novembro 20, 2006

O Poder da Música

Pronto, comprei para os três dias, comentei feliz da vida com a Tarsi. Sorrindo, ela me olhou e comentou que isso não era lá muito normal. Normal? – pensei comigo. É, normal, foi isso mesmo o que ela disse. Foi então que parei para refletir sobre este aspecto de normalidade. Três dias curtindo o mesmo show que vi um milhão de vezes. Três dias ouvindo ao vivo as músicas da cantora que ouço pelo menos uma vez ao dia. Três dias num compromisso inadiável em prol de um relacionamento entre fã e artista. Tudo isso sem falar na marca registrada: Zélia Duncan para o resto do mundo e “Zelinha” para a Juliana e os amigos da Juliana, inserida de forma tão natural no dia-a-dia:

- Ju, você viu que a Zelinha vai passar no Fantástico? - perguntam uns, aqueles que mal sabem cantar “Catedral”.

- Ju, como é mesmo o nome daquela música da Zelinha que você falou no outro dia? – perguntam outros.

Outro dia, a Tarsi me contou que um dos momentos mais tristes da sua vida foi o enterro da avó da sua amiga. A velhinha, em vida, gostava muito de uma certa música da qual não me recordo, e havia pedido para que a cantassem durante o seu sepultamento. Num determinado momento, alguém entoou a tal música, deixando todos com um imenso nó na garganta. E então, eu tive a grande idéia: quando eu morrer, vou querer que entoem uma música também. Claro, terá que ser uma música da Zelinha. E continuei: a música mais propícia para a ocasião será “Alma”. Imagine eu sendo enterrada e, ao fundo, a voz da Zelinha dizendo “Alma, deixa eu ver sua alma”? Muita gente quase morreu de rir, mas a idéia foi tão na brincadeira assim.

Todas essas passagens fizeram com que eu buscasse dentro dessa minha idolatria algo que justifique a normalidade colocada em xeque pela Tarsi. Não encontrei nada de muito surpreendente. Gostar de Zélia Duncan não é a mesma coisa que ser fã número um da Angelina Jolie ou do Brad Pitt. Eu não sou fã da Zélia Duncan porque ela é gostosa, dita moda, apareceu no Faustão ou por qualquer outro motivo fútil que justifica, tristemente, a idolatria de muitos outros fãs com seus respectivos ídolos mundo afora. A grande verdade é que eu sou fã da Zélia Duncan porque ela fala de mim, das coisas que me tornam feliz, das que me afligem, das minhas ambições, minhas buscas.

Ninguém entende que quando eu ouço “Benditas”, me aprofundo tanto nas minhas crenças que a música me cai como uma oração, a qual tomo a audácia de comparar seu efeito com o de rezar um Pai Nosso.

Ninguém entende que quando eu ouço “Distração” meu coração se enche de esperança em relação à vida e eu pareço escutar vozes dizendo siga em frente, não desista!

Ninguém entende que quando eu ouço “Hóspede do Tempo” me sinto tão responsável pelas coisas boas e ruins que acontecem ao meu redor, que, sem querer, me humanizo e me conscientizo de que, mesmo diante de tantos deslizes, tenho que me concentrar no bem acima de tudo.

Ninguém entende que quando eu ouço “O Meu Lugar”, acabo enxergando possibilidades à minha volta e entendendo que tudo na vida é uma questão de tempo, desde que eu não desista de prosseguir.

A minha relação de fã com a artista Zélia Duncan talvez ocorra por uma feliz coincidência que nós duas temos em comum: ela canta as coisas nas quais acredita e o seu cantar é uma forma de mostrar para as pessoas que é assim que ela se entende e encara o mundo; eu por minha vez, ouço na voz dela as coisas, as quais eu acredito. O meu ouvir, igualmente ao seu cantar, também é uma forma de me entender e encarar o mundo.

A grande responsável por isso é a música. E só. O que também não desqualifica Zelinha com o fato de ser uma artista arrebatadoramente completa: canta maravilhosamente bem, manuseia perfeitamente muitos instrumentos musicais, desenvolve a melhor relação fã-artista da qual já ouvi falar, e é uma das mais talentosas poetas viva e em atividade que o Brasil tem hoje.

Quando alguém criticar a minha condição de fã da Zélia Duncan, restará a mim convidar essa pessoa a ouvir Zélia Duncan como ela realmente merece ser ouvida. E estaremos conversados.

novembro 16, 2006

Soltando o Verbo - Uma eclética reunião de crônicas

"Enfim meu livro saiu, caramba!" - foi assim que recebi a entusiasmada notícia de lançamento do livro da minha amiga dos tempos de Vega, Ari.

Estava ela dando bandeira por aí num belo dia, quando seu editor pediu que enviasse duas crônicas para uma conferida. Assim, despretensiosamente, ela mandou e deu nisso! Uma coletânea muito bem estruturada por vinte cronistas para o nosso deleite.

Quer saber mais? Vai lá, oras!

Onde: Bar e Restaurante Santa Zoé - R. Cotoxó, 522 - Perdizes - SP.
Quando: 22/11/2006 - quarta, das 19h às 23h.

Soltando o Verbo - Uma eclética reunião de crônicas - dentre muitos, também por Ariett Gouveia.

novembro 02, 2006

Contramão

O que me incomoda é a voz do mundo
Fundo de certezas impensadas
Mente que vê
E acha que crê
Naquela humanidade desenhada

O que me estranha é a voz do coração
Aquele que sente a pureza descrente
Amor desumano
Nas notas da canção

A vida em gotas d’água
Sem certezas, só estradas
Caminhos certos na contramão

outubro 26, 2006

O trecho a seguir faz parte de um projeto que talvez seja o verdadeiro motivo da minha diferença nesse mundo indiferente. Encontrei sem querer e considero conveniente compartilhá-lo em primeira e única mão, antes do definitivo, aqui e agora.

"O meu corpo e as minhas sensações estavam explodindo num consentimento coletivo de que aquele era o momento de me transbordar, a minha terapia favorita do ato de compreender a vida sem pensar nos acontecimentos. Simplesmente deixando a música me levar, chacoalhando e misturando meus motivos interiores – que são muitos – ao teor alcoólico que circulava pelo meu sangue. A questão ali não era solucionar problemas e tampouco buscar mais. Bastava eu fingir acreditar na crença de que a força que havia me levado até aquele lugar era a mesma que havia levado todas aquelas pessoas, de modo que a nossa aliança era o compartilhamento de suor que saltava dos poros e se confundiam na tentativa de entender se eram meus ou se eram deles. Estava eu absorto por aquela energia, entregue a uma sensação desconhecida que me parecia tão cúmplice, até que avistei aqueles olhos. Aquele brilho parecia dizer um “sim, eu te entendo”, um “está tudo bem agora porque eu estou aqui”. Foi então que eu entreguei minha bebida a um barman que acabara de passar e decidi sair da minha inércia, voltando à lucidez. Sorri. E foi a melhor resposta em sorrisos que eu já tive, a promessa de que o céu existia e esperava por mim. Por nós. Como se uma bolha tivesse sido criada à nossa volta, e a música fosse o único elemento externo que permitíamos entrar, criamos nós o nosso momento de nirvana. Agora era uma terapia em conjunto, limitada a duas almas, formada apenas pelo remexer do corpo e o bater do coração. Não precisávamos de palavras, até mesmo porque, se as buscássemos, certamente não as encontraríamos. A música era a nossa oração, daquelas tão intensas e tão profundas, que não se tem a necessidade de pensá-las e refleti-las para que fiquem mais fortes. Era uma reza brava. De repente, a música começou a baixar de volume e eu comecei a achar que não tinha apenas dois membros superiores. Naquele momento eram quatro, eram oito, eram muitos. Meus olhos ganharam vontade própria e fecharam-se por si. Quando dei por mim, sua língua estava conhecendo a intimidade da minha. Não hvia a necessidade de palavras, os nossos olhos queriam conhecer o nosso interior e a minha alma reconhecia aquela alma como se a nossa cumplicidade existisse de anos, de séculos, outras vidas."

outubro 15, 2006

Abobrinhas, não
Itamar Assumpção

Cansei de ouvir abobrinhas
vou consultar escarolas
prefiro escutar salsinhas
pedir consolo às papoulas
e às carambolas
pedir um help ao repolho
indagar umas espigas
aprender com pés de alho
ouvir dicas das urtigas
e dessas tulipas
um toque pro miosótis
um palpite do alpiste
uma luz da flor de lótus
pedir alento ao cipreste
e pra dama da noite
pedir conselho à serralha
sugestão pro almeirão
idéias para azaléias
opinião para o limão, pimentão
abobrinhas não

setembro 29, 2006

Por que o Frango Atravessou a Rua Mesmo?

(Por Sandra Nishida - Tia San - após comentários de um e-mail cômico)

oi amiga Juju!

é hilário né, eu dava risada lendo.

como vai vc? como estão as aulas, o emprego, a vida, as obrigações e os hobbies?

cada instante, aproveitado? olhar o dia, a noite, o transcorrer das horas?

tô meio poeta hoje! ontem dei aula até as 22:45, fui pra casa e meu pai estava acordado, fiquei vendo o debate dos candidatos na TV.

politica é algo que nao me atrai. nem um pouco, pq na teoria tudo é muito bacana, e numa mesa de bar a gente resolve tudo, mesmo nao bebendo...mas daí pra colocar em prática é complicado sim, o pior: vira retórica. Diz que diz, desmentido, acusação, querer fazer o adversario cair em contradição etc etc.

eles são nossos funcionários. programa de governo. candidato entra. e toda a sua horda. têm que mostrar resultado. se enrolar muito, cai fora. demitido. aí entra outro pra fazer o trabalho. com um adendo: se roubar, vai em cana. sem mais delongas.

nenhuma novidade pensar assim. é, reflexões de uma mesinha de lanchonete comendo pão-de-queijo e café, mas não em minas. aqui mesmo. sampa city.

saudade!!!!!!! precisamos combinar algo legal, light e cultural. eu tô louca pra ver o "retrato de dorian gray", lá no teatro popular do sesi. vamos combinar, num domingão??

bjão!

San

p.s.: desculpa os devaneios, eu tava querendo escrever sem pensar muito, saiu... ops!

setembro 25, 2006

Tá certo. Uma semana depois e todo mundo ainda fala da Cicarelli. Li uma crônica engraçada a respeito, mas não vou entrar em detalhes porque vão dizer que é protecionismo. Mas que poderiam deixar a moça de lado um pouco, ah, isso poderiam. Cicarelli não pode casar. Cicarelli não pode descasar. Cicarelli têm seis dedos no pé. Cicarelli deu na praia. Cicarelli foi subestimada pela Bruna Surfistinha. Que tal mudar de foco? Ei, olha eu aqui! Uma gordinha-sexy-fashion querendo atenção!!!!! Tudo bem, tudo bem, já tive meus quinze segundos de fama hoje. Uma menima me parou na rua (ohh!) pra perguntar a cor que passo no meu cabelo. É cereja, sim, cereja. Não chuchu. Cereja mesmo. E olha que hoje praticamente tomei banho de canequinha, não lavei o cabelo e mal o penteei. Imagine só quando meu cabelo for pink. Da próxima vez, perguntarei o nome da menina e escreverei um verso da Zelinha pra ela. Vou contar um segredo: isso aqui é uma tentativa de fuga. Ok, já passou. Vou me concentrar porque, falando em Zelinha, na próxima sexta terá homenagem ao Itamar. E a Cicarelli... bom, que garota de sorte!

setembro 18, 2006

O Herói Devolvido

Alguém aí está afim de trocar os lirismos literários por sangue?! Mas, ó, é sangue dos bons, tem que ter peito pra encarar. Vai fundo. Falo do Mirisola. Sim, o Marcelo. Ele tem um blogue agora, o Herói Devolvido. Encare aí: http://heroidevolvido.zip.net.
Fruto de uma Geração

Oh, sim. Uma camisa de linho gasta, não combinando com a calça jeans envelhecida. Uma sacola de plástico na mão esquerda e, na mesma mão, uma vareta de uns trinta centímetros. Na cabeça, praticamente todos os fios brancos. Na outra mão, um cigarro. No fundo dos olhos, a produção de um longa de quase setenta anos. No coração, muitas esperanças idas e as últimas escapando na fumaça enviada pelo pulmão. Nos pés, ah sim, nos pés um bom e velho All Star surrado. E talvez esta seja a essência do que eu gostaria de me tornar daqui a alguns anos. Não apenas uma imagem. Uma essência lapidada. Coisa de quem não está nem aí para os medos da vida. Coisa de quem é inconformado com o mundo. De quem é inquieto. Coisa de quem busca revolução.

Depois que você vira adulto, passa a entender muitos aspectos da vida. E deixa de compreender muitos outros também. O mundo prossegue e você tem que escolher. Está tudo numa prateleira de supermercado. Você segue escolhendo entre rótulos, marcas e embalagens, até que o coletivo escolhe por você. Quando pára pra ver, dá nisso: uma geração movida pela inércia. Pergunto: aonde está "o futuro do país"? Cadê aquela sede de se libertar? Cadê a herança dos famosos anos 60 e 70? Cadê a moçada na rua dizendo não para a política suja? Cadê a produção cultural focada no coletivo? Cadê quem se veste com a armadura da coragem e vai lutar pelo todo? Cadê aquela movimentação acadêmica? A música falando pela gente? Cadê? Cadê?

Cusiosamente, isso tudo não está na TV nem no cinema. Mal dá pra dizer que isso é coisa de filme ou de novela. Porque o Brasil deu a luz a uma geração burra e irracional. Uma geração umbiguista, é verdade. Uma geração emotiva demais e apolitizada. Sem manifestos. Sem argumentações de um mundo melhor. Uma geração acometida pela síndrome do "deixa a vida me levar". E a vida leva sim: do nada a lugar nenhum. E quando a crise é enfatizada, vai todo mundo pro analista.

Uma camisa de linho gasta, não combinando com a calça jeans envelhecida, e um bom e velho All Star nos pés. E fim.

setembro 12, 2006

Indignação

Sei quando e mais ou menos onde. Sei que não gostei. Não me lembro quem ou exatamente de onde. Mas sei que não deveria. Até promoveria um protesto direto na fonte. Mas sem informações precisas, registro minha indignação aqui mesmo. E ponto.

Foi ontem, por volta das 21h20, no Canal Brasil. Assim, fugindo do horário político. Ele era idoso e pediatra. Foi dito que era um dos fundadores da Associação Brasileira de Pediatria ou coisa parecida. E foi convidado a comentar o filme "Anjos do Sol". Justo. Foi bem sucedido, afirmando que a criança não movimenta a prostituição. Não é uma prostituta, mas sim prostituída porque existem ações de terceiros imperando sobre ela. Comentário inteligente. Afirmou também que o pedófilo não consegue entender o mal que causa à criança e à sociedade. Bom observador. Mas dizer que a pedofilia culminará como a homossexualidade? Que não duvida nada de, daqui a algum tempo, a pedofilia ser aceita, assim como a homossexualidade???

O que diabos acontece com a cabeça deste senhor?!

Tudo bem que nem mesmo o Papa é a favor de ambas as coisas. Mas, até aí, quem foi que disse que o Papa é um ser racional? Tudo bem, tudo bem. Deixemos a religião fora disso tudo. A comparação de um crime a uma essência humana é que não dá pra deixar de lado. Gostaria apenas que este senhor fizesse jus a todas as coisas inteligentes que, certamente, ele deve ter proferido até hoje, e se amparasse aos seus vários anos de estudos para refletir sobre a frase infeliz que foi capaz de liberar. Sinceramente, não acredito que ele seja crente de tal afirmação. Não. Não é.

setembro 04, 2006

Freudiando

Vez ou outra paro de ouvir música, de ler um livro, de acessar a Internet e de assistir à TV. Só de vez em quando. Então, uma explosão de sentimentos estranhos tomam conta de mim. Ora vergonha. Ora medo. Ora solidão. Ora confusão. Ora prazer amórfico. De repente, eu fico sem saber o que aliena mais: o fazer ou o não fazer. Então eu faço. E quando me arrependo, deixo de fazer. E me arrependo de novo.

Há pouco tempo eu quis ser uma estante de livros. Agora, eu quero ser uma flor. Daquelas que faz rir e chorar e nem por isso deixa de ser apreciada. Porque toda mulher é uma máquina de fazer rir e chorar, mas nenhuma é compreendida como se compreende uma flor. Só de olhar. Mesmo havendo vários manuais de instruções por aí. Agora eu queria ser uma flor e ter a vida simples e definida. Viver brevemente para todos os estágios do amor.

agosto 31, 2006

E Se...

(Andrea Teixeira Ladário)

E se o tempo voltasse
E me encontrasse
Entre as fragrâncias femininas
Que te enfeitiçaram
Pelos caminhos perdidos
Que cruzaram
Teus olhares
E se eu ali te segurasse
No conforto de um abraço
E entre os pares
Nos bailes da vida, mares
Dançasse contigo a Valsa
Naquela noite derradeira
Onde lançaste
Ao vento minha própria sorte?
E se o tempo avançasse
E soubesse
Que a dança daquela noite
Findaria
Sem conhecer a razão,
O instante, mas sendo certo
Calaria
A voz que lhe canta amores
E os laços que envolvem
De considerações e favores
O que faria?
Da minha vida sem a sua
Fosse morte?
E se o tempo parasse
hoje
E a única certeza fosse
Que nada mais mudaria
Daquilo que agora tem
Que do meu amor que recebe
Manso, doce
Nenhuma fome mataria
Nem doença afetaria
Nem sombra...
Nem infortúnio...
Nem desgraça...
nem ninguém?

agosto 20, 2006

Primavera dos Livros

E então, como num susto e meio que de súbito, chegou a Primavera. Em 2006, mais cedo, no mês de agosto. Aconteceu aonde deveria (e irá, espero!) acontecer todos os anos, no Centro Cultural Vergueiro. Falo, claro, da Primavera dos Livros.

Teve programação boa,viu? Na verdade, ainda hoje, coisas interessantes acontecerão por lá. Vale a pena.

Saí com coisas bacanas. E saí antes que meus impulsos literários falassem mais alto que os financeiros. Trouxe na mochila poesias maravilhosas de Leminski em O Ex-Estranho – preciosidades organizadas por Alice Ruiz e Áurea Leminski, e publicadas pela Editora Iluminuras, em sua Coleção Catatau de 1996.

Muito inspirada, trouxe pra casa também o meu Angu de Sangue, autografado com muita simpatia pelo ilustríssimo Marcelino Freire, após leituras deliciosas de Manuel Bandeira e contos próprios.

Amparada pelo meu instinto “nasci-na-época-errada”, trouxe também uma obra muito interessante sobre o movimento estudantil paulista na década de 70 – o Cale-se, de Caio Túlio Costa. Este, tenho certeza, me inspirará e muito em futuras idéias. Na verdade, já me inspirou. Junto com ele veio um pôster (adquirido separadamente), com o Manifesto do Partido Comunista – 1848 – 1998. Fascinante!

Para concluir, não resisti e botei na mochila o livro Arc, o Marciano – As aventuras do tresolhudo publicadas na revista Veja. São publicações de 1999 a 2003. Com esse título, não resisti.

É isso aí. A Primavera voltou a ser realizada no Centro Cultural Vergueiro, a ter o seu público velho de guerra, atrações pra lá de interessantes e a oferecer uma diversidade incrível de livros com preços bem acessíveis. Confira mais no www.primaveradoslivros.com.br.
“Eu escrevo pra me vingar”

“Eu escrevo SOB violência”

Marcelino Freire – Primavera dos Livros 2006

agosto 17, 2006

De férias há três semanas, período em que, de casa, não consegui acessar o Proseando. Angustiante. É como se você tivesse uma casa sua, quitada, e nela não pudesse entrar por algum motivo banal. Eu disse banal? E bota banal nisso! Estou falando de três semanas e não consegui entrar na minha casa simplesmente porque botei três intrusos “dáblius” no endereço do meu blogue. Fui lá, botei e salvei como página inicial. Não dava erro. Ficava o endereço no browser e uma página cor de gelo. Aquela cor não era branca. E eu aqui, testando minha calma com essa tal de informática. Vai ver mexeram na configuração do meu PC e eu não percebi, pensei. Ou então, deixe o PC com seu temperamento difícil. É só não ligar que ele volta ao normal, refleti fingindo não dar bola. Pois bem. Três semanas depois eu resolvo olhar no navegador e eis que as belezinhas dos “dáblius” estão lá, empacando a minha entrada. E quando eu falo que não gosto de inquilino, todo mundo diz que é perseguição...

julho 04, 2006

Os caras eram demasiadamente grandes. Todos os três. Será que passam muito tempo juntos? Dizem que, quanto mais tempo os cães vivem com seus donos, mais parecidos ficam. Vai ver isso acontece com os humanos também. Aí ela entrou. Totalmente estilosa. Fashion! Acho que aquela era sua aparência convencional. Afinal, eram oito horas da noite de uma segunda-feira. E veio a idéia: um dia eu ainda vou deixar o meu cabelo pink daquele jeito. Não obstante, está quase lá. Quer saber? Aquela situação estava pra lá de patética. Sim, é patético você sair de um lugar totalmente alternativo como o Espaço Unibanco e ir, oh!, para o Mc Donalds. Mesmo quando, surrealmente observando, esse Mc Donalds é situado praticamente na esquina da Paulista com a Augusta. Sim, patético. Adivinha qual era a Mc Oferta do dia? Oh, yeah! Mc França. Rá, disse ao Mc Garçom quase gargalhando. As meninas da frente riram comigo. Ops. Ela não está mais lá. Em certos momentos, o frio de São Paulo é um pouco cruel. Sentar-se na porta é uma estratégia para momentos solitários. Você pode observar quem entra e quem sai, incluindo os que entraram antes de você chegar. É possível observar também que o Orkut é sucesso nas paradas de acesso desta Mc Lan. Veja você como existem pessoas provocativas nesse mundo. Se essa Mc Faxineira esbarrar mais uma vez a sua vassoura na minha Mc Cadeira, ela verá muito bem o que é provocação. E aquele ali? Acha que está provocando alguém grande. Eu também já entrei no Mc Donalds com um Ovomaltine do Bobs. O máximo que consegui foi provocar uma gracinha. Patético de novo. Mais patético do que escrever no Mc Donalds será abrir o meu Dostoiévski. Está certo, ele não merece isso. Mas um dia o meu cabelo será pink igual ao daquela garota.

julho 01, 2006

Porque, na verdade, todo grande amor é platônico. E você só descobre o seu efeito um bom tempo depois. Pode vir num encontro de olhos desproposital. Ou trazido pelos ventos. Nas ondas sonoras, com a sensibilidade de uma música. Ou num e-mail. O problema é que ele sempre volta. Amores podem até ser esquecíveis. Mas isso não acontece com os grandes amores platônicos. E quando você está só e reconhece e desenterra um, como algo sobrenatural, o fantasma de todos eles reaparece. E você só tem as lembranças, os desejos, os sonhos. Não realizados. Amores. Não realizados. Platônicos, na verdade. Ainda assim, amores.

junho 29, 2006

Olhar à volta e deparar com um mundo em movimento, com as coisas e as pessoas em constantes mudanças, verificar o resgate de uma observação - o senso crítico - e transformar tudo isso num produto em favor do auto-conhecimento. Escrevo, antes de mais nada, para mim. Para me fazer entender com a esperança de ser entendida. Para libertar fantasmas, declarar sentimentos indeclaráveis, lançar teorias e, como conseqüência de tudo, fazer a diferença num mundo indiferente.

junho 26, 2006

“Que coisa mais esquizofrênica!” – Fernanda Young ao ver o jeito peculiar de Rita Lee ao assobiar no Programa "Irritando Fernanda Young".

junho 21, 2006

Proseando um pouco

Ninguém escreve para não ser lido. Pelo menos é este um dos motivos por haver tantos blogues flutuando no cyber espaço. Assim como ninguém faz parte do Orkut senão pela necessidade de se mostrar. Exceto aqueles tomados pela ânsia indescritível de saber da vida dos outros. Mas essa é uma outra história.

Refletindo sobre a existência do Proseando um dia desses, concluí que a idéia de escrever para ser lida e ser ouvida é realmente muito forte. Desde o início, eu segui postando aqui algumas teorias e pensamentos daqueles que, facilmente, poderiam ter sido deferidos num almoço qualquer, num bate papo na calçada ou numa conversa de bar. Sabe aquelas reflexões que a maioria das pessoas não está interessada e, quando gentilmente ouvem você, apenas o fazem para não parecer indelicadeza? E você vai falando, falando e o seu ouvinte tentando encontrar brechas para mudar de assunto e você prosseguindo num raciocínio freqüente, quase que praticamente impondo atenção ao seu discurso. A diferença é que eu sou uma pessoa muito persistente e, quando fico frente a frente com este canal, toda a criatividade acumulada já foi imposta para algum interlocutor não lá muito interessado. É uma pena. Mas prometo que tentarei não desperdiçar tantas argumentações desta forma daqui pra frente.

Pois bem, uma viagem interior ao gosto de escrever, o interesse prazeroso pela literatura e a necessidade de se auto-entender. É justamente por isso que o Proseando existe. Ele prossegue desde 2004 entre um post e outro, sobrevivendo a longos intervalos sem acesso, a algum comentário carinhoso e sem nenhuma comemoração específica.

Mas hoje é diferente. Tenho o orgulho de postar aqui que, graças a este blogue e, especialmente ao blogue da Clarah e do Marcelino (que, involuntariamente, me inseriram neste meio), existem olhares mais que interessados nos escritos que aqui descansam. Algumas crônicas acabaram caindo nas graças do meu ilustre professor de Língua Portuguesa e Produção Textual da Universidade do Grande ABC, Sergio Simka, coordenador do Grupo de Escritores da Uniabc, do qual faço parte (vide blogue bem aliao lado), e também autor de alguns livros.

Adianto desde já que uma crônica minha fará parte da Antologia dos Escritores da Uniabc e, de antemão, ohhhhh!, surgiu, como diria o próprio Simkão, a proposta indecente do lançamento de um livro de crônicas exclusivo. Como diria o Marcelino: eta danado!

Tudo isso aqui só pra dizer que o Proseando está em festa e vamo que vamo!

junho 19, 2006

Com sono. Mastigando fio dental. Fazendo charme. E sendo política.

junho 16, 2006

Estante de Livros

Não sei o que sou, mas tenho um leve palpite do que gostaria de ser. Agora, por exemplo, gostaria de ser uma estante cheia de livros. Possivelmente eu seria um ser bem sábio e jamais viveria sozinha ou subestimada. Ainda assim não gostaria de ser mãe, mas trataria todos os meus livros com singelos atos maternos. E eu também não viveria sem respostas. Caso as dúvidas aparecessem, eu poderia esclarecê-las em prateleiras superiores ou inferiores, todas bem próximas a mim. Tolos os que pensam que uma estante de livros é um ser inanimado. Por mais que me esquecessem num cômodo qualquer e eu ganhasse algumas partículas de poeiras de vez em quando, eu teria ao menos um visitante fiel. Em todo lugar existe um aficionado. Por mais livros que eu tivesse e fosse a base de sustentação de todos eles, não seria uma interina responsável. Eu seria apenas e explendorosamente uma estante de livros.

junho 13, 2006

O problema não é inventar. É ser inventado horas após hora e nunca ficar pronta nossa edição convincente.

(Carlos Drummond de Andrade)

junho 12, 2006

O Banheiro da Maria

Uma das coisas mais comuns desde que o mundo é mundo é a habitual troca de informações que as mulheres desempenham no banheiro. Um banheiro feminino proporciona um pouco de tudo. Desde reflexões filosóficas até firulas das mais superficiais futilidades humanas.

Mas quando você trabalha num ambiente em que a maioria das pessoas é formada por mulheres e o toallete não passa de um “dois pra quarenta coletivo”, você começa a não fazer muita questão dessa prática comunicacional. A complexidade feminina somada ao famoso jeitinho brasileiro acaba fazendo, quase que involuntariamente, com que você saia em busca de uma reflexão, digamos, mais introspectiva, na paz dos azulejos. Foi então que me dei conta de que a solução estava exatamente na porta à frente do “diário de bordo da empresa”. Um espaço com pouco luxo, com, vai lá, uns três (no máximo quatro) metros quadrados, um pitoresco chuveiro alocado exatamente em cima do vaso sanitário (???), cujo espaço entre um objeto e outro é arquitetonicamente dividido por um, sim, é verdade!, cabo de vassoura, que vai de uma extremidade e outra da parede. Mas para este eu sei a finalidade! Funciona precisamente como um varal para os panos de chão, louça e de tirar pó após suas respectivas higienizações.

Senhoras e senhores, com vocês, o Banheiro da Maria!

O ambiente ideal para dar um tempo do caos da vida pessoal ou corporativa por uns momentos, longe de interrupções, constrangimentos ou qualquer artifício que um banheiro coletivo venha a oferecer. E, mesmo que solitária, se houver a estranha necessidade de uma fofoquinha ou uma profunda reflexão, o Banheiro da Maria continua sendo a melhor solução. Entre produtos de limpezas, vassouras, rodos, estoque de papéis higiênicos e toalhas descartáveis, é possível encontrar edições recentes de Caras, Veja, Capricho, Minha Novela e, pasmem!, exemplares exímios de renomados escritores nacionais e internacionais.

Ninguém entendeu ainda porque respondo que “fui refletir” quando largo meu e-mail bombando, meu telefone esgoelando e o chefe arrepiando os cabelos e me refugio no Banheiro da Maria. Sem querer, me pego brincando com Drummond, dialogando com Clarice, ficando cega com Saramago ou conhecendo um pouco mais sobre a vida da Oprah numa revista qualquer. Muitas vezes, acabo refletindo sobre o fato de que, por alguns momentos, não importa você ganhar trezentos Reais por mês, ter cinco filhos, fazer supletivo na comunidade católica perto da sua casa e, uma vez por semana, visitar um advogado do Estado para saber como anda o processo do emprego antigo. Por alguns momentos não importa. Porque, mesmo fazendo parte do sistema, você pode sair da sua realidade em quatro metros quadrados e se deparar com um mundo real e fantasioso bem ao alcance dos seus olhos, entre páginas de revistas e livros que, provavelmente, nem mesmo o presidente da empresa aonde você limpa o banheiro e serve o café tem conhecimento.

Viva o Banheiro da Maria!

junho 09, 2006

Insight

O tempo passou e agora estou aqui, com meus entendimentos retardatários. Sem meus fones de ouvido e um roque ambiente ao fundo. Neste veículo com quase total ausência de espaço livre, você me aparece entre o relato do dia de um grupo de operárias. Talvez costureiras. Queria que suas lembranças viessem num momento mais poético. Longe da asma deste idoso. Mas você apareceu na minha mente como aparecem os bons pensamentos. As boas idéias. Iluminadas. Entre pensamentos e desejos, sorrio com minhas constatações. Com o fato de você estar bem, feliz e correndo atrás. Igual a todos nós que também corremos. Você tem um amor. Não é novo. É renovável. E eu estou incrivelmente feliz por você. Porque isso me basta. Assim como você me bastou um dia. O tempo passou.

junho 08, 2006

Ela voltou!

Ela voltou e agora alguma coisa que me prendeu por um tempão voltou junto. Ela voltou e eu posso de novo parar o meu trabalho no meio do nada e acessar o blogue dela para reaprender a dizer tudo e nada, assim, de repente. Parecia até que era um incentivo, um empurrãozinho, um combustível. E eu acho que láaaaa no fundo é isso mesmo. E agora eu vejo que estou mergulhada de novo naqueles momentos psicodélicos que costumavam fazer de mim o que eu gostaria de ser. E estou ouvindo Mutantes, o que me arranca umas gargalhadas de vez em quando, assim, do nada novamente. O que tenta me mostrar uma pontinha do que eu realmente sou, mas, como sempre, sem certeza de nada. Mas não importa, ela voltou: Adiós Lounge!

maio 16, 2006

Na fila do banco

O ar condicionado na potência máxima, como se o intuito de todas essas pessoas fosse uma visita longa à Era Glacial. Mas não. É só uma tentativa exagerada de fugir do calor em pleno outono. Mania estranha essa que paulistano tem de ligar o ar condicionado por qualquer razão. Está no carro e quer fugir do barulho urbano, pronto, fecha tudo e liga o ar condicionado. Está no escritório, o sol raiando lá fora, não dá outra, trava as janelas e bota esse ar pra funcionar. Por que é que em fila de banco deveria ser diferente? E ainda, para ajudar, essa fila quilométrica.

Sorte daquele moço todo engravatado. Pelo menos a camisa de mangas compridas dele segura a onda fria. O coitado chegou atrás de mim pingando suor e deve estar achando tudo uma maravilha. Queria só ver ele agüentar os quarenta minutos em pé que nem eu com essa frente-única. Para ajudar, a nervosinha aqui da frente esfregando esse boleto na minha cara. Mocinhaaaa, estamos no mesmo barco, dá pra entender? Está nervosinha, não quer ficar aqui, dê meia volta e vai embora. Só com as balançadas desse boleto, já entendi que você estuda na São Judas e que paga R$ 835,00 de faculdade. Como a data de vencimento é do dia 10 e, deixe me ver, estamos no dia 15, você tem uns bons reaizinhos de multa a pagar aí. Já sei. Seu pai obrigou você vir até aqui para pagar a faculdade, assim como a obriga a ir pra aula todas as noites. Hmmm... mas com essa saia gigante que você está vestindo, esses óculos by Dior na cabeça e essa imitaçãozinha barata de Louis Vutton, você é daquelas que senta mesmo, mas no banco do bar da frente da faculdade, né? No colo... ah, deixa pra lá!

E aquela guria encostada no divisor de filas? O glamour em pessoa e, ora essa, ela usa All Star! Sério, qualquer pessoa com All Star tem o mínimo do fashion no sangue, vai dizer que não? Para mim, quem usa All Star tem conteúdo, ideologia e merece respeito. E a guria é corajosa. Olha só aquele piercing no nariz e aquela tattoo no braço. A senhorinha atrás dela nem tem coragem de levantar os olhos, coitada. Uma faz cara de brava e a outra, cara de medo. Surreal, isso. Mas juro que vou fazer cara de terrorista se os TRÊS motoboys que ocupam os únicos TRÊS caixas que estão funcionando permanecerem lá nos próximos três segundos. Senhoras e senhores, tem caixinha de sugestão nesse banco? Vou sugerir agora mesmo um novo procedimento: os motoboys têm das dez ao meio-dia para realizarem seus serviços. Depois disso, só os brasileiros normais, aqueles com contas vencidas que não podem ser pagas nem via internet e nem via telefone, podem usufruir dos serviços bancários nas agências. Não é uma boa idéia?

Brasileiro é assim mesmo. Tem de agüentar todas essas caras e bocas até chegar a sua vez. Mas quando chega a sua vez - que novidade! -, o sistema sai do ar. E você ainda tem que se conformar, chegar em casa, ligar a TV e ouvir que o seu banco é o mais completo do país.

março 22, 2006

Auto-compreensão

Tudo o que eu queria era ter em mim ausência total de alguns sentimentos e presença constante de outros, de modo que tudo que eu faça não seja egocêntrico demais, a ponto de satisfazer somente a mim, e nem egoísta demais, a ponto de satisfazer somente aos outros.

Tudo o que eu queria era fugir desse triângulo, mesmo que a minha condenação fosse superficial demais e a minha pena fosse jamais desenvolver algo que seria tão bonito enquanto durasse.

Tudo o que eu quero é que minhas palavras soem genuinamente sinceras, ao passo que a força e verdade que em nelas há, faça com que minha dignidade se fortaleça a cada olhar lançado sobre o que eu digo.

Estou de volta ao meu mundo. Saúde!

março 20, 2006

Ao mestre com carinho (ele, o tempo!)

A subjetividade tem falado em meu nome ultimamente. Fazia tempo que não me sentia assim. É paradoxal, mas estes momentos são os que mais me proporcionam um auto-conhecimento. A vida me faz professora e aluna ao mesmo tempo e eu fico pra cima e pra baixo com um caderninho nas mãos, anotando as observações mais importantes. É como seu eu saísse do estágio de aprender com os erros dos outros e passasse a aprender com os meus próprios erros. Sim, eu os reconheço aqui e ali, às vezes, de mãos dados erros alheios. Mas isso não importa mais.


Eu me acerto

(Zélia Duncan)

Não pensa mais nada
No final dá tudo certo de algum jeito
Eu me acerto, eu tropeço
E não passo do chão
Pode ir que eu agüento, eu suporto a colisão
Da verdade na contramão
Eu sobrevivo
E atinjo algum ponto
Eu me apronto pro dia seguinte
Escovo os dentes
Abro a porta da frente
Evito a foto sobre a mesa
E ninguém aqui vai notar
Que eu jamais serei a mesma