dezembro 21, 2007

Queridos,

Para mim, o Natal sempre foi a época propícia para desejar e semear o bem. O ar fica diferente, as ruas e lojas enfeitadas, e as pessoas, como mágica, ficam todas boazinhas. A gente sai por aí despejando "feliz natal" pra todo mundo, sorri pras criancinhas no ônibus e até tenta falar menos palavrão. É como se fosse o tal do juízo final dando o ar da graça anualmente: a gente se embala nas retrospectivas, faz o balanço e conclui o que pode ser mudado. No final, todo mundo é perdoado e recebe uma nova chance.

Sempre encarei tudo isso com bom coração, fazendo vista grossa pra todas as teorias clichezadas que cruzavam o meu caminho. Afinal, clichê ou não e demagogias à parte, se é o momento que finalmente as pessoas param de olhar pro próprio umbigo, por que sair mundo afora criticando essas práticas?

Acontece que ultimamente tenho estado enfezada demais e quando isso acontece, sempre lanço um segundo olhar pras coisas.
Por conta disso, este ano decidi não me embalar no espírito natalino. Se vocês estão pensando que chegaram até aqui para se deparar com um FELIZ NATAL, PAZ E SUCESSO, estão enganadíssimos. Mas fiquem tranqüilos porque não estou cuspindo os votos de coisas boas que me mandaram. Aliás, permitam-me um parênteses para um BIG OBRIGADA. Afinal, ultimamente, energia positiva tem sido o melhor combustível para a humanidade.

Acertaram. Estou aqui para desejar-lhes ENERGIA POSITIVA. Façam de conta que não estamos nas vésperas do Natal. Façam de conta que a cor vermelha está apenas no cabelo e nas unhas desta que vos fala e que as pessoas não decidiram fazer doações e comer panetone de uma hora pra outra - pensem que tudo isso faz parte de uma corrente do bem, praticada o ano inteiro, que ganhou ênfase neste momento apenas porque o ano está indo embora. Estão se sentindo melhor agora?

Minha intenção aqui era não ser clichê. Só que o simples fato de você se levantar da cama durante o mês de dezembro já é por si só um clichê natural. Olhem eu aqui querendo classificar os clichês da vida, como se isso fosse minimizar alguma coisa. Okay, me rendo! Mas sem jamais sair do salto do meu all star. Façam o seguinte: já que não há como fugir disso, usem toda a Energia Positiva do mundo para não mais idealizar o bem nessa época do ano. Minha proposta é:

PRODUZAM ENERGIA POSITIVA, EMANEM PELOS POROS E PRATIQUEM O BEM TODOS OS DIAS DAS SUAS VIDAS!

Depois que fizerem tudo isso, escolham um bar bem legal e me convidem para compartilharmos as nossas boas experiências.

Um beijo!

Ju Marciano

setembro 20, 2007

eu falo. o simkão é demais. é sim. saca só:

O Grupo de Escritores da UniABC recebe Prêmio Desempenho Cultural

O salão nobre do Primeiro de Maio Futebol Clube, em Santo André, ficou lotado na noite da terça-feira (17/9), para aplaudir os Destaques do Ano da 14.ª edição do Prêmio Desempenho Cultural, em que 39 organizações relacionadas às áreas de entretenimento, lazer e ensino cultural foram homenageadas pela revista LivreMercado, uma das mais importantes publicações regionais do Brasil.

O Grupo de Escritores da UniABC, cujo patrono é o reitor Azurem Ferreira Pinto, foi agraciado com um troféu e automaticamente passa a concorrer ao prêmio dos Melhores do Ano de 2007.

O 14.º Prêmio Desempenho Cultural teve seus vencedores chamados em blocos. Em seu discurso, quase ao final da noite festiva, o editor da LivreMercado, Daniel Lima, ressaltou que “Cultura é essencial para o povo, assim como a Educação e a Saúde”.

Com o auditório completamente lotado, o editor fez questão de afirmar que “este é um evento da classe média que trabalha duro, mas também da elite que tem preocupações sociais”.

Em 13 de novembro serão anunciados os Melhores do Ano, os Melhores dos Melhores e o Melhor dos Melhores, entre cases corporativos de organizações privadas, governamentais e não-governamentais.Também serão entregues os troféus individuais aos Imortais e aos Imortais in Memoriam do Grande ABC.

O Prêmio Desempenho Cultural realizado na noite de terça-feira foi a terceira etapa do evento. Em maio foram entregues os troféus do Prêmio Desempenho Social e em julho do Prêmio Desempenho Empresarial.

Cases de todos os municípios do Grande ABC estão entre os Destaques do Ano do Prêmio Desempenho, situação que confirma o espectro de regionalidade da revista LivreMercado. Os 173 Destaques do Ano de 2007 são um recorde na história do Prêmio Desempenho e decorrem da segmentação da fase classificatória do evento em três categorias. A etapa final, em novembro, conduzirá os representantes das organizações homenageadas ao que o jornalista Daniel Lima, coordenador-geral da premiação, chama de "capital social".

Veja a relação dos Destaques do Ano do Prêmio Desempenho Cultural:


setembro 18, 2007

okay, babe, isso não é da sua conta, mas você venceu. vai ver eu sou hipócrita mesmo. daquelas que diz o que se tem de fazer, mas que não faz. mas se você também não faz essas coisas, então, a marciana aqui é você. é sim. você mexeu com meu brio e isso só reforça a minha antiga prática de guardar o que é meu só pra mim. esqueça. continue aí nas suas conspirações porque de mim você não terá mais motivos. aprendi, sim. coisa que eu deveria ter assimilado há mais tempo. o que sou por fora ou por dentro não é da sua conta. você jogou todos os meus esforços no lixo.

setembro 17, 2007

um adeus

assim, tem dias que eu acordo e percebo a dor sem a delícia de envelhecer. tem o contrário também - a dor com a delícia -, mas esta não me aflige no momento. abro o olho, levanto, vou lá, sento na frente do mesmo computador e, olhando pro mesmo monitor, digito aquele endereço que é diferente, mas que é igual. e hoje eu não acho legal. não mais como há cinco anos. isso me deprime porque eu queria ler tudo isso, dar um suspiro e soltar um "caralho, como ela é foda". mas não dá. porque eu não acho mais isso. e fico me martirizando porque eu não sei se eu mudei ou se foi ela quem mudou. e arranco os pêlos dos meus braços só de pensar que pode ter sido nós duas. é. no fundo, eu sei que foi isso. mas por que é tão estranho você constatar o que não gostaria? as coisas chegam, são contra tudo o que você tem aí na bagagem e pronto. é assim. será que eu fiquei brega? eu ainda concordo que ela é visceral, mas acho que se alimentou de mais da marra de viver. hoje, isso não faz sentido aqui, não. e sabe qual é o meu medo? que isso não faça mais sentido pra um montão de gente. sim. porque é agora que ela vai dar o que falar. deus, ela já está temendo isso. mas eu lhe desejo sucesso, seja lá por qual meio ou essência isso se dê. só quero que ela cause na meninada tudo o que causou em mim. não só a mania de escrever sem dinstinção de maiúsculas, mas a desvergonha (isso mesmo), de sair por aí se virando do avesso e mostrando pros outros o que você é por dentro. sem medo. sem pudor. sem nada. simplesmente fazer, guiada pelo impulsivo espírito de ser o que se é. às vezes, isso faz tão bem que eu sou incapaz de traduzir em palavras essa significância. e eu apenas gostaria que ela soubesse o quanto eu sou grata por tê-la encontrado neste cyberespaço. se eu tivesse a oportunidade, diria que, mesmo não me identificando mais, jamais cairia no mal gosto de criticar sua essência. a todos, me ouçam bem: essência não se critica! ouviram bem? ou você se identifica ou você abstrai. é isso. hoje estou abstraindo. não quero ficar mal por isso. e, se algum dia eu estiver na condição de citar referências, não tenha dúvidas, querida, você será a primeira. e não me importa se você está ou não cagando pra isso. porque eu também não estou.

good lucky!

agosto 30, 2007

cortei.

sempre quis fazer isso. cheguei perto outras vezes, mas nunca a ponto de fazer acontecer. fui lá. perguntei. imaginei. introduzi inúmeras pesquisas de campo. arrisquei o software. convenci uma amiga íntima do photoshop a fazer uma montagem. pensei. desisti. pensei de novo. me convenci e larguei de mão.

eu precisava de uma novidade de espírito. na ausência de alguém pra dizer que eu amo e de limite no cartão de crédito, não pensei duas vezes e fui lá. ao lugar que posso fazer o que bem entender na certeza de que afetarei apenas e tão somente a mim.

cortei.

cheguei e disse pra maria que queria ponta em tudo. paradoxalmente, sem nenhuma certeza do que estava dizendo. exatamente da forma como faço sempre de quase dois em dois meses. disse corta e ela cortou.

e eu não gostei.

dessa vez fui guiada pelo instinto e não rolou pesquisa de campo e nem reflexão. simples: você acorda, diz vou e vai. simples assim.

no primeiro dia, eu emanava novidade. passei mousse e fixador e me mandei. o pessoal aprovou e não concordou com a minha definição de estar parecendo mais velha. não discuti, mas não tive dúvidas de que estava ainda mais parecida com minha mãe. mamãe!

aí veio o domingo. testei a pomada que a san havia indicado, achei que gostei e me mandei pela segunda vez. o dia foi encerrado no cinema e, olhando as atrizes, não pude me convencer sequer do razoável.

então chegou a segunda e, com ela, alguns comentários consistentes. levei uma encarada sinistra e totalmente avaliativa do zulinho, que se findou com um indecifrável "gostei". tá bom.

conseqüentemente, chegou a terça. a pomada deixou tudo uó. irritada, ignorei o espelho e me mandei pela terceira vez. acho que as coisas não estavam bem mesmo porque o dia não foi digno de um comentário sequer.

e finalmente veio a quarta, gritando uma mudança estratégica. troquei a pomada pelo antigo creme de pentear e um conformismo tomou conta, literalmente, da minha cabeça. mas só até a hora do almoço, quando o paulinho inevitavelmente concluiu que eu estava parecidíssima com a velma, do scooby doo. vermelho. curtinho. de óculos. hã. deixa pra lá.

só que não adiantou. chegou a noite e, nos preparativos para o jantar japonês, a marcitchas, que não faz idéia de quem seja o paulinho, não pôde evitar a comparação: ju, você está parecendo a velma! nocaute. me convenci.

escrevendo esse texto, lembro-me que eu só queria ponta em tudo e que, de ponta mesmo que é bom, não tem nada. pelo menos não do jeito que eu idealizei. o jeito é esperar crescer e evitar o espelho. será que vai ficar muito estranho se eu adotar o boné?!

agosto 15, 2007

memórias que fizeram de mim quem eu sou.

é.

essa é a minha lição de casa.

vou ali tentar me lembrar e já volto.

agosto 02, 2007

que você desça desse ônibus, tropece banalmente no esgoto mais próximo e morra afogado em excrementos de ratos e de seres medíocres da sua espécie.

que o universo vomite em você todos esses dizeres numa intensidade triplicada pela revolta, impotência e indignação que aqui apresento.

que as palavras de perseverança que eu disse ainda ontem na frente daquela câmera reconstitua esse meu espírito ferido pela violação à conduta de um ser humano digno, que se levanta todos os dias às seis da manhã para ganhar de forma decente o montante vergonhoso que paga as contas da família, e ainda assim não garante reconhecimento ou insenção da obrigação, assuntos estes que não vêm ao caso.

não vou rezar esta noite porque meu gênio impulsivo, tenho certeza, vai responsabilizar deus e o lula que, coitado, têm muitas vaias brasil afora com o que se preocupar, ao invés de perder suas horas preciosas refletindo na criminalidade e violência que tomam conta das cidades.

pensando bem, vou reconsiderar esta decisão e rezar, sim. mas só, seu verme maldito, para você observar as fotos daquele celular e se sensibilizar com o sorriso lindo daquela criança, cujo momento específico ficará para sempre gravado apenas na minha memória.

rezarei, ainda, para que você veja as imagens daquela casa, daqueles cachorros e de todas aquelas pessoas felizes, e se digne a levar a sua vida pela força de um trabalho honesto e não sobreviver às custas do esforço alheio.

rezarei também para que você ouça as músicas daquele mp3, seja influenciado de alguma forma, e encontre serenidade de espírito e sensibilidade nessa sua alma depravada, com a mágica do bem transformadora que a música causa nas pessoas.

torcerei para que você seja guiado por uma curiosidade que, embora suja, o leve a abrir aquela apresentação profissional no power point e seja despertado pelo desejo e vontade de ser inserido no mercado de trabalho, o qual inclusive ratos como você têm direito nessa democracia podre em que vivemos.

sei que você deve estar rindo em algum lugar e exigindo de mim agradecimentos por eu ainda ter ficado com a minha carteira e a minha vida. pois fique sabendo que não estou agradecida a isso simplesmente porque me recuso a declinar a comodismos convencionais como este. fique sabendo também que, por mais que eu tenha certeza de que esta é uma questão de cunho moral e administrativo, não dedicarei culpas ao governo. não andarei por aí reconhecendo você face a face. saiba você, seu escroto, que prossegui no meu caminho: encontrei minhas amigas e vi o filme que tinha em mente. amanhã acordarei novamente às seis horas e tentarei chegar mais cedo ao escritório para colocar em dia a apresentação que você me impediu, e me disponibilizarei além dos limites para aceitar mais freelas e conseguir pagar por três celulares ao mesmo tempo, situação que seres limitados como você me obriga.

e, acredite, não me sensibilizarei diante de cenas sórdidas nas prisões do estado vitimando seres da sua estirpe, liricamente apresentadas pela tevê e pelo cinema. não derramarei lágrimas diante de relatos de vítimas da própria índole e circunstância, justificando a criminalidade como singelos métodos de sobrevivência.

se ainda não entendeu, no português que está acostumado, quero que você se FODA e que ao mesmo tempo seja tão fodido a ponto de que, propositalmente, tudo o que te dá prazer na vida vire do avesso.

julho 15, 2007

às vezes me convenço
que a amizade
é um estado
quase árabe
de espírito

julho 12, 2007

Sabe, eu gosto de pensar que literatura é a atividade mais solitária que existe. Sabe por quê? Simplesmente porque você escreve pra você. É uma atividade que depende única e exclusivamente de você. Claro que tem lá o desejo de ser lido, compreendido, surpreendido. Mas isso é raro. O verdadeiro lance é achar exatamente o ponto que a literatura te ajuda. Pra mim funciona como uma análise. Meu blogue é como se fosse meu analista. Vou lá, crio coragem, digo um monte de coisas e saio correndo. Eu acho que antigamente as pessoas eram mais sensíveis, sim. A diferença é que naquela época existiam poucos frustrados no mundo. As mudanças não eram vistas a longo prazo e as pessoas não trabalhavam com o tempo escorrendo pelas mãos. Hoje é diferente. Outras épocas. Entendo o que você diz porque sofro do mesmo mal. Exatamente do mesmo mal. Mas você precisa transformar a literatura na sua grande aliada. Escrever desenfreadamente sem a ânsia sufocante de achar que aquilo vai cair como uma luva em alguém. Escreva pra você. Deixe que caia como uma luva em você. E o que vier será lucro. E também é importante que você não force. Deixe que a atividade flua. Na hora que tiver de vir, virá. Com um pensamento, uma cena, uma música. Não desanime. Entenda que a literatura é algo de você para você. E pronto.

julho 10, 2007

Entre umas e outras

Uma anda pelo mundo atrás de respostas. Por quês. Comos. Serás. Todos lançados ao vento desenfreadamente. Tem dias que duvida do feito de suportar e, sabe-se lá como, apenas consegue. Em alguns momentos pensa ter chegado no resultado, mas o minuto seguinte vem e desfaz tudo outra vez. Concluiu que esse é o segredo de viver: dá-se um passo, lança-se um pergunta e pronto - sai correndo atrás das respostas. Quem consegue alcançá-las é feliz. Quem pensa que alcançou passa a vida oscilando entre risadas e lágrimas. E os que ainda estão na busca nutrem-se de esperanças ou simplesmente desistem. Destes é que ela tem medo. Provavelmente, porque sabe exatamente o que sentem e o que não querem, assim, na íntegra.

A outra é dona de si. Guerreira e vítima na medida certa. Entende os contextos porque os constroi com as próprias convicções. Se sente medo e acha que é o momento de recuar, simplesmente recua. Não apresenta justificativas, não pede permissão, não calcula limites e vai. Até onde a sua vontade permite. Vive um dia após o outro. Apaga as decepções como se apaga uma equação que não está certa. Assopra os fiapos e recomeça. Se parasse para refletir o que se passou, talvez desejasse ser outra pessoa. Mas acha que a vida é curta demais e prossegue. Não sabe se tem medo porque não se permite bloquear um impulso. Acredita que a felicidade está nas tentativas. E talvez ela esteja certa.

Entre umas e outras, no fundo, desejo que uma seja a outra.

julho 03, 2007

Deixando as Amarras

Sabe que eu descobri que nós temos muitas coisas em comum? O Jazz me fez perceber. Talvez você não saiba quem é a Amy Winehouse e nem a Diana Krall. Talvez você conheça bem a Ella e a Billy Holliday e até poderíamos emendar uma conversa longa falando sobre elas e sobre outras tantas que eu ainda não tive a oportunidade de descobrir. É engraçado porque eu me lembro das nossas brigas no carro pelas músicas que tocavam na rádio. Eu dizia que não queria ouvir música de velho e você arrebatava, dizendo que era música de inteligente. Hoje vejo que você está coberto de razão.

Acho que você adoraria saber que hoje eu lamento muitíssimo por não ter prosseguido com aquelas aulas de órgão em que me matriculou. Aulas que eu detestava porque tinha que deixar minhas amigas brincando nas tardes de sábados ensolarados e suportar o professor chato que, ao invés de dar atenção às alunas, ficava cortejando a minha irmã. Se naquela época eu tivesse o dom da argumentação como tenho hoje, talvez eu o teria convencido a me matricular nas aulas de violão. E enquanto você me falaria sobre os deuses dos teclados, eu lhe falaria sobre Zélia Duncan e Menescal e Gilberto Gil. Seriam papos interessantíssimos.

Engraçado, mas descobri que somos tão iguais. Você não imagina isso, não é mesmo? Mas somos. Não chego a ter o seu gênio, esse foi herdado pelos outros. Mas tenho a sua mania de se indignar perante as coisas. Sabe aquela coisa de falar, falar, falar, se cansar, tomar fôlego e falar de novo? Minha mãe quer morrer quando isso acontece e eu a entendo porque isso deve fazê-la lembrar você. Você deve se lembrar da nossa última discussão. Eu lá em cima e você lá embaixo. Cada um com a sua verdade, meu deus, aquilo não teve um fim. Foi pior do que quando eu disse a você que pela primeira vez que votei no Lula. Aposto que você morre de vontade de olhar na minha cara e despejar um fatídico "não te falei". Ou talvez até despejar outras coisas que não me fariam diferença. Como quando você fez questão de me prometer aquele anel de formatura que eu jamais usaria. Você me vê usando um anel de formatura?

Às vezes tenho vontade de pegar um avião e ir até aí pra te encarar de frente. Quem sabe mostrar minhas tatuagens e falar dos meus amigos gays. Sabe que morro de vontade de saber o que você pensa sobre isso? E se eu te falasse que aquela minha prima, que você tanto gosta, é gay? Juro. Não quer acreditar, não acredite.

Se eu pudesse em algum lugar do passado me encontrar com aquela menininha mimada e pirracenta, cara, não tenha dúvidas de que eu a ensinaria a ser gente. Diria a ela para comer menos e provaria por A+B que ganhar ou não presente no natal não faz a menor diferença. Mas eu bateria palmas toda vez que ela fizesse uma cena para unir a família na mesa. Ah, se bateria. E também faria com que ela lesse muito mais e amadurecesse um pouquinho mais rápido. Assim, quem sabe a sua empresa teria resistido ao tempo e aos avanços da modernidade? Talvez, nossos problemas com dinheiro seriam outros, talvez maiores, e o prazer de ver algo nosso ir pra frente ofuscaria os olhos daqueles dois que não souberam aproveitar o que tinham.

A vida está complicada, não é mesmo? Por aqui, tudo inteiro. Os cachorros continuam latindo, os inquilinos deram um tempo. Ou nós demos, não sei ao certo. Continuo pagando as contas e estudando. De vez em quando dá vontade de falar com você sobre isso, mas não me adiantaria muito. Na maioria das vezes é melhor falar com quem está de fora porque as verdades soam mais realistas, se é que isso é possível. Quero entrar na sua casa qualquer hora dessas para pegar os livros. Eles devem estar carentes de olhares, afinal, estão há tanto tempo esquecidos. Ainda são seus, mas considero meu maior tesouro.

O Jazz me fez dizer tudo isso. E tem um montão de outras coisas que ainda estão aqui e prefiro que aqui fiquem. Você poderia ter sido lembrado por muitos motivos e foi logo me aparecer com o Jazz.

junho 25, 2007

Os bons morrem cedo

Os bons morrem cedo. Foi assim com Cazuza e Renato Russo. Foi assim com Elis Regina, e Ayton Senna também entra na lista. Nara Leão, justiça seja feita, não poderia faltar. A lista é extensa, a ponto da minha memória não suportar todas as lembranças e tornar as injustiças incalculáveis. O que me causa menos martírio é o fato destas grandes figuras ter ido cada uma ao seu próprio tempo, deixando frutos suficientes para torná-las lembráveis por muitas gerações que ainda estão por vir.

Mas não tenho tanta certeza se este pensamento se encaixa a um time que, dentre tanta gente igualmente importante e talentosa, destacam-se Arthur Dapieve, Carla Rodrigues, Paulo Roberto Pires, Sergio Rodrigues, Tutty Vasques e Zuenir Ventura. Explico: se estão partindo desta para uma melhor, duvido! Ainda continuam no plano terreno, mas em momento de pré-sepultamento do NoMínimo, triste notícia que me pegou de surpresa neste início de segunda-feira.

O NoMínimo existe desde 2000, dando continuidade ao finado No que também se extinguiu. Trata-se da revista eletrônica de melhor qualidade na Internet Brasileira, que reúne um refinado time da velha (e em forma) guarda jornalística, sem economia de intelegência, bom senso e, claro, o tempero que não pode faltar aos brasileiros: humor. Quem busca na filosofia e na psicanálise explicações para o caos moderno, lamento dizer, mas está indo ao lugar errado. Os verdadeiros pensadores, como oráculos, revelam tudo o que é preciso saber por meio de um charmoso endereço de website. Mas isso somente até o próximo sábado.

Como toda instituição que depende de patrocínio um dia se vai, não poderia ser diferente com o NoMínimo. Uma pena para quem sempre buscou jornalismo sério, sem jabá, sem censura, sem unilateralidade.

Uma homenagem quase póstuma do Proseando à melhor revista eletrônica brasileira.

Tem deus que não sabe o que faz.

junho 19, 2007

Extra! Extra!

No dia 5 de julho, às 18h30, o Grupo de Escritores da Uniabc se reunirá com o Grupo de Escritores da Casa da Palavra de Santo André para um mega bate-papo. Compareça e conheça os integrantes dos Grupos, as suas inspirações literárias, autografe o seu livro e - por que não? - libere o escritor que há dentro de você.

O encontro será na Casa da Palavra, (Praça do Carmo, 171 - centro de Santo André), e a entrada é franca.

Vejo você lá para uma prosa daquelas!

junho 14, 2007

Ao acaso

Cheguei por volta das nove da noite no ponto do lotação e decidi, entre cachorros perdidos, bêbados e churrasquinhos, esperar o próximo carro para poder ir sentada. Parei no fundo do veículo com uma voz implorando baixinho no meu ouvido para me sentar no assento à esquerda, mas eu queria algo não convencional e optei por me sentar no centro. Depois de alguns minutos liberando as mais positivas das vibrações para que a partida não demorasse, eu tive a visão. E imediatamente me lembrei de que algum dia alguém havia me perguntado se eu acreditava em amor à primeira vista. Eu disse que não sabia. Já me perguntaram sobre uma série de outras coisas também e eu disse simplesmente que não sabia. Se eu tivesse lido a entrevista do Pedro Cardoso há mais tempo, teria sido malcriada e desabafado sobre essa mania feia que as pessoas tem de achar que eu devo ter opinião sobre tudo. Não sou famosa para carregar esse estigma e também não sou nenhuma multi-intelectual. Não sei nada sobre uma série de baboseiras e sobre outra série de coisas importantes que eu deveria estar correndo atrás nesse momento. Sei sobre os dez gigas de músicas que meu computador abriga e do fato de que nenhuma delas é a que eu quero escutar nesse momento. Sei de pessoas que eu gostei tanto, tanto e que hoje já não gosto mais e não tenho coragem de assumir. Sei que eu gostaria que houvesse uma porta no meu quarto, que me separasse de todo ruído mundano porque o barulho da panela de pressão está me enlouquecendo. Sei que eu gostaria de dar uma surra no infeliz que achou o meu celular e não atendeu nenhuma das dez milhões de vezes que eu tentei ligar pra ele até fazer parecer que acabou a bateria.

Não, eu não sabia se acreditava em amor à primeira vista. Até aquele momento. Como é possível você sentir atração por uma pessoa, à qual sequer ouviu a voz, não sabe o nome, aonde mora, o que faz da vida, o que pensa sobre o mundo? Quem me conhece sabe que esse tipo de coisa jamais aconteceria comigo. Mas eu fiquei lá, deslumbrada com a combinação da roupa, a composição do estilo. Tudo. Do corte de cabelo ao all star nos pés. A postura ereta na minha frente e as covinhas com a risada sincera ao entregar seus pertences à gentil pessoa que estava à sua frente. E esta poderia ter sido eu, se meus instintos tivessem sido ouvidos. Isso não era tudo: a leitura, ainda que em pé, de um livro com capa vermelha clássica. Não havia dúvidas de que o havia adquirido em um sebo. Lembrei-me imediatamente do meu exemplar de “O Retrato de Dorian Gray” porque pertenciam à mesma coleção. E traziam na bagagem um histórico longo de muitos olhos que por ali passaram. Porque a leitura de um livro adquirido em sebos é sempre mais prazerosa do que os comprados intactos numa mega store. Além da história do livro, traz consigo as inúmeras histórias de quem o leu. Isso não me foi dito em palavras, mas não foi preciso para saber que temos a mesma opinião. Quando esse tipo de coisa acontece com você, muitos são os pensamentos que afloram. Tenho certeza de que aquilo fora um sinal divino, destes que sempre invoco sem perceber. E foi impossível não se reprimir desde já, por deixar a oportunidade passar em vinte minutos que formam o percurso do coletivo. Algumas idéias deram o ar da graça: caso saltasse antes de mim, eu iria atrás para tentar alguma mágica que fizesse com que ao menos nossos olhos se encontrassem. Se saltasse depois, eu permaneceria lá, apreciando por mais um tempo aquele momento. Ou poderia escrever meu telefone num pedaço de papel e entregar, assim, sem mais nem menos. Pelo menos ficaria a esperança de uma ligação inesperada num momento qualquer. Mas isso pareceria imensamente clichê e seria o tipo de coisa que eu mesma não toleraria se acontecesse comigo. Além do mais, seria chamada a atenção de todos os presentes. Então, restou-me ficar lá entregue ao grau máximo da observação e invocando o milagre como se eu fosse a mais devota das religiosas. Mas chegou o momento e nada aconteceu. Suspirei fundo, levantei, olhei à minha volta e veio a oportunidade. Tocando em seu braço num primeiro encontro de olhar, pedi:

- Você pode dar o sinal, por favor?

Com o sorriso metálico mais charmoso com qual já me deparei, disse que sim e assim o fez.

Saltei do veículo e ainda houve tempo de notar que ocupara o meu lugar. A porta se fechou e nos separamos mantendo um olhar fixo no outro até que isso não fosse mais possível.

maio 23, 2007

Verde

As pessoas no seu silêncio conseguem mostrar o que há de mais verdadeiro dentro de si. O aspecto de dor fatalmente é revelado num semblante triste, ausente de palavras e rico de olhares perdidos. Pensamentos embaralhados tentando responder questões sem um pingo de concentração. Então você se esforça para encontrar um fiapo de alegria num rosto irreconhecível, mas não adianta. Nem mesmo aguçando a mais fértil das imaginações. E de repente tudo pode ficar pior com a presença de um ser de branco. Não sei porquê, mas dizem que isso faz amadurecer. Você só fica aguardando o momento. Tenta uma revista. Uma música. As pessoas olham pra você e, graças a alguma coisa, você permanece lá.

Verde, por enquanto.

maio 07, 2007

brasileiros são seres inconseqüentes. há não muito tempo, cerca de cinqüenta anos, talvez, essa inconseqüência era semeada para o bem. o resultado está aí: toda a evolução no cenário político, social e cultural que temos hoje. em alguns pontos, precária, diga-se de passagem. mas, na maioria deles, memorável. foi com esse espírito de possibilidades e de um saudosismo platônico por não ter vivido uma época tão rica, que acompanhei o espetáculo "cara e coração", com moraes moreira e armandinho. um espetáculo de 1.977, época em que os jovens eram diferentes e direcionavam a sua, bem, a sua racionalidade, não para apologias à violência ou rotulações de bicho-papão aos policiais. havia luta por uma vida melhor, por um cenário político melhor. uma supervalorização da cultura. os frutos da minha geração sabem o que é isso? a arma mais poderosa eram as palavras, as canções. não os murros e pontapés e destruição de bens alheios.

com o coração roxo. foi assim que deixei a minha casa hoje cedo, ao ver pela televisão o bangue-bangue que os jornais mostraram desde a madrugada de domingo, quando a polícia se confrontou com pseudos-apreciadores-de-música, vulgo vândalos, no meio da apresentação dos racionais mcs. ou seriam irracionais? depende do seu ponto de vista.

toda forma de amor vale a pena, disse pessoa. e eu digo que toda forma de cultura também. e foi essa a proposta da virada cultural deste ano - um coquetel de muita música brasileira, valorizando todos os estilos - dança, ópera, teatro, música e teatro, assim, tudo junto, e muitas pessoas que normalmente não se interessam por esses temas, lá, embriagadas do melhor que uma cidade do tamanho de são paulo pode oferecer. e você liga a tevê e se depara com uma proposta que deveria ser unicamente cultural, misturada à pancadaria. isso faz a gente esmorecer. mas só por um momento. porque, repito: toda forma de cultura vale a pena.

espero que os bons apreciadores das artes e suas manifestações continuem criando propostas como estas. propostas para o povão. sim, aqueles que não tem dinheiro para ver um show numa casa de espetáculos, mas aqueles mesmos que, no meio de gente, suor e euforia, sabe emanar uma energia que dinheiro nenhum nesse mundo pode comprar. porque as artes estão aonde o povo está. e enquanto existirem propostas assim, a minha indignação será vencida por um fio de esperança!

como lindamente cantou zelinha:

"na medida do impossível tá dando pra se viver. na cidade de são paulo, o amor é imprevisível..."

abril 18, 2007

então. quando a minha vida cansa de ser mansa e minha trilha sonora cansa de ser comportada, a raíz da essência dá o ar da graça e de repente tudo continua fazendo sentido aqui dentro.

pareço lispectoriana, mas na verdade estou é psicodélica. fazer o quê? a gente fica assim quando nasce nos anos 80 e perde a fase hippie do mundo. depois a fase yuppie. e depois, oh, a fase mutantes.

aí a zelinha aparece e faz o velho ser novo de novo, assim, como mágica.

e quando, mutante, a gente volta do show dos mutantes, fica assim, ó:

“meu sangue é de gasolina
correndo não tenho mágoa
meu peito é de sal de fruta
fervendo no copo d'água.”

abril 03, 2007

Cíntia Moscovich? Minha ídala. Não é porque foi mencionada pela Marcia Tiburi, não. Sei dela de tempos, ó! Desde o "Duas Iguais". Mas digo o que digo por isso aqui, a respeito dos "Amores Expressos". Toma:

"(...) E vamos acabar com isso que literatura é a mais barata das formas de expressão, que caneta e papel é tudo o que basta, como diria o Jerônimo Teixeira na matéria da Veja que acaba de chegar. O sujeito que escreve demora um tempão escrevendo com caneta e papel. E tempo é dinheiro. Literatura não é baratinho, não senhor. Dá úlcera e depressão (custa remédios). E custa um tempo enorme de reflexão e de refazer tudo de novo. Mesmo que alguns jornalistas digam que é balela e que escrevam no rabo das horas sobradas da redação, a realidade não é bem assim. Literatura se faz queimando pestana em cima do texto. Não é com qualquer cartão de crédito que se compra dedicação deste tamanho.Na próxima, me convidem. Não esqueçam."

abril 02, 2007

estou aqui tentando ser mais séria, mas está difícil.

posso ser séria, desde que meus cabelos continuem vernelhos.
desde que eu possa exibir minha tatuagem.
e desde que eu possa calçar meu all star.

posso ser séria, desde que eu possa continuar fazendo as pessoas rirem
do que elas consideram sério.
desde que eu possa conversar com meus cachorros
e desenhar carinhas engraçadas com mostarda e catchup.

posso ser séria, desde que eu possa assistir ao super pop
e ao tv fama, ao invés do jornal nacional.
desde que possa brincar no chão com o vitinho
e colecionar brinquedinhos do mc lanche feliz.

sei que posso ser séria, desde que não me coloquem para falar inglês com um alemão
e desde que eu não precise dar maiores explicações sobre meu sobrenome.
desde que eu não tenha que negociar valores
e, sério,
desde que eu não tenha que passar por uma crise numa sala de reunião.

posso muito bem ser séria, desde que eu não tenha que conter meu riso
nas situações que, para mim, forem naturais.
porque a seriedade nada mais é do que uma certa presença de espírito -
e se ela não atinge a alma é sinal de que permeamos a felicidade.

março 29, 2007

observação 1: sim. isso aqui está parecendo "meu querido diário".

observação 2: falo tanto de bar e de cerveja que daqui a pouco vão me obrigar a inserir o seguinte aviso: "o ministério da saúde adverte: leia o proseando com moderação".

observação 3: estou escrevendo minha vida num parágrafo só. percebeu?
conversando com uma amiga outro dia, perguntei eufórica: "cara, você viu o saia justa da última quarta?". ela, com aquele olhar de quem libera pensamentos do tipo "só a juliana mesmo, pra vir com esses assuntos", lançou enoooormes explicações dizendo que até assiste ao programa, mas somente quando a mulherada se dá ao sensato trabalho de ao menos ouvir o que a outra está falando, sem prosear ao mesmo tempo. poxa vida, mas não é esse o verdadeiro lance do programa? - pensei. e então eu descobri porque gosto tanto do dito: sou mulher. sou igualzinha a todas elas. tenho um quê ridículo de beth lago. tenho aquele ar de surreal da marcia tiburi. sou provida, vez ou outra, de momentos sérios como a mônica. e sou meio pseudo-intelectual igual à maitê. okay, me falta um pouco de modéstia também, mas aí já estou falando do lado juliana mesmo. ocorre que o saia justa, na minha opinião, é um dos melhores programas que a tevê exibe ultimamente. tem muita babaquice, é verdade, mas também há um super interfone ligado ao mundo. você se sente na sala da sua casa, falando com suas amigas. ou numa mesa de bar. discute-se política, sociedade, literatura, música, mulherices, etc etc etc. e não tem nada melhor do que falar de tudo isso munida de um certo pesar, mas ainda assim com humor. ultimamente tem sido assim: eu choro com os telejornais, limpo as lágrimas, espero a noite chegar, ligo a tevê e morro de rir com o saia justa.

março 28, 2007

acordei meio reflexiva hoje. parece coisa de "meu querido diário", mas não é não. fui de ana carolina no coletivo, mas não deu muito certo e voltei à pink mesmo. foi uma maneira que encontrei de me manter acordada. levei uma encarada sinistra da cobradora e pensei "é, as coisas não devem estar fáceis pra ela", e foi então que me ative às questões do mundo. seguinte: você pára e pensa "god, como eu cheguei até aqui?". pensa bem: pode ter sido escolha - sua ou dos seus pais, não importa -, pode ter sido um fatídico "deixa a vida me levar e a gente vê aonde se chega", pode ter sido a conspiração de alguma unidade mor ou sei lá o quê. culpa da cobradora. pensei no seu olhar, na sua posição um tanto corcunda no assento do coletivo e em todas aquelas centenas de pessoas subindo e descendo. pela janela, fiquei rente a um caminhão - de mudança, acho - e não pude deixar de observar seus dois ocupantes. o fulano sentado no lugar do passageiro estava meio cabisbaixo e, do nada, pensei na sua hipotética família: sua hipotética mulher levantando cedo para preparar o café preto e sua marmita, seu hipotético filho fazendo corpo mole para não ir à escola e na sua preocupação por pagar a conta de luz até o fim da semana. pensei de novo na cobradora. e na minha teoria de que tudo na vida é uma questão de escolha. será que a cobradora gosta de ser cobradora? e o cara do caminhão gosta de ser ajudante? e eu gosto de estar onde estou agora? o mundo é da classe A, alguns brasileiros consolados diriam. o mundo é dos espertos, eu diria. e, diante de muitos outros questionamentos, fico me perguntando como é que a gente cai tão facilmente na indiferença? não digo em relação à sociedade em geral, mas em relação a si próprio. pensa de novo: você morre de vontade de sair de casa pra morar na sua própria casa. por que é que não sai? você morre de vontade de escrever um livro. por que não escreve? você morre de vontade de ajudar o velhinho a atressar a rua. por que não ajuda? a gente sempre acaba caindo no velho discurso reclamante com a bunda sentada na cadeira. vez ou outra, com um copo de cerveja na mão. mas não sai disso. não se nota que a indiferença propriamente dita, muitas vezes, não está no não refletir. está, pura e simplesmente, no não fazer. a gente até assiste ao telejornal pra se atualizar um pouco, mas eles ajudam mais na alimentação do nosso desconsolo do que numa saída prática para essas questões. a gente até tenta ler um bom livro, mas a coisa acaba ficando só pra você mesmo porque a maioria das pessoas não busca soluções em livros. às vezes, você até consegue desabafar com alguns corpos presentes, mas, em outras vezes, você cria um blogue, abusa da mania de falar sozinha, e despensa as suas frustrações nele. não é fácil para a cobradora e também não é fácil pra mim.

março 27, 2007

falando em falar sozinha, quando eu mudei meu template, os comments sumiram. bau bau! caput! desapareceram. e, não sei se notaram, mas o contador de visitas também. aí eu até pensei em ir atrás e fazer tudo reaparecer. mas quer saber? vou nada. porque eu gosto de falar sozinha. sofro dessa maldita síndrome do individualismo. e olha que nem filha única eu sou. volta e meia ela vai embora e eu fico meio pop, mas a verdade é que a minha verdadeira essência depende um pouco do ser só. não me importo se tem alguém ouvindo quando estou cantando. nem mesmo se alguém vem se aproximando quando estou vendo alguma série erótica. estou no meu espaço e, se alguém tem que se sentir envergonhado por alguma coisa, que seja quem se aproxima. é a arte de criar a sua própria bolha e então fazer o mundo parecer mais fácil. estou tentando aprender a arte do despudor também. mas vai ser muito difícil eu expor as minhas gorduronas pra fora da calça, por exemplo. ou fazer sóbria o que eu faço quando estou bêbada. aliás, bom assunto esse. que mania, essa que as pessoas tem de julgar. tudo bem, tudo bem, eu detesto indiferença, mas sair julgando atos e pensamentos alheios? ora, bolas! olhar para o próprio umbigo de vez em quando é enriquecedor. as pessoas deveriam tentar. quem, eu? estou tentando, meu caro. estou tentando.

março 26, 2007

porque eu converso com a tevê, sabe como é? é, sim. os caras ficam lá falando e eu falo de volta. tem dia de manhã que eu me emociono até com o jornal. com a porra dos cinqüenta anos da união européia. pode isso? e mando o chavez pra putaquepariu porque ele decidiu reintegrar terras pra criar gados. okay. cada povo tem o presidente que merece e eu tenho o lula. deveria guardar minhas lágrimas para o meu povo, né não? mas tá bom, tem lágrimas pra todo mundo. e comentário pra tudo também. porque eu estou voltando ao estranho estado de ter a resposta na ponta da língua pra quem quer que seja. falar com a tevê e sozinha no coletivo é coisa de doido. de marciano mesmo. daqui a pouco vou conversar comigo mesma sobre meus segredos e todo mundo vai ficar sabendo. quando era pequena e sentia que estava crescendo - essa coisa de adolescente, sabe? -, eu tinha o estranho medo de que as pessoas ouvissem o que eu pensava. e outras coisas do tipo "será que o amarelo pra mim não é verde pra ele?". pois é. só depois eu fui perceber que não adiantava ter esse tipo de medo porque os pensamentos eram audíveis sim, senhora. e a certeza da vez é: tenho medo de mim.
hoje me sinto um pouco perdida nos labirintos das minhas dúvidas. coloco as esperanças todas no tempo - essa minha arte de buscar esperança! - e ouço o calm down na minha cabeça com a mesma freqüência que entôo o será?!

aí eu venho até aqui, escrevo isso aí em cima e novamente não me reconheço. antes que eu apague tudo, toma!

março 08, 2007

descobri que sou uma negadora nata, daquelas que negam a essência, os problemas, as alegrias, os anseios.

em relação a você, muita coisa deixou de ser negada. só você teve o dom de me causar certas sensações. jamais neguei que passar madrugadas ao seu lado, filosofando sobre a vida e rindo das nossas histórias com nossos amigos foram momentos impagáveis.

jamais neguei que minha vida cheia de gente hoje foi desenvolvida me espelhando em você.

jamais neguei que minha paixão musical nasceu por sua causa, ainda quando falávamos de bossa nova, da dany gato e da zelinha.

jamais neguei que a profissional juliana hoje foi inicialmente idealizada por você, graças ao seu feeling de sacar pessoas e aproveitá-las - não se aproveitar delas. não entendo bem o porquê, mas não me sinto aproveitada negativamente por você. porque o amor é capaz de justificar até o injustificável.

jamais neguei que você sempre foi uma boa pessoa. até hoje insisto em acreditar que os nossos desvios ocorreram por conta de um coração deixado de lado - o seu.

jamais neguei que sempre quis o seu bem, mesmo quando você jogou na minha cara que minhas reais intenções eram outras, bem outras. mesmo não encontrando fundamento, decidi não invocar qualquer espécie de explicação. prossegui jamais negando que você deu alguma espécie de sentido à minha vida, me abrindo os olhos e os fechando de vez em quando.

jamais neguei que enxergava uma importância tremenda quando, trabalhando, você me despertava com um "oi" do outro lado da linha. ou quando eu ouvia pelo celular "alô alô marciano", carinhosamente dedicada a mim.

jamais neguei que encontrei verdade nas suas palavras - das primeiras às últimas - e por isso estou aqui te libertando do meu coração. e acredite, também não nego que minhas decisões tenham sido impróprias.

de tudo, hoje percebo que você foi a minha única não negação. e esse tipo de coisa somente acontece quando há amor, aquele amor parecido com o maior do mundo. não o de mãe ou o de filho - quase isso, o de amigo.

não nego aqui que jamais senti saudades. que jamais senti vontade de pegar no telefone e te contar sobre o beijo que eu dei, o livro que eu li, o show que eu fui. ou de sair por aí perguntando de você, mesmo sem haver necessidade porque todo mundo me traz notícias suas. não me atrevo negar que fico desesperada quando a notícia que chega é que você está aflito com alguma coisa.

não nego em circunstância alguma que o nosso fim fez em mim um estrondo horrível.

assumo e não nego que passei os últimos doze meses engolindo o choro e que a minha técnica de espairecer foi por água abaixo, libertando soluços sofrridos, logo depois que o avistei vindo na minha direção e eu levantei a cabeça e apressei o passo.

não nego você porque, como diz Drummond:

"de tudo fica um pouco
às vezes um botão
às vezes um rato."

não acho que seja possível pôr um fim no fim. novidade de espírito não tem nada a ver com espírito evoluído. não acho que mudei muita coisa ou que esta situação deva ser mudada. também não busquei em nenhum momento o "dizem por aí", mas acho que você tem o direito de saber como eu me senti durante todo esse tempo. como eu me sinto agora.

apenas isso.

como não tenho culhão pra dizer tudo isso pessoalmente, lanço minhas palavras ao cyberespaço.

março 06, 2007

porque é assim: eu não sou pessoa de uma pessoa só.
de um amigo só, de um ídolo só,
de uma música só ou de um livro só.
minhas, são muitas as teorias.
sou de todo mundo - uma condição quase tribalista.
dificilmente sei eleger o melhor,
o mais bonito, o mais inteligente.
meu negócio, ó, é gente.

fevereiro 12, 2007

Okay. Acho que a estas alturas, vocês devem estar pensando que era tudo uma brincadeira. Ou alguma alucinação. Hein? Mas não. Não mesmo. Minha notícia já tem formato. Tem uma carinha linda. E foi escrita a 18 mãos. Taí: duas crônicas na 1ª Antologia Literária do Grupo de Escritores da Uniabc:



Além da dedicação dos 18 escritores, este trabalho apenas foi possível graças e tão somente ao engajamento do Simkão. Sim, ele mesmo, o Sergio Simka. O cara que também me ofereceu oxigênio para mergulhar de volta e bem fundo no mundo da escrita. O meu eterno agradecimento a você, Simkão.

Mais novidades sobre este ilustre lançamento no blogue oficial do Grupo de Escritores da Uniabc, bem aqui.

Como diria o Simkão: "saudações literárias"!

fevereiro 09, 2007

Após cervejas, lamentos e muitos risos, a vida parece que fica mais leve. Não leve no sentido de que o álcool seja um grande brutamontes afastador de problemas perigosos que a gente tem quando normalmente está sóbria. Mas no sentido de deixar a mente predisposta a entender o mundo interior, refletido como num espelho no mundo exterior. Ou vice-versa, não sei ao certo. A questão é que aquelas cervejas entraram em mim com o ilustre objetivo de me trazer de volta ao meu mundo, aquele que eu quis, depois não quis mais e que agora quero de novo. Não importa. É o meu mundo. Com oxigênio do bom, mergulhei num passado do qual eu tinha me esquecido. No tempo que eu escrevia melhor, tinha idéias bacanas e não tinha medo de sair escrevendo. Tempo que a Clarah era minha ídala e a Maria Rita ocupava um lugar semelhante ao da Zelinha. Tempo que eu era mais crítica e tinha as idéias melhor organizadas. Tempo que eu me recusava sofrer do coração e não levava a vida tão a sério. Tempo que eu conquistava amigos com uma facilidade inenarrável. Tempo que eu não tinha uma montanha de contas a pagar e via meu empreogo como o maior desafio da minha vida. Tempo que eu dizia que escreveria um livro e me jogava de corpo e alma nessa idéia. Tempo que eu surpreendia facilmente. Tempo que este blogue sequer existia. Agora eu vejo o tempo atual e não consigo entender como congelei desta forma. Tenho que sair à procura do meu idealismo político, do meu ritmo literário. Tenho que encontrar novos ídolos, absorver mais experiências. Espera aí, acho que estou me achando. Será?

fevereiro 05, 2007

Um dia ela foi boa pra mim. Um dia eu decidi não ouvir o que tinham a me dizer a seu respeito e durante muito tempo isso foi decididamente muito bom. Eu e a minha opinião - a gente costuma se dar bem. Não existiam julgamentos. Não existiam preocupações do que se era dito ou do que se ouvia. O deslumbre em relação a mim alimentava o meu ego e tudo era cômodo. Até que o jogo virou. E eu vi um falso moralismo imperar sob o que eu achava ser suficiente. E eu vi algum tipo de interesse ainda não decifrado se aproximar sorrateiramente. Isso tudo am partir do memento que ela reaproximou aquela pessoa de mim, ciente de que eu não queria. Então eu deixei de ficar à vontade com ela. Mais uma que se vai como uma nuvem que passa e deixa o alívio da tempestade que também se foi.

Hoje estou só, acompanhada de mim.

"É assim:basta eu ter muita certeza. Aí ela vai lá e se joga. As minhas certezas são suicidas." (Clarah Averbuck)

janeiro 28, 2007

O menino é homem

Tum. Tum. É preciso ser muito homem. Tum. Tum. E vai ser até o final dessa semana. Tum. Tum. Está decidido.

De pouquinho em pouquinho não dá, tem que ser de uma vez. Esta é a essência. Direto e sem meias palavras. Pra quê rodeios? Poderia ser depois, mas pode ser agora. A essência manda e assim será.

Pai de um lado. Mãe do outro. Irmãs no meio da confusão interna. O menino não é mais criança, alguém poderia justificar. E a vergonha?, talvez a maioria perguntaria. E a minha felicidade?, o menino justificaria.

Começa o discurso. O menino é valente. É muito é homem. O menino está nervoso e inquieto. O menino começa.

Todo mundo desconfiava, mas ninguém tinha o mérito da valentia do menino. O pai simula um sorriso. Pode ser de nervoso. Pode ser de orgulho. O menino desanda a falar por cerca de dez minutos, marejando os olhos do pai.

A mãe diz que o menino é seu filho e que sempre o amará. A irmã diz que o menino sempre terá seu apoio. A outra não precisa dizer nada. O pai esconde a face por entre as mãos.
O menino permanece seguro, tirando das suas costas o peso da omissão, a iminência da rejeição. Certifica-se a cada instante de que aquela era a decisão mais honrosa dos seus dezoito anos. O menino, o segundo homem da família.

O pai pergunta sobre mulheres. O menino não tem as respostas satisfatórias ao pai. O pai fala da vergonha. O menino fala do respeito à família e da sua felicidade. A mãe murmura um cômico e inesperado comentário de alívio. O pai pergunta o porquê de ser com ele. O menino prefere não se aprofundar.

O pai e o menino ficam sozinhos. O pai, chorando feito criança. O menino dizendo que ama o pai. O abraço acontece.

O menino que gosta das meninas, mas o seu conhecer a fundo não é o ditado como certo pela sociedade.

O menino que é homem por assumir que gosta de outro homem.

Tum. Tum. E o assunto está consumado.

janeiro 08, 2007

e agora? entrei aqui e poderia despejar tudo o que escrevi no papel e na minha mente inquieta desde meu último post. gostaria até de ser mais prolixa. mas este teclado minúsculo não me permite. estou de férias numa casa que não é a minha, numa cidade que não é a minha, num estado que não é o meu e num computador que não me pertence. minhas, somente as lembranças. justamente estas, às quais gostaria que não fossem. ok. o ano promete e acho que a semana também. vou nessa lavar o corpo, já que ainda não encontrei a melhor maneira de lavar a alma.

muito prazer, dois mil e sete. eu sou a juliana.