhor que tenha lido até hoje. Aquele que condiz com as incertezas humanas, que oferece familiaridade com nossos conflitos, que aplica justificativas para o que você queira justificar. Devo estar sendo exagerada como sempre, mas talvez a história de Eduardo Marciano seja a minha biografia, a sua e a desse infeliz aí do seu lado.

O livro partiu das melhores indicações que eu poderia receber - Olá, tudo bem? Conheci você por meio do fulano de tal, do blogue tal, do texto tal. Parabéns! - geralmente, minhas palavras são bem mais entusiastas, mais sensíveis e geram um efeito muito mais verdadeiro, como de fato o é pra ser. E o retorno também é produzido por efeito semelhante. Às vezes, nem pelas minhas palavras, mas por ele mesmo, o sobrenome - Oi, Juliana! Obrigada pelas palavras et cetera e tal. Marciano é o nome do personagem que mais gosto do Sabino. Você já o leu? Se ainda não, vale a pena.

Marciano. Eduardo Marciano. Dúvida-procura-busca-encontro. O encontro Marcado. Até a quinta recomendação eu ainda não havia lido, mesmo tendo decidido ler na primeira, aliás, recomendação gerada por uma paixão. Fazia tempo que não via alguém tão empolgada com um escritor. E se é em Fernando Sabino que Cecília busca suas influências, puta que pariu, por que esperei tanto tempo?

Pensando bem, melancolia não é exatamente o que sinto agora. Sinto-me surpresa. Um escavador que encontra um grande tesouro. Que não sabe ao certo o que fará com ele. Talvez observá-lo por algum tempo. Apenas observá-lo. Depois, compartilhá-lo. Em vão. Não há como compartilhá-lo, mas é possível mostrar o caminho para a descoberta desse tesouro que está sob os pés de todos nós. Não adianta, tem que ser uma descoberta individual e nada do que eu pense ou diga fará sentido. Vá fundo. Então, eis a chave, mas com uma condição: conte-me tim tim por tim tim da sua escavação. Cuide dela com carinho!

julho 12, 2004

Uh, cadê, a Juliana sumiu!

Não, pessoal, não sumi não. Ainda não! O Proseando continua. Tem que continuar, com o ritmo que satisfaça a todo mundo, claro. A questão é que a proseadora aqui está meio sem ritmo. Mas continuo observando a vida por aí, nos coletivos, nos shows, bares e nos mundos protegidos pelas páginas de bons livros. Tem um montão de coisas às quais gostaria de comentar: novas amizades, novas trilhas sonoroas, novas cabeçadas, enfim, aguardem! Uma hora, essa minha inconstância deixa de ser uma constante. Amanhã, quem sabe?

Beijo grande,

Ju

julho 01, 2004

Incenso Fosse Música
(Paulo Leminsk)

isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além

junho 28, 2004

A Revolução da Comunicação

Mas que coisa! Quando você acha que entende tudo de Internet, que está super antenado com as últimas novidades virtuais, que o homem já superou toda sua capacidade de criação, que não, você não vive mais no passado, pronto! Bastam algumas horas para a novidade deixar de ser novidade.

Até pouco tempo atrás, você cansava de escrever folhas e mais folhas à caneta esferográfica, anexava a um envelope, selava, colocava no correio e aguardava alguns bons dias para chegar ao destino e gerar uma resposta. Então, inventaram o e-mail. Bastam alguns cliques e a mensagem chega ao destinatário em questão de segundos. E com recursos pra lá de sofisticados: se quiser, pode mandar a mesma mensagem para uma leva de destinatários num mesmo clique; pode também mandar algo confidencial a um, com o outro no campo oculto, sem medo ou receio de quebrar o sigilo entre um e outro; pode, ainda, requerer a certeza de recebimento ou leitura da mensagem. Tudo isso, sem a necessidade de comprar envelopes e selos, escrever a carta, ir até o correio para postá-la e ainda esperar pela resposta por, no mínimo, uma semana.

Mas eis que surgem as facilidades do dia-a-dia. Hoje, qual alma não possui um endereço eletrônico? Explorando ainda mais a capacidade humana e firmando a revolução tecnológica que, sabe-se lá se algum dia terminará (espero que não!), o e-mail deixou de ser novidade, cedendo espaço ao chat. Mensagens espontâneas trocadas entre duas ou mais pessoas, a amplitude de tudo quanto é tipo de relacionamento, tudo simultaneamente, subestimando limites e expandindo cada vez mais o mercado virtual e abrindo novas possibilidades. Das salas de bate-papo ao ambiente familiar do MSN ou do ICQ. Novamente, a Internet provando que nem mesmo o universo (virtual) é o limite.

Você dorme, acorda e, de repente, e-mail, MSN, ICQ, tudo o que fora criado, revelam-se simples acessórios. Ferramentas que são partes de algo que ainda não satisfez os limites humanos. Passam a ser simples adequações à vida das pessoas, ao trabalho, à escola, ao meio social. São peças necessárias e indispensáveis a qualquer atividade. Você se vê entrosado e nem cogita a possibilidade do "algo mais". Tudo bem se parou por aí.

Mas não, a coisa não pára. Surge então, uma outra forma de comunicação – o blogue. Sites pessoais, aonde é possível encontrar informação de qualquer gênero, sobretudo, o literário. Um local para divulgação de trabalhos, pensamentos e, inclusive, um espaço para formação de ciclos de amizades. Milhares e milhares de pessoas conectadas a mais esta novidade. Novas adequações e horizontes ampliados.

Quando pensei que já tivesse visto o suficiente, pimba! Surge algo extremamente inovador, extravagante e, aparentemente, insuperável - o Orkut – uma comunidade dentro de muitas outras comunidades - um lugar aonde os relacionamentos são, propriamente ditos, como ciclos. Você entra, convidado por alguém, e, por mais que duvide, vai acabar encontrando um fulano que não vê há anos, com quem estudou algum dia, teve uma affair ou qualquer coisa parecida. De comunidade em comunidade, você percebe que a solidão não passa de um substantivo prepotente que alguém lá atrás inventou e que o mundo é muito, mas muito menor do que você algum dia chegou a imaginar.

Então, inevitavelmente, você vai olhar pra trás e perceber que, quando descobre a novidade, ela já é antiga. Vai descobrir que a cada piscar de olhos tem alguém que pisca mais rápido que você e que, enquanto a gente pensa que o homem ainda está pensando em criar seres robóticos, um outro homem feito do mesmo material que você e, provavelmente, nascido na mesma década que você, já está séculos à sua frente. E, como num despertar religioso, vai descobrir, ainda, que de tudo você pode duvidar, mas nunca da capacidade de criação da mente humana.

Nesse desenvolvimento todo, você se encontrará obrigado (será questão de sobrevivência) a mudar o seu conceito sobre a solidão. Somente estará sozinho aquele que renegar os avanços tecnológicos – a revolução da comunicação.

Não vejo nenhum solitário daqui do outro lado da tela.

junho 25, 2004

The garden and me

Tudo ao seu redor girava como um carrossel. Na sua mente, os pensamentos subiam e desciam, mas não eram delicados e engraçadinhos como os cavalinhos que não sabem relinchar. Eram sim impertinentes e chatos como aquelas crianças que não respeitam o término da brincadeira, que não entendem o olhar de cansaço do pai por não agüentar ficar ali nem mais um ninuto vendo aquele negócio girar e girar e girar e girar.

Era o início de mais um dia e nem sequer havia a possibilidade de dar um "atualizar" e fazer a coisa ficar mais comportada, assim como página na internet que estaciona e fica cheia de "xis" e sem imagem nenhuma, carregada pela metade. Não tinha como.

Não tinha saída. O afastamento da normalidade não era incômodo. O trabalho nas mãos dos outros, fluindo sabe-se lá como também não era problema. Estavam lhe proporcionando uma lavagem cerebral, com a espuma que ela mesma disponibilizara. E ninguém perguntou se aquele banho realmente a deixaria limpa. Mas estava lá, novamente sentada no banco do jardim. Sozinha. As mãos apoiando a cabeça sobre as pernas e os olhos cobertos de lágrimas. Estática. Um corpo sem ação. Os sentidos dominados por estranhos. E as lágrimas escorrendo pelo rosto ininterruptamente. Sem qualquer controle. Uma a uma. Gota por gota.

Alguém não identificado chega ao seu lado. De branco, mas não era um anjo. Pega em seu braço sem dizer nada e a conduz para longe do jardim. O único gesto que faz, para o qual entende a finalidade, é passar a mão no rosto, enxugando as lágrimas. No mais, se deixa ser guiada pela criatura de branco. O destino ela já descobrira - o quarto. Aquele lugar morto, vazio, frio. Uma cama, uma mesa redonda com uma cadeira e um armário sem gavetas. Só. Nenhum objeto como companhia. Um comprimido como alimento e pronto. Acordaria no dia seguinte e veria o trajeto do dia repetir-se novamente: os mesmos donos da verdade, os mesmos comprimidos, a cabeça girando e o jardim. O único que a compreendia de fato, que não dizia que ela estava errada e que não a incomodava. Belo - o jardim das mais belas flores do mundo.

junho 21, 2004

Mudando

Olho para um lado e... caixas. Olho pra outro e... caixas. Dou um passo e... mais caixas. Tudo encaixotado, tudo perdido em meio à bagunça. Guardados que não se acham. Coisas que encontrarei somente quando não estiver procurando. Sim, mudança é o caos concretizado.

Por um momento, pensei que mudaria apenas de casa. Que ingenuidade a minha. A gente muda de casa e muda de caminho e muda de hábito e muda de opinião. Quando cai em si, você já não é mais a mesma pessoa. Está mudada. No coração, um sentimento estranho. O que é? Não sei. Eu gosto de ter respostas para tudo, mas não tenho medo de dizer que não sei. Talvez seja medo, talvez seja receio, o sexto sentido querendo se manifestar, me prevenir para alguma coisa, falar do retorno àquele lugar onde vivi grande parte da minha vida. Lugar onde cresci, fiz amigos, mantive amigos, escrevi histórias com eles. Talvez sejam apenas sintomas de mudanças. Talvez isso seja a normalidade com que não estou acostumada. Talvez seja eu crescendo ou simplesmente, sendo eu mesma.

Assim como eu, aquele lugar também mudou. Não encontro mais todos os meus amigos. Meus vizinhos não são mais os mesmos. O cachorro que furava as minhas bolas não está mais lá. O terreno enorme que tinha em frente a casa transformou-se num belo sobrado. As menininhas que brincavam de boneca no quintal agora caminham de mãos dadas, com os mesmos menininhos que jogavam futebol na rua. Nem mesmo a festa junina que ocorria todos os anos é a mesma. Não é mais feita com a mesma alegria e o mesmo entusiasmo de antes. Apenas acontece. Como uma tradição boba.

Um retorno com gosto de mudança e, ao mesmo tempo, de coisas que não mudaram. As mesmas escadas, facilmente reconhecidas pelas minhas pernas. Nas paredes, as mãos, minhas e da minha irmã. Marcas de treze anos. Tão singelas, ingênuas, que nem sequer mereceram uma repreensão por desperdiçar tinta e carimbar a parede com uma lembrança que lá permanecerá, enquanto a casa estiver em pé. No quintal, o mesmo suporte do balanço, cenário de muitas risadas, briguinhas e festinhas. A piscina dos ganços transformou-se num mini-jardim mal cuidado. É difícil olhar lá de cima e não ver os doze ganços querendo pegar o Salomé, que também corria da Pombosa, a galinha. Seria o papagaio chinês confundido com um pedaço de couve verde? Ah, sim, o Negão correndo pelo quintal, arrastando enormes ursos de pelúcia que pegava escondido. Seriam os ursos confundidos com a espécie do canino? O coqueiro continua lá, agora, com suas folhas menores e sem cocos. À noite, uma iluminação melhor, diferente da época que brincávamos de polícia e ladrão, esconde-esconde, casa do terror.

Na casa, novos habitantes que, certamente, assim como eu, também terão saudades de algum tempo. De outras marcas. De outros animais. De outras brincadeiras. Talvez eu também tenha novas saudades daqui a algum tempo. Mas de uma coisa eu não tenho dúvidas: serei outra, estarei mudada. Porque a mudança é uma constante em nossas vidas.

junho 18, 2004

Engavete o diploma e desengavete a proatividade

Quando falo para as pessoas que fiz Letras, a primeira coisa que me perguntam é sobre onde leciono. Então, quando digo que simplesmente não leciono, o olhar que me lançam é de “Como não?”. Pior do que não ter curso universitário hoje em dia é ser subestimado pelo que as pessoas pensam ser o curso que você fez. Posso ler os pensamentos, exibidos em suas testas: “taí mais uma que engavetou o diploma!”.

Seria muito mais fácil relacionar o fato de eu não lecionar com a crise do desemprego, crise econômica, crise de choro ou qualquer outra crise que se ouve por aí. Mas não. Chego a ouvir coisas do tipo “é por isso que eu não estudo, assim, não jogo meu dinheiro fora”.

Espera aí. Quem foi que disse que eu joguei o meu dinheiro fora? Pior: quem foi que disse que o fato de eu não lecionar tem alguma coisa a ver com o suposto fato de eu ter dedicado anos a um curso cuja profissão principal não me agrada? Pelo menos não agora. E quem disse, ainda, que o indivíduo que cursou Letras tem somente a área da educação para atuar?

As respostas para todos esses questionamentos foram os argumentos que me impulsionaram a dar este passo na minha vida, ignorando, sobretudo, a convicção que sempre me acompanhou, repetindo muitas e muitas vezes que jamais seria professora. Tudo bem, isso pode acontecer nos momentos mais confusos da sua vida. Então, um dia você cresce, amadurece e é obrigada a encarar os fatos. O que é melhor?

1. Terminar o Ensino Médio e esperar seu pai ganhar na mega-sena para ingressar no curso que te agrada, formar-se na profissão que, por ora, sempre sonhou? ou

2. Encarar a realidade, ingressar no curso que tem condições de bancar e ao menos ter um objetivo traçado facilmente de ser alcançado?

Quando eu era pequena, dizia que seria veterinária. Qual a criança que nunca disse disso? Mais tarde, pintam outras possibilidades: Biologia ou Matemática? As ciências exatas estão bem moldadas no mercado de trabalho atualmente. Matemática agora, Administração depois, já com um emprego consolidado, e um futuro brilhante. Puff! Desfaz-se a nuvenzinha. Que matemática, que nada! Você sempre foi péssima nessa disciplina e até hoje não se entende com a calculadora. Vamos com calma! Você adora ler. Se amarra em escrever. Todo mundo diz que tem uma boa redação. Letras!

Meses depois do ingresso na faculdade, um emprego de estagiária. Oh, ela já não faz mais parte do grupo dos desempregados! Função? Ah, sim. Responder mensagens via e-mail. Atendimento ao Cliente com textos de autoria própria. A façanha de seguir padrões, implementando, construindo, transformando. Pronto: o padrão agora é criar. Mais tarde, o desenvolvimento de um programa de qualidade para aprimorar o desempenho da equipe. Idéias e mais idéias surgindo e fluindo. O resultado? Um atendimento ao cliente por meio da linguagem escrita, embasado na eficiência e encantamento.

Um ano após o término da faculdade, a literatura como paixão e nada de lecionar. Está vendo? Não basta ter um diploma, é necessário ser proativa. Diploma engavetado, né? Sei...

junho 15, 2004

Uma só palavra nem sempre basta

Se tem uma coisa que eu detesto é censura. Tudo bem, eu vivo dizendo por aí que gostaria de ter nascido umas duas ou três décadas antes da de 80, mas é só pra ter podido combater esse mal como ele realmente mereceu. Naquela época teria um gostinho especial, manja?

Olha só, eu nunca me entitulei escritora. Eu não tenho livro em meu nome, nem casa e nem carro. NÃO SOU ESCRITORA, deu pra entender? Certo. Este espaço tem muito de mim, mas também NÃO É UM DIÁRIO, ouviu bem?

Este aqui é o MEU espaço, aonde eu escrevo o que EU quiser e sobre quem eu quiser. Se não tiver vontade de ler, não leia. O endereço já não é muito fácil mesmo e além do mais, sempre pinta a dúvida se é com "s" ou com "z", o que não torna muito difícil esquecê-lo pra todo o sempre e sempre, amém.

Ah, já ia me esquecendo: não escrevo mentiras. Se você não vê um fundo de verdade, encare como ficção. Mas eu, meu amigo, NÃO ESCREVO MENTIRAS. Um escritor, talvez. Mas eu não sou escritora.

E, só para fixar bem: eu sou meio tribalista, sabe? Não sou de ninguém. Portanto, não venha me dizer o que eu devo ou não fazer. Muito menos como fazer. Eu faço o que eu quero e escrevo o que sou. Você não me lê, você não me conhece.

junho 13, 2004

A visão do mundo exterior

Alguém aí viu a visão do mundo exterior?
Aquela cúpula de pessoas decadentes na calçada,
embaçada aos meus olhos.
A tela da tevê está destorcida e a do cinema também.
Somente os meus ouvidos escutam a música sórdida que toca ao meu redor.
E as palavras imundas e sem nexo que saem das várias bocas que eu não vejo.
O que eu não vejo mesmo, com grande esforço, é a visão do mundo exterior.
O juízo talvez esteja ao alcance das minhas vistas.
O bom senso, apenas a alguns metros adiante.
Mas ela, a cura do mal, a compreensão do bem, não consigo enxergar.
Será o mau vítima do próprio mal?
Ou será a singularidade a concretude do mal?
A visão do invisível é ela, aquilo que não vejo.
A visão do mundo exterior – a busca dos que não entendem o que devem buscar.
Precisam buscar.

junho 12, 2004

Fases

Analisar as fases do crescimento humano é uma tarefa bastante curiosa. Todo mundo convive com isso. Se ainda não chegou lá, certamente tem um irmão ou um primo no meio do trajeto. Ou então, cansa de ouvir um adulto sabichão repetindo “mas aquele menino. Que idade difícil, meu Deus!”.

É, meu amigo, a coisa não é nada fácil. Há algum tempo era super bacana sair mais cedo do colégio (sem uma dispensa oficial), e juntar a galera toda pra comer pizza na casa de um ou outro. Ou andar em bando no shopping center, sem pais ou irmão mais velho, provando da tão sonhada tal liberdade. Então, bastam dois, no máximo três anos mais tarde, pra você descobrir que a vida não era tão supimpa assim. É só ter a responsabilidade de bancar a conta telefônica pra descobrir que é muito mais lucrativo atravessar a rua e bater aquele papo pessoalmente do que passar horas falando ao telefone. Tem também aquela calça ou aquele tênis da grife não sei das quantas. Pensando bem, nem são tão legais assim.

Sei, tem muita mãe lendo isso aqui e não se cabendo em si com o fatídico “Eu não disse!”. Tá bom, é engraçado. Mas vocês, mães, devem entender que isso tudo é uma questão de fase. E, como bem é de conhecimento de todas, as fases passam e ficam as experiências. Sim, sim, e as experiências se vivenciam. Não tem como pegar emprestado, sacaram?

Se você aí está num momento complicado com a sua menina ou o seu moleque, dê tempo ao tempo porque as pessoas crescem e amadurecem (costuma acontecer com a maioria, pode acreditar). Nada como um futuro próspero.

junho 07, 2004

Falando com estranhos

- Bom-dia!
- Bom-dia! Pra onde vamos?
- Alphaville, por favor.
- Alphaville? Longe, né?
- É...
- Algum caminho em especial?
- O mais rápido, por favor. Preciso estar lá até o meio-dia.
- Sem problemas. Vou pegar a Bandeirantes e não vai ter atraso. Nesta hora, o tráfego não é tão ruim.
- Ótimo.

***

- Você trabalha numa empresa de informática?
- Não.
- Então, em uma construtora?
- Hum, hum.
- O que você faz?
- Marketing. Trabalho numa empresa de marketing.
- Ah, tá.

***

- Está um dia bonito hoje, né?
- É...
- Você tem celular?
- Como??
- Eu perguntei se você tem celular?
- ...
- Você acredita que eu esqueci todos os meus documentos em casa? E, pra ajudar, meu celular está sem créditos. Então, se você puder me ajudar e ligar para o celular da minha cunhada...
- ...
- Não precisa nem atender, não. É só discar. Então, ela retornaria para você, que pediria para ela me ligar.
- Sei. Estou sem créditos.
- Seu celular é Tim ou Vivo?
- Tim, moço...
- Então, faz ligação a cobrar...
- Não. O meu não.
- Ah, então tá.

***

- Você torce para qual time?
- Não torço.
- Ah, que isso! Você deve ter simpatia por algum, vai...
- Não gosto de futebol.
- Tá com vergonha de dizer que torce para o Corinthians, né?
- ...

***

- Xii, vamos ter que pagar pedágio, né?
- Não sei.
- É, vamos sim. Será que eu tenho dinheiro? Quanto está o pedágio, hein?
- Deixe eu ver se entendi. Você está cumprindo seu expediente dentro de um táxi sem documento nenhum e sem dinheiro para o pedágio?
- Ah, não. Sei de um caminho que não será preciso.
- ...

***

- O que você vai fazer em Alphaville?
- Como?
- Não, é que se você não for demorar, posso te esperar. Sem cobrar pela espera, claro. É que a corrida é boa.
- Vou demorar.
- É uma reunião?
- Aqui, entre à direita, por favor. Pode seguir.
- Então...
- Faça o retorno ali, à esquerda, e pare ali naquela segunda entrada.
- Será que eles deixam eu esperar aqui dentro?
- Assine aqui, por favor e, olha, não precisa me esperar. Vou demorar.
- Está bem, então. Boa reunião!
- Tchau.

junho 02, 2004

ARRASTANDO MARAVILHAS
(Kali C. / Alexandre Lemos) - Setembro / EMI

Eu não tenho muito, quase nada
Só a sombra do meu corpo sobre a estrada
Misturada a galhos secos
Eu só tenho becos e perguntas
Minha alma e minha culpa dormem juntas

Eu não tenho frio nos meus versos
Mas também não sei dos outros universos
Que carrego paralelos
Eu não tenho elos, nem correntes
Meus fantasmas sempre foram diferentes

Eu não tenho ilhas no tesouro
Nem lugar em casa para desaforo
Nem espaço pra lamento
Eu não tenho vento que me pegue
Nem diabo que me agüente ou me carregue

Eu tenho convites e te chamo
Minha natureza está no que eu te amo
Mesmo nesse mundo louco
Eu só tenho pouco tempo agora
Posso esperar, mas não demora

No silêncio do vazio
Arrastando maravilhas
Nem vertigem, nem limites
Daqui a pouco é outro dia.

maio 28, 2004

Curriculum Vitae

Sou do tipo que adora um papo-cabeça, discutir a relação e ter o dom da discórdia. Não consigo ler em ônibus nem que a vaca tussa, detesto que sequer olhem para as minhas coisas em casa e não tô nem aí para os vizinhos que me chamam de metida porque eu gosto de economizar bons-dias pela manhã.

Até um tempo atrás, não admitia que falassem obscenidades na minha presença e levava qualquer briguinha aos extremos. Sou craque em interferir na educação do meu sobrinho-afilhado, mas sei que não sou um bom exemplo. Sou taxativa até o ponto de ter que liberar qualquer eletrodoméstico que ele queira fazer de brinquedo, para não ouvir pela centésima vez a Lala falando naquela fita: "de novo! de novo!". Urg! A "fita da Lala" é o efeito paralizante dele, mas eu prefiro mil vezes o Vitinho na sua versão original.

Tiro meus óculos para todas as refeições e não vivo sem meu walkman na bolsa. Deixo os meninos da tecnologia com os cabelos em pé quando meu Media Player apresenta qualquer sintoma de desconforto, e arranco inúmeras risadas no escritório quando penso que estou cantando em italiano.

Adoro quando as pessoas vêm ao meu lado perguntar sobre os personagens dos desenhos da Disney que ficam na minha mesa ou pedir qualquer indicação de leitura. Ou quando o Ryl me manda um texto incrivelmente interessante, perguntando minha opinião, só para gerar alguma argumentação inicial para o seu trabalho de faculdade.

Amo ir ao cinema sozinha em dia de semana, comprar pipoca para comer com sachê de pimenta e coca-cola, e ficar observando aquelas poucas pessoas presentes e a sala imensamente vazia. E depois, sentar na cafeteria do shopping para escrever após o filme. E no dia seguinte, comentar o filme e descobrir que minha opinião é diferente da de todo mundo, ignorando o fato de que os filmes que eu gosto não faz o gênero da maioria das pessoas que conheço.

Brigo com o Jackes todos os dias por e-mail e me descontrolo quando ele vem com o papo de que não vai me acompanhar a algum lugar porque não conhece as pessoas que estarão presentes. Mas morro de rir quando ele fica os shows inteiros identificando os artistas e seus acompanhantes, tentando me lembrar de seus personagens nas novelas. Acho que ele seria um ótimo "fofoqueiro".

Já tentei gostar de futebol, mas não levo jeito. Quando um menininho de cinco anos tentou me explicar o fenômeno do escanteio outro dia, fiquei fascinada, agarrei ele e tasquei-lhe um beijo. Aquela criaturinha que entendia de futebol tanto quanto o Pelé era simplesmente incrível. Igualmente fascinada fico quando um bando de marmanjão começa a discutir com o juíz (como se ele fosse ouvi-los lá de dentro da tela plana, 29"), dizendo que o tal fenômeno ocorreu, quando o homem de preto insiste em dizer o contrário. Fato esse que eu teria dificuldades para entender mesmo por meio de uma análise digital minuciosamente representada por gráficos e com a certeza de acontecimento assinada pelo Papa.

E ainda assim, sou obrigada a ouvir de certas pessoas o quão chata que sou. Alguma vez eu disse o contrário? Faça bom uso do meu currículo aquele que decidir me encarar.

maio 27, 2004

Ela por Ela mesma

O frio lá fora continua. E é bom porque se você estiver com a cabeça quente, basta abrir a janela.

O horóscopo diário insiste em afirmar a tal da racionalidade, que até agora eu não tive paciência para compreender. Paciência! Porque até agora eu também não entendi o porquê de ler essas palavras todos os dias, assim, como uma religião. Espera aí, mas não é uma religião? Talvez seja. Mas no fundo, no fundo é uma tentativa de prever o futuro, de saber o que os astros reservam e essas baboseiras todas. E eu, tão racional, como ele diz - o horóscopo - ignoro o fato de como um astrólogo lança algumas palavrinhas e essas palavrinhas servem para traçar, desvendar, ou seja lá o que for, o destino de milhares e milhares de pessoas do mesmo signo, dizendo o que acontecerá ou como elas estão se sentindo, assim, tudo ao mesmo tempo, como se todas as pessoas fossem iguais.

Um tanto quanto curioso, não? Tudo bem, nem posso falar muito porque sou rendida a essas palavras todos os dias e, não sei se verdade ou coincidência, sempre acabo relacionando algum fato ou acontecimento da minha vida a elas. É impressionante, mas elas sempre acabam desvendando meu estado de espírito. Vai ver são palavrinhas estratégicas. Ops! Acho que acabo de descobrir a minha tal racionalidade.

Quer saber? Acho que eu sou racional mesmo. Sou do tipo que acorda de manhã e antes mesmo de sair de casa já consigo saber se o meu estado de espírito será chato ou chatíssimo. Peraí, você também deve fazer isso. Tá, mas duvido que logo cedo você mande um e-mail ao seu melhor amigo avisando-o para não encher a sua paciência porque você não está num bom dia. Tudo bem, isso pode simplesmente não ser racional e sim um sintoma da sua chatisse incontrolável. Ou melhor, da minha.

Você aí deve estar pensando que estou assinando minha sentença de monstro, insensível e destruidora de corações. Não, meu amigo, não é nada disso. Sou até sentimental demais, se você quer saber. Choro até com final de novela e, dependendo do dia, meus olhinhos enchem-se de lágrimas ao ver um cachorrinho largado na rua. E eu nem gosto tanto de cachorrinhos assim. Isso é sinal de inconstância, aliás, característica também identificada pelo horóscopo. Se você for um bom observador, deve ter percebido essa falta de ritmo aqui no Proseando. E então, agora você quer falar de quê?

maio 22, 2004

Arrumação

A atenção que este blogue merece demora a chegar. Não, ainda não chegou. Eis apenas uma tentativa. Declaro inauguradas duas novas seções: a primeira, "Falando em Prosear...", foi criada há algumas semanas. No índice, vocês encontrarão alguns sites que falam de literatura cientificamente. Tenho uma nova listagem a inserir, mas está no computador do escritório. Prometo que disponibilizo em breve. A outra seção, "Prosas Musicais", traz sites oficiais de uma galerinha nova que vem surgindo por aí, promessa de sucesso. Destaque para o Vega que vocês já conhecem e para a Danyela Gato, que eu já acompanho há um tempinho, especialmente em suas apresentações no Pão com Manteiga, um simpático bar da região da Paulista. Com o passar do tempo, pretendo disponibilizar outros sites de pessoas que admiro, sim, pois assim como a literatura, a música também é uma grande paixão. Para finalizar, criei vergonha na cara e inseri mais alguns blogues amigos e outros que ainda não são. Espero que gostem e apreciem!
Domingo

Domingo,
Tristeza ao contrário
Dia Fútil
Dia útil

(caso alguém conheça o autor, fique à vontade para mencioná-lo)

maio 19, 2004

Eu vi, eu fui

A rá, eu estava lá!

E presenciei muitas coisas engraçadas. Vi a Camila se declarando para o Bruno de Luca, dizendo que ele era o ídolo dela desde a época da Malhação e quase morri de rir. Como se não bastasse isso, vi ainda a pentelha da Camila pentelhando os pentelhos do Pânico na TV, que não se continham em suas pentelhices. Vi também meu diretor abordando, e deixo bem claro que no bom sentido, a Maryeva, quando ela passou pela gente a caminho do camarim. Sim, vi as figuras mais esdrúxulas do meio artístico transitando pela Via Funchal. Lembram-se do Fly, dançarino da Xuxa, integrante do You Can Dance? É, ele não fez nenhuma performance, mas marcou presença. Fora algumas modelos loiras e peitudas que, nem mesmo se minha memória funcionasse corretamente, eu lembraria os nomes.

Sim, eu compareci à cerimônia de premiação iBest 2004 e ainda estou sob efeito do excesso de prosseco ingerido, o qual levou os mais sãos dos meus sentidos. Por isso, não liguem caso esse texto também comece a não fazer sentido algum.

A empresa em que trabalho concorreu à categoria fidelização pela academia e pelo júri popular. Não, não ganhamos. E nem vou adentrar no universo do "tudo muito estranho", para não nos estressarmos, ok? Sim, muito estranho como o maior site de fidelização da América Latina não leva, e a patrocinadora do evento abraça todos os prêmios que concorreram, inclusive o de fidelização. E nas duas categorias! Oh, não vou me adentrar.

Um ponto interessante que, particularmente, considerei um dos mais altos foi a premiação na categoria blogues. Peraí, não é empolgação demais. Afinal, estamos falando de um dos maiores prêmios de internet no Brasil. Vá lá que pode ter as suas particularidades, mas merece o nosso apreço. O blogue "Garotas que dizem Ni", que está aí ao lado, era um dos concorrentes e o meu favorito desde a época do Top 10. Foi o máximo ver suas criadoras, Clara McFly, Vivi Griswold e Fla Wonka, ao vivo e a cores. Pena que também não levaram, mas o reconhecimento que receberam com a indicação e tudo o mais foi válido, com certeza. Além disso, o fato de colaborarem para firmar ainda mais a categoria blogueira é um prêmio para todos nós, que prezamos por coisa de qualidade nessa internet de meu Deus. Parece papo de feminista, petista, ista, ista. Mas que mereciam a vitória, isso mereciam!

Mas tudo bem, ano que vem tem mais. Quem sabe o nosso humilde Proseando não marque presença? E quem sabe ainda, esta que vos fala saia de lá num estado, digamos, menos acoolizado? Tudo é possível.

maio 17, 2004

Notas

O frio resolveu aparecer aqui na Metrópole Desvairada. Não que isso seja um grande problema para os paulistanos. Muito menos para aqueles que passam 80% do dia dentro de um escritório, geralmente na parte mais alta de algum edifício, onde a vista para o lado externo dá a impressão de que é sempre noite e, claro, o ar condicionado na temperatura dos 18 graus suportáveis.

Não é nada incomum você sair na rua em plena manhã de verão e flagrar pessoas com blusas de frio entre seus pertences e, lógico, um guarda-chuva. Porque assim como o trânsito, nessa cidade o tempo também é imprevisível. Mas desta vez a culpa não é da imprevisão. E nem mesmo estamos no verão. Ouvi dizer que é reflexo do tal ciclone que apareceu lá pelas bandas do sul do país. Para pessoas como eu, que curtem um friozinho na espinha, é maravilhoso. Mas, para aquelas que fazem jus às belas praias do Brasilzão e, claro, do astro-rei brilhando lindão lá em cima, vou te contar. Deve ser um martírio. Mas o bom de tudo mesmo é que vivemos num país tropical e que o clima agrada igualmente a todos, não é verdade?


------------------------------------------------------------------


Três comadres resolvem sair de casa na tarde de um domingo qualquer com destino ao teatro. Em decorrência da super lotação não prevista, os planos passam por uma pequena adaptação e o destino as levam a uma mega exposição fotográfica. De repente, as três, que não entendem nadinha de fotografia (uma delas tem dificuldade até de se auto-reconhecer num retrato), se vêem nas principais ruas de Sampa em pleno século XIX. Sob a vertente iconográfica introduzida pela ótica de grandes fotógrafos, elas realizam um passeio por São Paulo desde a época em que era um tímido vilarejo, captando cada aspecto que fez da Terra da Garoa uma grande metrópole. Cada fator determinante para o crescimento populacional de São Paulo e sua evolução do ponto de vista moderno e social deixou as garotas de queixo caído. De queixo mais caído ficaram, quando saíram daquele universo do tempo dos seus avôs, provavelmente, e se depararam com a Avenida Paulista linda e acolhedora como sempre. Mas vazia, não se esqueçam disso. Era um domingo. Como acabou? Num bar ali perto, num longo bate-papo de comadres, regado a chopp e chocolate quente porque, afinal, os corações ali eram paulistanos. Se você ficou com vontade, as três recomendam: São Paulo, 450 anos - A imagem e a memória da cidade no acervo do Instituto Moreira Sales. (Galeria de Arte do Sesi - Av. Paulista, 1.313 - São Paulo - SP).


------------------------------------------------------------------

Se você acha que isso aqui está parado demais para o seu gosto, a alma do outro lado do seu monitor, a milhões e milhões de giga bytes luz, adverte: tenha paciência e muita fé, pois uma hora ela conseguirá ter o mínimo de organização possível e pelo menos dar a impressão de que as coisas estão caminhando no ritmo recomendável. Vejam bem: ela disse "recomendável".

maio 09, 2004

Mãe

Nesta data especial, aqui, representando todas as mães do mundo, e em especial a minha: Dona Isa.

A elas:

Amigas. Colegas. Às vezes, desconhecidas. Outras, irmã mais velha...

Mães em todas as ocasiões.

Seres especiais. Pedacinhos do coração de Deus. Presentes do Pai.

Sinônimo de esperança.

Força em pessoa.

Resposta para todas as perguntas.

Em cada lágrima. Em cada olhar. Em cada sorriso.

Amor. Fraternidade. Compreensão.

Nem que eu buscasse todos os adjetivos do mundo,

Nem que eu dominasse de todas a línguas: latinas, ocidentais, orientais,

Nem que eu tivesse a sensibilidade de Maria, mãe de todas as mães e de todos os filhos,

Nem mesmo assim, conseguiria traduzir em palavras o significado de

Mãe, palavra intraduzível.

Que as nossas mães tenham um lindo Feliz Dia das Mães!

maio 07, 2004

Meu lado esquerdo

Meu lado esquerdo do cérebro não funciona muito bem. É essa a justificativa que ofereço às pessoas quando fica explícito o quão avoada que sou. Não é uma justificativa inventada, pode acreditar. Também não sei se é plausível dizer que é aceitável, uma vez que eu não entendo nada de questões cerebrais ou coisa parecida, exceto a parte que justifica a insanidade humana, para a qual eu também contribuo e de forma bastante ativa. Se você, meu caro amigo, está achando isso um tanto esquisito, não ache. Lembre-se daquela velha e sábia frase do Caetano Veloso: "de perto, ninguém é normal" e a normalidade passou longe do meu planeta, tenha a certeza.

Quanto ao lado esquerdo, atribuo a justificativa a uma queda que tive aos três anos de idade, o que me coube uma fratura no lado direito da cabeça. Como existe a teoria de que o lado direito do cérebro comanda o esquerdo e vice-versa, adaptei essa lógica à minha problemática. Vai dizer que não faz sentido?! Se restaram seqüelas? Hmm... você tem alguma dúvida?

Pois bem, eu não tenho nenhuma. Para captar esse meu grau de loucura foi muito simples. Bastou mais uma vez acabar as pilhas do meu walkman para que eu me colocasse a refletir sobre a vida. Como? Simples e, se quiser, você também pode tentar. Pegue um dia da sua vida, apenas um dia, e trace sua trajetória. Tente, vá fundo. O meu dia escolhido rendeu ótimos resultados e muitas, mas muitas trapalhadas. Mas o pior de tudo foi descobrir que minha memória definitivamente não está compatível com meus quase 22 anos de idade. Não, não está mesmo.

Imagine você acordar as cinco da matina, tomar aquela ducha demorada para refrescar o tico e o teco e começar o seu dia com, não um, mas vários esquecimentos. Primeiro, depois do café da mama, peguei meus pertences e, quando cheguei ao portão, com um singelo toque na face percebi que estava sem meus óculos. De início, você até tenta se imaginar no escritório, na frente do computador sem eles e... não, não dá. Então, você sobe as escadas, caminha xingando a si próprio como uma autopunição, chega até a sua escrivaninha pensando no que raios você foi fazer ali mesmo. Ah, sim, os óculos. Apanha sua visão para o mundo exterior e ouve de novo todas aquelas recomendações de mãe. É engraçado porque todo dia é a mesma coisa, sem mudar uma vírgula: “vai com Deus, minha filha, tenha um bom dia, cuidado na rua com esses malucos, não chegue tarde...”.

Quando finalmente você chega ao portão novamente, não consegue passar para o lado de fora porque esqueceu as chaves. Oh, as chaves. Não adianta, desta vez, larga os pertences em cima de qualquer coisa e repete o percurso outra vez. Só não repete os mesmos palavrões pela milésima vez porque quando chega na porta se depara com sua mãe com as danadinhas na mão. Só resta rir da própria desgraça mesmo. Se você acha que este curto período matinal acaba por aí, está redondamente enganado. Depois de sair na rua e chegar ao ponto para pegar o coletivo, você percebe que alguma coisa está estranha. Não, não foi o passe que esqueceu em cima da escrivaninha. Parece ser algo mais importante. Mas, tudo bem, você apanha outro passe na bolsa e finalmente senta-se no banco altão que está lá todos os dias à sua espera.

O astro-rei brilhando e você, compenetrada, testando várias pilhas usadas jogadas na bolsa, tentando adivinhar se conseguirá concluir a viagem mantendo-se a par do noticiário do dia e, claro, daquela bela trilha sonora ou não. Mal sabe. A avenida Interlagos com aquele trânsito que faz qualquer um desejar ter o dom de poder se teletransportar. O coletivo tão lotado que faz você sentir remorso por estar sentado enquanto tantas pessoas estão em pé e as horas, vejam só, as horas voando. Isso sem contar que você ainda tem que enfrentar a avenida Berrini e o mau humor do motorista que nem iniciou o dia e já está estressado com o trânsito da cidade. Você olha para o relógio que, por algum milagre está no seu braço, e percebe então o que de tão importante havia esquecido. Sim, ele mesmo, o celular. Um dia sem celular. E você nem sequer pode dar uma ligadinha básica no escritório para avisar que não chegará trinta ou quarenta minutos atrasada como é de costume, mas sim uma hora. É, uma hora inteirinha, com todos os 60 minutos que lhe cabe. E, quando finalmente chega, percebe que o mocinho que chamou para a entrevista está à sua espera desde as oito horas e lembra-se, que maravilha, que de lá há exatamente 30 minutos tem que estar na avenida São João para um treinamento, cuja apresentação você esqueceu-se de pedir para gravarem em CD. Resta então você liberar um belo sorriso para descontrair e se conformar já que, bom, pontualidade nunca foi o seu forte mesmo.

Se você gostaria que as trapalhadas do dia terminassem por aí, na parte da manhã, fico feliz pela parte que me toca, mas não. Elas continuam durante o dia todo e, partindo dessa minha reflexão, não encontro outro diagnóstico senão, admitir que meu caso de fato é crítico. Então, finalmente começo a entender o porquê daquela franjinha de post it’s amarelos ao redor do meu monitor, sem contar os post it’s virtuais multicoloridos e adaptados com vários alerts na minha área de trabalho. Ah, agora eu também compreendo porque a minha mãe me acompanhou até o quarto outro dia, quando estava me preparando para dormir, só para avisar que eu estava usando óculos, morrendo de medo de que eu fosse dormir com eles e furar a vista com os parafusinhos. E ainda quando eu saio de manhã e, quase sempre, ela me acompanha fazendo um questionário: “está levando guarda-chuva?”, “o cheque do seu irmão?”, “não está esquecendo de nada?”.

Agora, pode falar: você acha que, depois de tudo isso, existe alguma chance do meu lado esquerdo exercer algum auxílio para o direito? Hum, hum, meu amigo. Negativo! O meu lado esquerdo realmente não funciona.

maio 05, 2004

O Jardim da Alienação

Enclausurada. Não apenas naquele lugar, mas dentro de si. Era assim que se sentia. Bem. Todo mundo dizia que aquilo tudo era para o seu próprio bem, a ponto de ela já não saber o que era bom e o que era ruim. O positivo e o negativo já não eram reconhecidos. Aprisionada num mundo desconhecido e tudo porque simplesmente quisera assim. Porque um dia acordou e nada mais fazia sentido. À sua volta, todos com o mesmo olhar. Sem aprovação, mas também sem repreensão. Cada ato, cada procedimento, cada gesto e cada contato era parte de um tratamento imposto. Pré-estabelecido. Necessário.

Longe de si, longe dos outros, de tudo, de todos. Não dominava suas vontades, não mais identificava os seus sentidos. Era escrava de algo desconhecido. Um instinto. Uma dominação que nascia sabe-se lá de onde, sem motivo, sem razão. Uma força que se apoderava assustadoramente partindo das entranhas da sua alma. Sim, uma necessidade sem razão de ser, apenas monstruosa. A condição que, cada vez mais, a afastava de si mesma. O vício. Ela era escrava do vício.

Ali, sentada, ela não enxergava e não ouvia. A única consciência era do que que estava por vir, mas mesmo assim não entendia. Aquilo tudo era forte demais para a sua essência. Não, ela não poderia fugir, mas não hesitava ao tentar. Levantou-se devagar, lançando um olhar insano para todos os lados. Que pena, não tinha noção do belo jardim que estava à sua frente - o jardim das mais belas flores do mundo. De repente, viu-se correndo e não percebia que esmagava as flores, uma a uma. Tentava uma fuga desesperada. O corpo formigava por inteiro, as mãos sobre cabeça, como se aquela dor fosse arrancada junto com cada fio de cabelo vermelho. O olhar, imcompreensível. Os olhos, sim, cobertos de lágrimas de desespero e gritos incontrolados que despertavam a atenção de qualquer um. O pavor no seu rosto parecia contagioso. Corria desnorteada, destruindo casa pétala de flor. Estava ensandecida. Nenhuma explicação plausível. Por um segundo pareceu entender o que acontecia. Mas não. Nada tinha explicação.

Uns cinco seres vestidos de branco em cima dela. A razão controlando a loucura. Na linguagem deles, ela estava sendo imobilizada. Na linguagem dos que pensam entender, estava claro que o líquido injetado nas suas veias era apenas mais uma dose de insanidade. Hipócritas os que pensam ser calmante. O seu corpo recebia agora um aditivo para impulsionar a sua perda de memória recente. Um auxílio para fugir dos problemas. Para continuar não entendendo nada. Para, no dia que encontrar alguma certeza na vida, certificar-se do nada. Perdia os sentidos, de fato, lentamente. Não precisaria sair dali algum dia para encontrar o nada. O nada fora mais rápido.

Quando finalmente abriu os olhos, percebeu-se sozinha no quarto. Serena. Tranqüila. Quem ousasse dizer que acabara de despertar de um pesadelo seria taxado como o maior infame do mundo. O nada ainda estava em sua mente. Levantou-se calma e caminhou cuidadosamente até a janela. Impulsionou a pequena fresta e deparou-se com um majestoso jardim. Lírios brancos em meio a rosas azuis. Cantos variados de pássaros invadiam os seus tímpanos e uma espécie rara de borboleta pousou ali perto. Não, ainda não era a liberdade.

maio 04, 2004

Fútil

Então pra você a homossexualidade é uma questão de contracultura? Sei. Assim como a Aids deve lhe parecer uma tendência comportamental. Ou uma escolha, como preferir. Algo como quando você acorda de manhã e diz "hoje quero ser gay" ou "hoje quero ser aidético". Isso sem a necessidade de afirmar o que realmente você de fato é ao expressar determinados pensamentos. Nem vem, porque determinados pensamentos não são absolvidos pela liberdade de expressão. Se você não entendeu, aqui eu faço as regras. E, só para deixar ainda mais claro, meu senso de defesa não é necessariamente a minha essência.

abril 30, 2004

Os Criadores e a Criatura

Loucos. Descabelados. Solitários. Você reconhece essas características? Hmm... deixe-me ajudá-lo. Você tem ido ao cinema ultimamente? Se sim, deve ter percebido explicitamente a forma como os cieastas vêem os escritores. Sim, até mesmo aqueles que são sucesso de mídia. Todos têm traços de loucura - quando não no porte físico, são facilmente identificados nos aspectos psicológicos das personagens. Todos, em determinado momento, se descabelam por alguma coisa, isso quando não são descabelados visualmente falando mesmo. Chega a dar medo. E todos são solitários, é impressionante. Parece até que é uma taxação prioritária. Quando não são vítimas do divórcio, são figuras focadas no trabalho e não disponíveis para qualquer aventura amorosa (quadro que muda só no final do filme, lógico), ou, são homossexuais do tipo frustrados e desgraçados pela vida.

Além do mais, parece que é moda abordar personagens escritoras nos filmes ultimamente. Não que eu ache ruim, muito pelo contrário, me divirto e muito, mas que isso chama a atenção, ah... chama. E desperta atenção também, além das três características básicas que citei há pouco, os vários perfis de escritores que nos apresentam. Até pouco tempo atrás, minha visão de escritor era um vovozinho ou uma vovozinha de cabelos bem branquinhos, com aqueles óculos redondinhos e com aquela carinha que dá vontade de apertar de tão fofa. Isso, claro, até eu quebrar a bolha que me protegia das coisas boas da vida e conhecer uma rapaze que deixa de cabelo em pé qualquer tipinho simpático dito literato tradicionalista. Hmm... vocês nunca ouviram falar da Geração 90 de escritores, certo? Não sabem o que é o humor bombástico do Marcelino Freire? A visão mais que naturalista da vida pelos olhos de Clarah Averbuck? A "fama transgressora" de Nelson de Oliveira? A criativa linhagem poética de Fabrício Carpinajar? Sem falar nos muitos e muitos talentos que esse texto não comportaria... Se não conhece, nem preciso fazer convite, certo?

Pois bem, o protótipo de escritor abordado pelos cineastas e aquele que o ensino de litetatura na escola nos oferece é completamente diferente, diante do que realmente é o que escreve a história da nossa geração atualmente. Mais do que loucos, descabelados e solitários, temos gente com sede de juventude, de criar novas frentes de discussões, de admitir que estamos em pleno século XXI e que temos que escrever a realidade nessa nova linguagem, falar de geração para geração. Não falo aqui de transgredir regras gramaticais, de transformar a língua materna numa linguagem chula. Falo língua materna porque essa evolução de que trato não é apenas brasileira. A literatura possui um elo mundial globalizado. E, acreditem, não falo somente de adolescentes de classe média com piercings and tatoos que decidem embrulhar pra presente suas aventuras sexuais e narcóticas e oferecerem à mídia para, então, transformar-se naquilo que todos nós já sabemos.

Certo, não é novidade que cinema e mundo real não são a mesma coisa. O cinema trata os escritores com certo diferencial, mas não está acompanhando nem de longe essa evolução. O tipo louco psicótico que sofre de distúrbio de personalidade múltipla, vivido por Johnny Depp em "A Janela Secreta", é caótico, caricato. De fato, cômico, mas não real. O solitário e mega confuso Alex, vivido por Luke Wilson em "Alex e Emma" é até normalzinho, mas não passa de um tipinho cômico limitado. Sim, às vezes, eles dão umas dentro. Em "Encontrando Forrester", Sean Conery, apesar de esquisito por tratar-se de um ser recluso não só em seu apartamento, mas em seu inconsciente, não está tão distante do que seria um escritor experiente nos dias de hoje. Só para não me estender muito, vale citar Diane Keaton em "Alguém tem que ceder". Sim, o filme arranca ótimas gargalhadas, apresenta as nuances cômicas das personagens, mas a escritora teatral vivida por Diane parece ser bem situada em seu mundo, em sua realidade, principalmente quando adapta sua própria realidade.

E, falando em realidade, a literatura não possui só um aspecto imaginário, como a maioria das pessoas pensam. Principalmente, quando lemos um escritor situado em nosso tempo. Conhecer a literatura e seus criadores nas telonas é ótimo, mas muito mais interessante é conhecê-los por meio das suas próprias obras, através delas. Tente e me conte depois.

abril 27, 2004

Texto crítico

Okay, okay. É fato que tudo nessa vida é concebido partindo de uma opinião pré-esatabelecida sobre algo ou alguém. E é fato também que essa tal opinião não precisa simplesmente nascer, viver e comer muito arroz com feijão para ser notada. Não, não, ela já nasce com força tamanha, com capacidade total para destruir ou alavancar qualquer coisa. Exatamente, eu disse qualquer coisa.

Sim, sim, falo dela mesma: a CRÍTICA. Essa palavrinha trissilábica tão comum, tão conhecida por todos, tão presente em cada fio de pensamento, tem um poder tão grande que ninguém, absolutamente ninguém, é capaz de deter. Muito mais que um poder ou uma conduta comportamental, a crítica é uma necessidade. E nós somos absorvidos pelo ato de criticar de forma tão fluente, a ponto de nos perdermos e afundarmos na grande confusão que se cria quando não se consegue perceber a diferença entre criticar e julgar.

Julgar. Criar opinião. Dizer o que se pensa no ímpeto do momento. Essas características fazem de nós simplesmente seres humanos e desconhecedores do significado de sermos seres críticos. Eis a grande diferença e o motivo pelo qual vemos nossos semelhantes tornarem-se, de um segundo para outro, seres monstruosos, mesquinhos e, por muitas vezes, inconseqüentes.

Mas, como dizemos no nosso dia-a-dia quando algo está longe de uma conclusão sensata, "é a vida". E de fato é mesmo porque a vida também é movida pela crítica. O governo de nenhum país terá rumo decidido senão por meio da opinião crítica de alguém - seja de uma população ou de uma cúpula; nenhum escritor, por mais que isso possa parecer desconfortável em determinados momentos, terá sua obra firmada senão pela opinião crítica de alguém; idem para os músicos, artistas plásticos e toda variada categoria artística; nenhum filho assume determinada conduta ética e moral na vida senão pela opinião dos pais ou de quem o criou ou de quem interferiu diretamente no seu crescimento e amadurecimento - aqui, entenda-se amigos de infância, colegas de escola, professores, chefes et cetera. E assim, reforço mais uma vez, "é a vida".

Ah, mas ela está focada somente em único lado dessa tal de crítica, vocês devem estar pensando. Não, claro que não. Eu não me esqueci que existem as críticas construtivas e as críticas destrutivas. E também não descarto a possibilidade de uma crítica destrutiva ter lá o seu quê de positiva. Estou errada? Ao menos para identificar que o crítico é, no mínimo, um precipitado ao formar determinada opinião destrutiva sobre algo, esse tipo de crítica serve. Daí, dependendo da perspectiva, muitos outros aspectos positivos podem ser extraídos. Pode tentar se quiser, mas cuidado para não correr o risco de ser considerado também um mesquinho, ao tentar combater uma mesquinharia com outra.

É justamente aí que mora o xis da questão. A grande proeza que faz da gente "pessoas críticas" e "pessoas críticas" está na diferenciação entre ser um bom observador e ser um oportunista de plantão, registrando nas pessoas apenas os seus deslizes. E mais uma coisinha: saber relevar, filtrar o que realmente é importante e faz a diferença. Saber ser um bom observador e registrador dos fatos e não um paparazzi do mundo real.

Isso, esse será meu exercício daqui pra frente.

abril 26, 2004

Verdadeiro ou Falso?

Viver - insanidade indomável.
Não se importar com as verdades
E abusar das mentiras.
Desistir? - eu pergunto.
Jogar para o alto?- eu insisto.
Jogar para o alto, talvez.
Desistir, jamais.
Jogar para o alto
E viver um segundo por vez.
O que importa o dinheiro,
Tesouro falso?
E a fama, necessidade de auto-afirmação?
Simplesmente não importam.
Importa sim a luz do sol,
Astro-rei soberano.
Ou ainda, os pingos da chuva,
Tentativas de recomeço.
Importa de fato o brilho nos olhos.
Se os olhos brilham, o sentimento é verdadeiro.
Mas o que é a verdade? - busco entender.
É a mentira para uns, travestida de fada-madrinha.
É o ímpeto que se sente
Quando as necessidades são manifestadas.
É a nossa razão, oras!
É a miséria das condutas.
Seres Desumanos.
A verdade pode não ser o que escrevo agora.