junho 25, 2004

The garden and me

Tudo ao seu redor girava como um carrossel. Na sua mente, os pensamentos subiam e desciam, mas não eram delicados e engraçadinhos como os cavalinhos que não sabem relinchar. Eram sim impertinentes e chatos como aquelas crianças que não respeitam o término da brincadeira, que não entendem o olhar de cansaço do pai por não agüentar ficar ali nem mais um ninuto vendo aquele negócio girar e girar e girar e girar.

Era o início de mais um dia e nem sequer havia a possibilidade de dar um "atualizar" e fazer a coisa ficar mais comportada, assim como página na internet que estaciona e fica cheia de "xis" e sem imagem nenhuma, carregada pela metade. Não tinha como.

Não tinha saída. O afastamento da normalidade não era incômodo. O trabalho nas mãos dos outros, fluindo sabe-se lá como também não era problema. Estavam lhe proporcionando uma lavagem cerebral, com a espuma que ela mesma disponibilizara. E ninguém perguntou se aquele banho realmente a deixaria limpa. Mas estava lá, novamente sentada no banco do jardim. Sozinha. As mãos apoiando a cabeça sobre as pernas e os olhos cobertos de lágrimas. Estática. Um corpo sem ação. Os sentidos dominados por estranhos. E as lágrimas escorrendo pelo rosto ininterruptamente. Sem qualquer controle. Uma a uma. Gota por gota.

Alguém não identificado chega ao seu lado. De branco, mas não era um anjo. Pega em seu braço sem dizer nada e a conduz para longe do jardim. O único gesto que faz, para o qual entende a finalidade, é passar a mão no rosto, enxugando as lágrimas. No mais, se deixa ser guiada pela criatura de branco. O destino ela já descobrira - o quarto. Aquele lugar morto, vazio, frio. Uma cama, uma mesa redonda com uma cadeira e um armário sem gavetas. Só. Nenhum objeto como companhia. Um comprimido como alimento e pronto. Acordaria no dia seguinte e veria o trajeto do dia repetir-se novamente: os mesmos donos da verdade, os mesmos comprimidos, a cabeça girando e o jardim. O único que a compreendia de fato, que não dizia que ela estava errada e que não a incomodava. Belo - o jardim das mais belas flores do mundo.

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