agosto 23, 2004

Transgredir de verdade é a solução

O meio artístico está cheio de figuras marcadas por uma personalidade forte e por altas dosagens de transgressão. Diante de termos como este, imaginamos um filhinho de papai armando a maior baderna na televisão e influenciando milhares de jovens Brasil afora. Vá lá, não é mentira. Mas é bem verdade também que toda época tem os seus ícones conturbados. Abra uma revista qualquer ou ligue a televisão e você encontrará inúmeras Britneys Spears causando no meio musical, milhares de Dados Dolabellas no meio artístico e intermináveis Fernandas Yongs no meio literário.

Certo, podemos tirar boas perspectivas de tudo isso, afinal, toda época é brindada com tipos que vão contra a corrente. Falo dos famosos transgressores. E, nesse mundo aonde ninguém é de ninguém e todo mundo é igual mas é diferente, transgressor é o adjetivo que a maior parte da nossa classe artística quer carregar a tiracolo. E a problemática disso tudo - sim, porque existe uma problemática -, fica em torno do significado das coisas. Ser transgressor é, antes de tudo, uma responsabilidade. Uma grande responsabilidade. Não é aparecer na mídia e utilizar-se do seu poder para subverter os fracos e oprimidos.

Ser transgressor não é ditar moda. Fazer uma tatuagem ou colocar um piercing no nariz. Tatuagens ou piercings não expoem causas. Transgredir é ir contra, construtivamente. É oferecer uma ideologia. É abrir os olhos da sociedade. Falo do bom transgressor, daquele que faz e que fica.

Transgressores hoje são confundidos com rebeldes sem causa. Muito diferente dos transgressores de ontem. O indivíduo vai, escreve um bilhete de cunho preconceituoso contra todos os nordestinos que vivem na Selva de Pedra, entrega nas mãos de um pobre coitado e pronto. Acha que sua revolução está travada. Este, senhoras e senhores, é um falso revolucionário. Diferente dos jovens que lutaram contra a ditadura na Era Vargas. Diferente dos jovens que passaram suas mensagens por meio da música e foram censurados. Diferentes de espíritos como o meu, como o seu, que me lê agora.

Quando eu falo que a juventude brasileira está corrompida, não minto. Mas também não minto quando penso que ainda há esperanças. Que ainda há boas músicas, bons livros e bons justiceiros. Façamos das nossas crenças a nossa voz, o nosso grito. Vamos compartilhar a nossa sensatez e destruir a hipocrisia. Vamos fazer arte na cabeça dos nossos jovens. Vamos combater os falsos moralistas. Quem se habilita?

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