janeiro 29, 2005

Alguém aí me ouve? Eu queria falar. Queria falar dos erros que desconheço, aqueles que, se soubesse da existência, jamais teria libertado da prisão. Daqueles que até ouvi gritar meu nome como uma sinfonia sombria, bem ao longe, mas que eu fingi não ouvir e confundi com uma desgraça qualquer que não estava ao meu alcance. Aqueles erros que chegam sem bater, entram sem pedir licença, colocam o pé no seu sofá e ri da sua cara, como se você fosse de fato uma piada, como se rir fosse um seriado engraçado daqueles que continuam no dia seguinte e no dia seguinte e que chegam até a encher, tendo um fim inesperado, num momento jamais imaginado, talvez, encoberto por outro erro. Erros que te deixam com vontade de chorar, de sair correndo, de ignorar a melancolia, que nem um beijo molhado te faz esquecer. Erros que, como o próprio nome já diz, são erros. Erros... Erros.. Erros...

janeiro 27, 2005

A quantas anda a maturidade do Brasil?

Responsabilidade, hoje em dia, está muito aliada à questão de maturidade que alcançamos com o passar dos anos. Está, ainda, estigmatizada à função histórica do ser homem e ser mulher, mesmo com suas controversas.

A mulher, por si só, já amadurece primeiro; a menstruação e o crescimento dos pêlos púbicos acabam antecedendo o crescimento dos pêlos faciais e o engrossamento da voz no homem. Depois, vem a questão da maioridade: até há pouco tempo, o homem se tornava maior aos 18 anos; a mulher, aos 21. Hoje, talvez pela afirmação do papel feminino na sociedade, a questão da maioridade está padronizada. O homem e a mulher assumem sua maioridade cívica aos 18 anos.

Historicamente, socialmente e até logicamente falando, deveria ser assim. Mas como não "entrar em parafuso" quando ligamos a televisão e vemos crianças de 8 e 9 anos de idade cuidando dos irmãos menores e dos afazeres domésticos, enquanto a mãe trabalha fora? Ou, então, trabalhando em zonas rurais, carvoarias e lixões paragarantir o sustento da família? Sim, crianças iguais as que você tem na família e que deveriam estar na escola, atribuindo a sua maturidade ao ato de simplesmente ser criança.

E o Brasil, você e eu nessa história toda? Às vezes, fico pensando naquele adolescente que freqüenta uma escola pública e que não se dá conta das oportunidades que tem em mãos. Penso nos pais destes adolescentes, que não atribuem a devida responsabilidade para o problema. E lamento pelos educadores que vêem seus aprendizados acadêmicos se escoarem pelos vidros quebrados das escolas aonde lecionam.

Há pouco tempo, falei neste espaço da questão da revolução e reafirmo: os jovens de antigamente sabiam detectar os problemas e correr atrás da solução, mesmo que esra se tornasse um problema ainda maior. As pessoas sabiam pensar coletivamente.

Hoje, no entanto, vejo uma juventude com visões míopes. Diante dos meus olhos, o Brasil - um gigante adormecido e imaturo.

janeiro 10, 2005

Dizem que quem canta, seus males espanta. Eu digo mais: quem canta, seus males compatilha e com eles, também a sua alegria, a sua essência, o seu melhor e pior. Não é só isso: quem canta muda a vida de quem ouve. E quem sabe ouvir, tem o dom de proliferar sentimentos. Quem sabe ouvir torna aquele que sabe cantar imortal. E tudo vira música. E tudo vira poesia. E tudo começa a fazer sentido. Assim disse o eterno Itamar Assumpção:

Quem canta seus males espanta
(Itamar Assumpção)

Entro em transe se canto, desgraça vira encanto
Meu coração bate tanto, sinto tremores no corpo
Direto e reto, suando, gemendo, resfolegando
Eu me transformo em outras, determinados momentos
Cubro com as mãos meu rosto, sozinha no apartamento
Às vezes eu choro tanto, já logo quando levanto
Tem dias fico com medo, invoco tudo que é santo
E clamo em italiano ó Dio come ti amo
Eu me transmuto em outras, determinados momentos
Cubro com as mão meu rosto, sozinha no apartamento
Vivo voando, voando, não passo de louca mansa
Cheia de tesão por dentro, se rola na face o pranto
Deixo que role e pronto, meus males eu mesma espanto
Eu me transbordo em outras, determinados momentos
Cubro com as mãos meu rosto, sozinha no apartamento
É pelos palcos que vivo, seguindo o meu destino
É tudo desde menina, é muito mais do que isso
É bem maior que aquilo , sereia eis minha sina
Eu me descubro em outras, determinados momentos
Cubro com as mãos meu rosto, sozinha no apartamento