julho 27, 2005

O Portuga, o Circo e a Verdadeira Verdade

Sabe de uma coisa? Lembro-me como se fosse hoje, de pessoas olhando sério para mim e dizendo que não votariam num cara que mal sabe falar o bom e velho Português. Engoli um seco qualquer que encontrei na região da garganta e fiquei em silêncio. Não pude deixar de enxergar uma certa opinião do contra nos olhos de quem discursava. A questão ali estava óbvia: não era o Português que incomodava, era o Lula.

Pois bem. Como bem reza a nossa política desde os primórdios até hoje em dia, para entender suas verdades e mentiras, dê uma zapeada na Globo. Para seguir o fluxo, deixei as minhas super séries favoritas de lado ontem e coloquei-me a assistir ao Jornal Nacional. Antes, permita-me um adendo: você não acha que o Jornal Nacional, ao menos neste período, deveria chamar-se "Jornal da CPI"? Ahan, eu também acho. O noticiário inteiro foi sobre o escândalo político, exceto pela queimada criminosa que ocorreu lá nas matas da região do Pará. O responsável, já identificado, poderá pegar de 3 meses a 1 ano de prisão, além de ter sido multado em 20 milhões de Reais. Não, eu não entendi errado. Fiquei pensando no que poderá acontecer com ele, além de perder sua fazenda, todos os seus bens, suas economias, suas roupas e até sua cueca. Fui mais além: será que sua dívida se estenderá para seus filhos, netos, bisnetos, tataranetos, etc.? Sério, o homem foi errado. Criminoso mesmo. Mas por que multá-lo com um montante deste sendo que é óbvio que ele nunca conseguirá pagar? Isso se transformaria numa "Dívida Interna Familiar". Bizarro! Ops. Acho que acabei fazendo dois adendos.

Continuando: na minha empreitada, assistindo ao Jornal Nacional, lembro-me bem de um episódio: um dos integrantes da CPI questionava o Presidente da Comissão quanto à dificuldade de acesso aos documentos de investigação dos envolvidos, criticando os métodos de apuração dos fatos. O moço estava bravo com a senhora esposa do empresário Marcos Valério, e aproveitou seu momento de fúria para despejar umas verdades aos superiores. Ou ele tinha razão. Ou ele estava querendo alguma espécie de promoção. Ou tudo fazia parte do script. Isso sim é uma genuína comédia. Hollyood não chega aos pés do circo político brasileiro, vai por mim. O então Presidente, com um olhar furioso, fitou-o seriamente e lançou: "Recebo estas afirmações com uma grande indgnidade". Indignidade? Indignidade?? A gente sabe que indgnidade ampara 99% das pessoas ali presentes, mas... Indignidade??? Só faltaram aquelas gargalhadas artificiais de fundo, sabe? Aquelas que a gente ouve quando assiste Chaves. Pois é.

Voltando ao meu primeiro parágrafo, que Lula, que nada! O bom e o velho Português não é sabido por ninguém. Falta mais construção em nossos argumentos e ainda mais atenção nas nossas escolhas políticas. Atenção naquilo que é colocado como prioridade, manja? Está a fim de saber a verdadeira verdade? Mesmo?! Educação deixou de ser prestígio da elite há muito tempo. Quer prestígio? Arrume um mensalão e comece a fazer os seus desejos.

julho 26, 2005

ET disse:

Ju,
Muitas pessoas me escreveram mas certamente vc foi a única que me fez rir :))
Thks menina do sorriso,
et


E eu respondo:

Então, pegue aí mais um sorriso pra você!

julho 13, 2005

JERÔNIMO, O MATADOR

(Desabafo concedido ao amigo Marcelino)

Não. Não vou falar aqui hoje da viagem a Paraty, da festa literária, essas coisas. Novidades e fofocas e graças outras que eu terei, juro, prazer em contar a partir de quinta-feira e saravá.

Falarei do Jerônimo, o Matador. Nada a ver com o Jerônimo, o Herói do Sertão, série que passou na televisão na década de 60 e 70 e 80. Esse, o nosso primeiro herói brazuca, pândego, à luta.

Falo de um outro. Cabreiro, sorrateiro e que me entrevistou (eu e o Ademir Assunção - leia também o que falou Ademir clicando aqui) para a revista Veja desta semana. Falando acerca do Movimento Literatura Urgente, do qual sou um dos "membros de primeira hora", como noticiou ele e eta!

O olhar do Jerônimo (de sobrenome Teixeira) era frio, longínquo. Como se tivesse me raptado, eu no cativeiro. "Cativeiro", isso mesmo. Jerônimo me ligou para marcar um papo sobre dois assuntos, segundo ele: o Literatura Urgente e os meus Contos Negreiros.

Estranhei: o que tem a ver o cu com a cara da carranca? Respondeu-me, cheio de artimanha: você é um dos "líderes" do Movimento. E mais: farei uma lincagem, na reportagem, com o lançamento do seu novo trabalho. Não acreditei. Não pode ser verdade. Comentei com o Ademir. Mas vamos lá. Não fujo dos meus algozes. Até espero que eles gozem primeiro.

E foi no que deu: o cara perguntou tudo e molecou as respostas, minhas e as do Ademir, a serviço do seu discurso. Seu não, o da revista. Não é à toa que lá, ao lado da matéria de uma página inteira, note, há uma outra, assinada também por ele, sobre outro nazista, o Adolfo Hitler. Confira, se puder. Mas não compre a revista.

Sigamos.

Falei para ele que nós, sobretudo, nos organizamos, assim, porque nunca nos sentimos representados pelas instituições que, digamos, estão aí para nos "representar". Entendam: são elas que são procuradas quando o assunto é Fundo, Feiras e Falecimentos. Falo da ABL, por exemplo. E da UBE. Essa última, simpatica e simpatizantemente presente nas duas últimas reuniões que tivemos. E onde o Jerônimo também esteve, me disse. Infiltrado, ele, no Movimento.

Por que não aproveitou, então, a ocasião para levantar as questões a todos os presentes? Colaborar para o amadurecimento das nossas reivindicações, sempre abertas à discussão? Não. Jerônimo é um assassino eficaz. Acompanha as vítimas, anota, estuda cada uma, passo a passo. É pago para espionar. O negócio é cortar as cabeças.

Estamos ou não estamos no tempo de cuecas e malas? Daqui a pouco, veremos escritores comprando terrenos e casas. Fugindo para Frankfurt etc. e tal. Conhecendo tudo que é paraíso fiscal. Não. A revista Veja não vai deixar. Logo ela que, desde a época da ditadura, zela pela nossa conduta exemplar.

Até falei: não entendo as perguntas que você me pergunta, pá, pá, pá. Parece que a gente é um bando de corrupto. Falcatrua na literatura. Porra! Não é nada disso. É essa, apenas, a primeira vez em que os escritores se sentam para confabular. Avançar em algumas questões. Clamar por algumas responsabilidades. Por exemplo: como melhor utilizar a estrutura já montada das universidades. O escritor ir para discutir a sua obra com os alunos por aí. Como acontece em outros países. Até nos mais pobres que o nosso, a exemplo de Cuba.

E os nossos consulados pelo mundo, falei para ele. Por que não realizam nenhum intercâmbio, Jerônimo? É coisa fácil e não carece de muito dinheiro. E o Jerônimo entendia, matreiro: câmbio. Eu dizia intercâmbio. E ele: câmbio, câmbio, câmbio. Não, não estou falando de dólares. Estou falando de um projeto básico. De bolsas de criação, como a extinta Vitae. Jerônimo, você é muito novo para esse olhar incrédulo. Repito: hitlerista.

Jerônimo não quer ouvir. Mandaram o cara atirar. E ele foi lá, fazer o serviço. Tudo bem, mas por que não ouvir humana e honestamente os nossos argumentos? As nossas falhas estampadas? Disse eu: cara, a gente não está dizendo que é o dono da verdade. A gente só quer saber por que o escritor nunca é ouvido nesses casos. Não somos, a maioria, tratados com dignidade. Que é isso? O nosso trem não é da "alegria", cara. É do fracasso.

Por isso muita gente tem se organizado. Em Belo Horizonte, Santos, Londrina, Curitiba. Porra, ninguém vive aqui com a bunda na cadeira, esperando (do imortal) a morte alheia. A gente quer ir à labuta, é isso. Ninguém é, escreve aí: filho da puta. Enumerei tantos trabalhos importantes (encontros, livros, antologias, festivais) que fizeram tantos autores que estão na lista do Movimento. Sem nunca esperarem por nada. Alguns dos quais a sua revista é doida para jogar no esquecimento.

Jerônimo ficava em silêncio. Vendo a minha agonia. Sem dominar um vocabulário político. Era outra, ali, a minha energia. Indagações e angústias que me levaram ao Movimento. Não como um dos líderes, discordei. Mas como um dos mais inconformados.

Jerônimo, é bem verdade, perguntou sobre os meus Contos Negreiros. Mas já era tarde. Não conseguiu dissimular o desinteresse. Tocou no tema, forçosamente. A saber: por que você trata sempre de personagens miseráveis e trabalha em um dos prédios mais chiques de São Paulo (próximo do café onde a entrevista foi feita)?

"Quanto mais miserável o escritor melhor", parecia dizer Jerônimo, o Matador.

E disse e atirou.

Pensando ele que nos matou.

Marcelino Freire