outubro 14, 2004

O Cinema Brasileiro

O cinema é cultura. O cinema é arte. O cinema também é filosofia. As sensações cinematográficas podem ser comparadas às sensações literárias e é justamente por isso que vivo repetindo que, assim como acontece quando lemos um livro, jamais terminamos de ver um filme sem um mero grau de transformação. O cinema transforma.

Hoje, quando pensamos em cinema nacional, já estamos, automaticamente (por questão de cultura ou de maturidade social), nos distanciando do tabu que este assunto nos remete. Sim, o nosso cinema possui novas caras e arranca novas sensações. Não penso que isto ocorra em função da queda do favoritismo norte-americano e nem mesmo por uma epidemia patriótica que se infiltrou nos brasileiros de última hora. A questão é muito mais positiva do que se pensa. O conceito de qualidade está mudando. E mais: não só o conceito de qualidade estética, mas, sobretudo, intelectual.

É óbvio que o nosso humilde cinema não transcende as superproduções dos filhos de Bush. Não cabe aqui tirar-lhes este mérito. Mas as pessoas estão cada vez mais buscando o cinema-cabeça. Aquele que toca, que arrepia, que faz chorar e refletir. É este o ângulo que os nossos cineastas têm buscado e alcançado com êxito, seja no contexto documentário, como foi com Carandiru e recentemente com Olga, ou no contexto filosófico-reflexivo, como está sendo com A Dona da História.

Este último, ainda traz o conceito da arte gerada pela arte, a concepção (em seu verdadeiro sentido), de uma nova tendência: o cinema brotado do teatro, técnica feliz e bem sucedida, experimentada pela segunda vez por Daniel Filho. Não há investimentos de grandes proporções, mas há um refinamento na escolha do elenco e na adaptação do roteiro. O expectador se encontra, se identifica, reflete. E tudo isso acontece sem a necessidade de gastos milionários. O resultado pode ser visto nas estatísticas das bilheterias. As pessoas estão indo mais ao cinema, as crianças, assim como acontecia no passado antes das atuais tecnologias, estão pegando gosto pela sétima arte.

Naturalmente, ocorre o incentivo a talentos desconhecidos ou reprimidos e desperta-se a atenção das autoridades governamentais para esta nova fonte de lucro financeiro e intelectual que se revela o Cinema Brasileiro. Há lazer mais lucrativo do que apreciar a sétima arte?

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