novembro 29, 2004

Segunda-feira muito louca

Detestar as segundas-feiras nunca esteve no meu rol de detestações diárias. Segunda-feira é, antes de mais nada, uma quebra de rotina e, para quem vive em função de inconstâncias, vem a ser um ótimo aperitivo para o início da semana. Vá lá que tal otimismo dura, no máximo, até a terça-feira, mas aí é uma outra história.

Minha segunda-feira começou bem. Ignorei o despertador. Repeti mais de cinco vezes em pensamento "só mais alguns minutinhos". Acordei no banho. Não bebi meu café na xícara de sempre. Troquei os "Anos Incríveis" pela centésima transmissão do "Prêmio Multishow". Saí atrasada de casa pra não contrariar a ordem natural das coisas. Peguei um coletivo lotado. Ouvi duas vezes seguidas a fita da Zélia Duncan no meu walkman, cantando todas as músicas e repetindo todas as falas dos seus comentários. Ignorei os olhares curiosos. Cheguei ao escritório e, como sempre, me dirigi ao toalete para lavar as mãos e pentear meus cabelos rebeldes. Peguei o café-da-maria e um copo com água. Bati um papo matinal com a Cris. Sentei na frente do meu computador. Selecionei algumas músicas que não ouvia há tempos. Baixei meus e-mails. E o telefone tocou.

Tem horas que o simples tocar do telefone faz com que você deseje ser qualquer outra pessoa, atuar em qualquer outra área ou estar em qualquer outro lugar. Tenho a impressão de que, quando o telefone toca, junto com as ondas sonoras vem uma espécie de vibração que precede o assunto a ser tratado. Sei lá se é o meu sexto sentido em ação ou algum poder marciano, mas há momentos que o toque do telefone me dá vontade de sair correndo. O problema é que eu nunca saio.

O infeliz do outro lado da linha decidiu quebrar a seqüência da minha segunda-feira normal e jogar nas minhas costas todos os rezíduos maléficos do seu final de semana frustrado. Por pouco, quase esqueci da ética e moral que movem minha profissão e mandei o elemento se dirigir ao banheiro mais próximo e enfiar a cabeça na privada. Eu, que mal enxergo a ponta do meu pavio de tão curto que ele tem estado, tive que manter a compustura. Até tentei não ser irônica. Até tentei não ser redundante. Esgotei a minha capacidade de dizer a mesma coisa por um milhão e trezentas e setenta e sete mil formas diferentes. E a conversa com o fulano se prolongou em duradouros quase oitenta minutos. Dá pra acreditar? Um dia bonito, os passarinhos cantando, o Natal chegando e o fulano gastando o telefone da empresa em que trabalha, só para ESTAR COM A RAZÃO! E eu lá quero saber dessa tal de razão? Sério. Ultimamente estou mais para a sensibilidade do que para outra coisa qualquer.

Ei, alguém aí tem um chiclete?

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