junho 18, 2004

Engavete o diploma e desengavete a proatividade

Quando falo para as pessoas que fiz Letras, a primeira coisa que me perguntam é sobre onde leciono. Então, quando digo que simplesmente não leciono, o olhar que me lançam é de “Como não?”. Pior do que não ter curso universitário hoje em dia é ser subestimado pelo que as pessoas pensam ser o curso que você fez. Posso ler os pensamentos, exibidos em suas testas: “taí mais uma que engavetou o diploma!”.

Seria muito mais fácil relacionar o fato de eu não lecionar com a crise do desemprego, crise econômica, crise de choro ou qualquer outra crise que se ouve por aí. Mas não. Chego a ouvir coisas do tipo “é por isso que eu não estudo, assim, não jogo meu dinheiro fora”.

Espera aí. Quem foi que disse que eu joguei o meu dinheiro fora? Pior: quem foi que disse que o fato de eu não lecionar tem alguma coisa a ver com o suposto fato de eu ter dedicado anos a um curso cuja profissão principal não me agrada? Pelo menos não agora. E quem disse, ainda, que o indivíduo que cursou Letras tem somente a área da educação para atuar?

As respostas para todos esses questionamentos foram os argumentos que me impulsionaram a dar este passo na minha vida, ignorando, sobretudo, a convicção que sempre me acompanhou, repetindo muitas e muitas vezes que jamais seria professora. Tudo bem, isso pode acontecer nos momentos mais confusos da sua vida. Então, um dia você cresce, amadurece e é obrigada a encarar os fatos. O que é melhor?

1. Terminar o Ensino Médio e esperar seu pai ganhar na mega-sena para ingressar no curso que te agrada, formar-se na profissão que, por ora, sempre sonhou? ou

2. Encarar a realidade, ingressar no curso que tem condições de bancar e ao menos ter um objetivo traçado facilmente de ser alcançado?

Quando eu era pequena, dizia que seria veterinária. Qual a criança que nunca disse disso? Mais tarde, pintam outras possibilidades: Biologia ou Matemática? As ciências exatas estão bem moldadas no mercado de trabalho atualmente. Matemática agora, Administração depois, já com um emprego consolidado, e um futuro brilhante. Puff! Desfaz-se a nuvenzinha. Que matemática, que nada! Você sempre foi péssima nessa disciplina e até hoje não se entende com a calculadora. Vamos com calma! Você adora ler. Se amarra em escrever. Todo mundo diz que tem uma boa redação. Letras!

Meses depois do ingresso na faculdade, um emprego de estagiária. Oh, ela já não faz mais parte do grupo dos desempregados! Função? Ah, sim. Responder mensagens via e-mail. Atendimento ao Cliente com textos de autoria própria. A façanha de seguir padrões, implementando, construindo, transformando. Pronto: o padrão agora é criar. Mais tarde, o desenvolvimento de um programa de qualidade para aprimorar o desempenho da equipe. Idéias e mais idéias surgindo e fluindo. O resultado? Um atendimento ao cliente por meio da linguagem escrita, embasado na eficiência e encantamento.

Um ano após o término da faculdade, a literatura como paixão e nada de lecionar. Está vendo? Não basta ter um diploma, é necessário ser proativa. Diploma engavetado, né? Sei...

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