junho 28, 2005

Ânsia

Questionamentos.
próximos, distantes;
comuns, insensatos;
sutis, paralelos;
incertos, exatos.
Paradoxais.

Tal qual a incompreensão da música de fundo.
Tal qual o objetivo que nasce em minh'alma
E morre por tanto querer ser objetivo.

À minha frente, gente.
Ao meu lado, gente.
Em minha vontade de fuga, gente.
O querer ficar, gente.

Questionamentos afoitos.
Daqueles de querer arrancar o que está bem aqui.
O que jamais se teve certeza de que realmente esteve ali.
De querer destruir o auto-falante de onde ecoa
Essa voz concentrada
Que insiste em me desconcentrar.

Daqui pra frente, amanhã.
Vontade de dormir, amanhã.
Sede de seguir, amanhã.
Despedir, talvez, amanhã.

Questionamentos aspirantes.
Iguais aos botões de rosas do jardim -
Aqueles que pensaste ser azuis.
Iguais, sim, à música que toca agora.
Bendito seja o som que nunca ouvi
E que me trará todas as respostas.

Revelar o que se vê, amor.
Sustentar o que se sente, amor.
Desvendar o desconhecido, amor.
Ser o que se é, amor.

junho 14, 2005

23 Anos de Momentos

Certos momentos da vida, você pára, olha pra cima, dá aquela coçadinha na cabeça e sutilmente olha pra trás. Assim, disfarçadamente, com uma certa timidez, como quem não quer acordar nenhum fantasma. Então, você percebe que nem sempre olhar pra frente ou pra trás causa algum efeito substancial pra quem simplesmente caminha. A vida está aí na maratona, do seu ladinho. Às vezes, ultrapassa com um sorrisinho irônico e você nem percebe. Outras, passa como um furacão e quando você se dá conta, já foi.

Tem gente que chega aos vinte e três anos e fica se perguntando o que há de tão especial nisso. Tem gente que se desespera e finge que não está vendo. Tem gente que fica saudosista. Tem gente que não percebe que está lá. E tem gente que comemora, chuta o pau da barraca e continua levando. Acho que, no meu caso, coloco tudo isso aí num liqüidificador, faço uma vitamina daquelas e vou ingerindo em pequenas doses, day after day.

Mas olhar pra trás é inevitável. É a única viagem que você realmente consegue realizar só e com apreensão. Você pega uma nave espacial, vai até os cinco anos de idade, quando andava na rua segurando forte a mão do seu pai, como se o simples fato de segurar sua mão criasse um campo de força que o protegeria contra todas as forças do mal. Você retorna para a nave e vai uns dois anos adiante, quando pergunta pra sua mãe o que sigifica motel, porque viu escrito em letras garrafais num muro qualquer. E, lógico, acredita quando ela responde que é um lugar aonde vende madeira. Você segue na nave, num período bem confuso da sua vida, quando esquece o diário debaixo da carteira na escola, o que faz com ele pare nas mãos daquela professora que deixa bem claro que ele foi lido. Ainda queimando de vergonha, você entra na nave rapidinho e pára num período não muito distante, quando consegue o primeiro emprego e entra na faculdade. Então, você saca que todas aquelas estradas que ficaram lá atrás, momentos de afetos com irmãos, de diversão com os amigos da rua, de saborear o doce de leite da avó, de ter a redação lida na sala de aula, o primeiro show, o primeiro beijo, momentos que compuseram a pessoa que você se tornou hoje, não ficaram lá atrás. Momentos assim não passam. O ser humano é um quebra-cabeça de momentos. De infinitos momentos e é por isso que as pessoas não conseguem se entender e se decifrar verdadeiramente. Todos esses momentos não somem, não passam, não ficam no meio do caminho. Os momentos vão com a gente aonde quer que pensemos em ir.

Chegar aos vinte e três me fez perceber que não é tão ruim assim. Me permitiu perceber que nem sempre os melhores arquitetos assinam os melhores momentos. E que os melhores momentos nem sempre estão nos lugares mais bonitos. Mas me abriu os olhos. Me fez entender que entre ter vinte e três e oitenta e dois anos não há a menor diferença. Porque nunca é tarde para se criar bons momentos.

Quero agradecer aos meus amigos e todos que me acompanham e torcem por mim, por contribuírem com seus tijolinhos para a construção de momentos tão especiais na minha vida.