junho 21, 2004

Mudando

Olho para um lado e... caixas. Olho pra outro e... caixas. Dou um passo e... mais caixas. Tudo encaixotado, tudo perdido em meio à bagunça. Guardados que não se acham. Coisas que encontrarei somente quando não estiver procurando. Sim, mudança é o caos concretizado.

Por um momento, pensei que mudaria apenas de casa. Que ingenuidade a minha. A gente muda de casa e muda de caminho e muda de hábito e muda de opinião. Quando cai em si, você já não é mais a mesma pessoa. Está mudada. No coração, um sentimento estranho. O que é? Não sei. Eu gosto de ter respostas para tudo, mas não tenho medo de dizer que não sei. Talvez seja medo, talvez seja receio, o sexto sentido querendo se manifestar, me prevenir para alguma coisa, falar do retorno àquele lugar onde vivi grande parte da minha vida. Lugar onde cresci, fiz amigos, mantive amigos, escrevi histórias com eles. Talvez sejam apenas sintomas de mudanças. Talvez isso seja a normalidade com que não estou acostumada. Talvez seja eu crescendo ou simplesmente, sendo eu mesma.

Assim como eu, aquele lugar também mudou. Não encontro mais todos os meus amigos. Meus vizinhos não são mais os mesmos. O cachorro que furava as minhas bolas não está mais lá. O terreno enorme que tinha em frente a casa transformou-se num belo sobrado. As menininhas que brincavam de boneca no quintal agora caminham de mãos dadas, com os mesmos menininhos que jogavam futebol na rua. Nem mesmo a festa junina que ocorria todos os anos é a mesma. Não é mais feita com a mesma alegria e o mesmo entusiasmo de antes. Apenas acontece. Como uma tradição boba.

Um retorno com gosto de mudança e, ao mesmo tempo, de coisas que não mudaram. As mesmas escadas, facilmente reconhecidas pelas minhas pernas. Nas paredes, as mãos, minhas e da minha irmã. Marcas de treze anos. Tão singelas, ingênuas, que nem sequer mereceram uma repreensão por desperdiçar tinta e carimbar a parede com uma lembrança que lá permanecerá, enquanto a casa estiver em pé. No quintal, o mesmo suporte do balanço, cenário de muitas risadas, briguinhas e festinhas. A piscina dos ganços transformou-se num mini-jardim mal cuidado. É difícil olhar lá de cima e não ver os doze ganços querendo pegar o Salomé, que também corria da Pombosa, a galinha. Seria o papagaio chinês confundido com um pedaço de couve verde? Ah, sim, o Negão correndo pelo quintal, arrastando enormes ursos de pelúcia que pegava escondido. Seriam os ursos confundidos com a espécie do canino? O coqueiro continua lá, agora, com suas folhas menores e sem cocos. À noite, uma iluminação melhor, diferente da época que brincávamos de polícia e ladrão, esconde-esconde, casa do terror.

Na casa, novos habitantes que, certamente, assim como eu, também terão saudades de algum tempo. De outras marcas. De outros animais. De outras brincadeiras. Talvez eu também tenha novas saudades daqui a algum tempo. Mas de uma coisa eu não tenho dúvidas: serei outra, estarei mudada. Porque a mudança é uma constante em nossas vidas.

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