março 17, 2005

Marco Literário

"Oração das Donas do Inferno". Foi esse o conto que Clarah Averbuck leu no início do seu pronunciamento. O motivo desta leitura? Ela teria que ler algo e, ao tomar emprestado o meu exemplar de "Das coisas esquecidas atrás da estante", era justamente a página deste conto que estava demarcada. Clarah gostou da coincidência e resolveu lê-lo, justificando que provavelmente também o teria escolhido, caso assim tivesse que fazer. Lady Averbuck leu seu conto ferozmente, entonando em sua voz exatamente o que sua linguagem escrita faz sentir.

Ao seu lado estava Marcia Denser - Clarah Averbuck amanhã -, que se emocionou com a performance teatral de um dos seus contos. Marcia leu uma crônica inédita, escrita para alguma antologia que participou, das várias que fez em comemoração aos 450 anos de São Paulo. Como definiu Marcelino Freire, "um encontro a quatro mãos", já que, sucedendo Clarah e Marcia, encontraram-se Marcelo Mirisola e Reinaldo Moraes. Os quatro escritores são estigmatizados como "malditos" e marcaram época porque possuem uma linguagem visceral, revolucionária, chocante.

De quem foi a idéia deste encontro? Só poderia ter sido dele, Marcelino Freire, que também foi curador do "Encontros de Interrogação", promovido em novembro passado no Itaú Cultural, cuja repercussão foi tão boa que teremos segunda edição em 2005. Seguindo a mesma linhagem deste, que objetivava reunir escritores da Novíssima Geração e discutir seu processo criativo, sua literatura e suas referências, o "Marco Literário" também contou com a valorização dos novos escritores, além da organização de oficinas literárias. Aconteceu para reunir escritores de mesmos estilos de uma geração anterior a ícones contemporâneos. Bem à altura de Marcelino Freire, a idéia não poderia ter sido mais criativamente feliz.

O próprio Grande Marça me explicou no restaurante do Sesc Consolação que o "Encontros de Interrogação" foi um imenso passo para se chegar ao "Marco Literário". Mais que eventos literários, tanto um quanto outro tiveram o grande papel de promover a literatura brasileira, aproximar o escritor do leitor e afirmar um cenário literário que, cada vez mais, aparece em constante criação e evolução.

Eventos como esses têm também a responsabilidade de "quebrar" o saudosismo literário nas universidades. Existem novos escritores em cena, a literatura mudou, inovou, está aí para quem quiser ver. A crítica está fazendo o seu papel e os estudantes precisam conhecer a nova literatura na escola e não por acaso, como vem ocorrendo.

O evento ainda não acabou. Hoje, 18 de março às 20h, Joca Reiners Terron, escritor mato-grossense radicado em São Paulo e autor do livro de contos "Curva do Rio Sujo" e do romance "Não há nada lá", encontra pela primeira vez Milton Hatoum, amazonense radicado em São Paulo e um dos principais nomes da literatura contemporânea, autor dos romances "Relato de um certo oriente" e "Dois irmãos".

Amanhã, 18 de março, também às 20h, Luiz Rufato, autor do premiado romance "Eles eram muitos cavalos", encontra pela primeira vez Evandro Affonso Ferreira, que também surgiu nos anos 90 e é autor dos romances "Erefuê" e "Araã!", este finalista do Prêmio Jabuti 2004.

Vai lá:

Sesc Consolação
R. Dr. Vila Nova, 245 - V. Buarque - São Paulo - SP
Tel.: 3234-3009 / 3011-3252

março 13, 2005

Desesperança

O fluxo da vida e suas modernidades -
Perda total do ritmo
Pessoas não reconhecem os passos
Não percebem os caminhos
Não observam as paisagens
Modernidades que retardam o sentir
A percepção só vem depois que a luz se apaga
E novamente encontra dificuldades quando reacende
A subjetividade sobrepõe-se a qualquer grau de percepção
E a vida vai soar numa sinfonia diferente da que se conhece
Sempre incompleta
A luz do mundo vai piscar
De repente, tudo vai ser ainda menos familiar
As portas estarão abertas
Mas a entrada continuará sendo proibida
A linha de chegada é a linha do horizonte