novembro 20, 2006

O Poder da Música

Pronto, comprei para os três dias, comentei feliz da vida com a Tarsi. Sorrindo, ela me olhou e comentou que isso não era lá muito normal. Normal? – pensei comigo. É, normal, foi isso mesmo o que ela disse. Foi então que parei para refletir sobre este aspecto de normalidade. Três dias curtindo o mesmo show que vi um milhão de vezes. Três dias ouvindo ao vivo as músicas da cantora que ouço pelo menos uma vez ao dia. Três dias num compromisso inadiável em prol de um relacionamento entre fã e artista. Tudo isso sem falar na marca registrada: Zélia Duncan para o resto do mundo e “Zelinha” para a Juliana e os amigos da Juliana, inserida de forma tão natural no dia-a-dia:

- Ju, você viu que a Zelinha vai passar no Fantástico? - perguntam uns, aqueles que mal sabem cantar “Catedral”.

- Ju, como é mesmo o nome daquela música da Zelinha que você falou no outro dia? – perguntam outros.

Outro dia, a Tarsi me contou que um dos momentos mais tristes da sua vida foi o enterro da avó da sua amiga. A velhinha, em vida, gostava muito de uma certa música da qual não me recordo, e havia pedido para que a cantassem durante o seu sepultamento. Num determinado momento, alguém entoou a tal música, deixando todos com um imenso nó na garganta. E então, eu tive a grande idéia: quando eu morrer, vou querer que entoem uma música também. Claro, terá que ser uma música da Zelinha. E continuei: a música mais propícia para a ocasião será “Alma”. Imagine eu sendo enterrada e, ao fundo, a voz da Zelinha dizendo “Alma, deixa eu ver sua alma”? Muita gente quase morreu de rir, mas a idéia foi tão na brincadeira assim.

Todas essas passagens fizeram com que eu buscasse dentro dessa minha idolatria algo que justifique a normalidade colocada em xeque pela Tarsi. Não encontrei nada de muito surpreendente. Gostar de Zélia Duncan não é a mesma coisa que ser fã número um da Angelina Jolie ou do Brad Pitt. Eu não sou fã da Zélia Duncan porque ela é gostosa, dita moda, apareceu no Faustão ou por qualquer outro motivo fútil que justifica, tristemente, a idolatria de muitos outros fãs com seus respectivos ídolos mundo afora. A grande verdade é que eu sou fã da Zélia Duncan porque ela fala de mim, das coisas que me tornam feliz, das que me afligem, das minhas ambições, minhas buscas.

Ninguém entende que quando eu ouço “Benditas”, me aprofundo tanto nas minhas crenças que a música me cai como uma oração, a qual tomo a audácia de comparar seu efeito com o de rezar um Pai Nosso.

Ninguém entende que quando eu ouço “Distração” meu coração se enche de esperança em relação à vida e eu pareço escutar vozes dizendo siga em frente, não desista!

Ninguém entende que quando eu ouço “Hóspede do Tempo” me sinto tão responsável pelas coisas boas e ruins que acontecem ao meu redor, que, sem querer, me humanizo e me conscientizo de que, mesmo diante de tantos deslizes, tenho que me concentrar no bem acima de tudo.

Ninguém entende que quando eu ouço “O Meu Lugar”, acabo enxergando possibilidades à minha volta e entendendo que tudo na vida é uma questão de tempo, desde que eu não desista de prosseguir.

A minha relação de fã com a artista Zélia Duncan talvez ocorra por uma feliz coincidência que nós duas temos em comum: ela canta as coisas nas quais acredita e o seu cantar é uma forma de mostrar para as pessoas que é assim que ela se entende e encara o mundo; eu por minha vez, ouço na voz dela as coisas, as quais eu acredito. O meu ouvir, igualmente ao seu cantar, também é uma forma de me entender e encarar o mundo.

A grande responsável por isso é a música. E só. O que também não desqualifica Zelinha com o fato de ser uma artista arrebatadoramente completa: canta maravilhosamente bem, manuseia perfeitamente muitos instrumentos musicais, desenvolve a melhor relação fã-artista da qual já ouvi falar, e é uma das mais talentosas poetas viva e em atividade que o Brasil tem hoje.

Quando alguém criticar a minha condição de fã da Zélia Duncan, restará a mim convidar essa pessoa a ouvir Zélia Duncan como ela realmente merece ser ouvida. E estaremos conversados.

novembro 16, 2006

Soltando o Verbo - Uma eclética reunião de crônicas

"Enfim meu livro saiu, caramba!" - foi assim que recebi a entusiasmada notícia de lançamento do livro da minha amiga dos tempos de Vega, Ari.

Estava ela dando bandeira por aí num belo dia, quando seu editor pediu que enviasse duas crônicas para uma conferida. Assim, despretensiosamente, ela mandou e deu nisso! Uma coletânea muito bem estruturada por vinte cronistas para o nosso deleite.

Quer saber mais? Vai lá, oras!

Onde: Bar e Restaurante Santa Zoé - R. Cotoxó, 522 - Perdizes - SP.
Quando: 22/11/2006 - quarta, das 19h às 23h.

Soltando o Verbo - Uma eclética reunião de crônicas - dentre muitos, também por Ariett Gouveia.

novembro 02, 2006

Contramão

O que me incomoda é a voz do mundo
Fundo de certezas impensadas
Mente que vê
E acha que crê
Naquela humanidade desenhada

O que me estranha é a voz do coração
Aquele que sente a pureza descrente
Amor desumano
Nas notas da canção

A vida em gotas d’água
Sem certezas, só estradas
Caminhos certos na contramão