setembro 25, 2005

Fique

Passaste por mim e deixaste lembranças. Sim, eu ainda as tenho – lembranças. Esquecida que sou, me esqueci de esquecer-te. E querer-te ainda está nos meus planos. Se tenho tuas lembranças, ainda tenho tu.
E tu, beleza encantadora, ainda és minha. Não tenho apenas lembranças. Mais que isso: tenho esperanças. Tudo o que preciso agora.

setembro 21, 2005

Escuro

Fecho os olhos e me enxergo melhor. Assim como Malte Laurids Brigge, que começou a ver aos vinte e oito anos, também eu comecei a ver já crescida, aos vinte e três. Fecho os olhos e deixo a lógica conduzir meus pensamentos. Logo eu, que jamais permiti ao meu lado humano transcender as barreiras do real e absoluto. Vejo melhor agora, sim, mas ainda de olhos fechados. Talvez algum dia eu os abra. Quando a minha visão míope não me incomodar mais. Aos trinta e três, será? Agora, preciso agora! Alguém me ensina a sentir?

setembro 20, 2005

E esse "não", o que é?

Agora que você veio, não quero mais. Pode ir, pode ir. Vá! Não te quero aqui. Não consigo. Não posso. Quero. Quero minha paz de volta. Minha cabeça no lugar de sempre. Quero minhas dúvidas comigo. Não essas, as outras. Quero meu coração inteiro,
batendo Zélia Duncan e não Maria Bethânia. Isso aqui não tem serventia, me diz? Leve tudo: meu desejo, meus óculos, meus sapatos. As canções. Deixe apenas meu sorriso - aquele que te cumprimentou pela primeira vez - e a linda imagem de canto do olho.

setembro 19, 2005

A luz da estrela mais linda que sorri em sua constelação

Como expor certas coisas sem parecer clichê? Dizer e redizer tudo o que já foi dito pelos outros sobre esse tipo de coisa que poderia ser tão bem dita por você mesma? Nessas horas, se arrepender é fácil e quase imprescindível. Rever certos conceitos também. Mas é inevitável não ser hipócrita e não enxergar a covardia que brota dos poros. Milagres existem? Estão por aí? Ofereço tudo o que tenho por um deles. Aceito empréstimo, consignação, permuta ou qualquer outra proposta que faça isso acontecer de uma vez. Que faça ser tão perfeito como espero que seja, que, assim como estas palavras que saem facilmente, simplesmente aconteça. Aconteça e faça brilhar essa mágica que me faz desligar do mundo e esquecer de certas importâncias. É forte, muito forte. E está começando a doer. Meu medo é que isso vá além do que parece possível. E se não for possível eu suportar? Não suportar também é clichê? Danem-se os clichês! Aos diabos com os medos! Uma gota de coragem e é tudo. Tudo para trazer sol às trevas. E eu só gostaria de saber como isso aconteceu. Veio assim, sem avisar. Do nada! E não está me levando à nada senão às expectativas de quem espera sentada. De quem em sua espiritualidade ainda acredita em milagres. De quem, mesmo diante de toda grandiosidade, insiste em não aceitar. De quem nunca sentira isso antes. De quem nunca mais vai rir ou duvidar ou julgar. Será que isso é? E agora?

setembro 11, 2005

(...) Pois versos não são, como as pessoas imaginam, sentimentos (a esses, temos cedo demais) - são experiências. E por causa de um verso é preciso ver muitas cidades, pessoas e coisas, é preciso conhecer bichos, é preciso sentir como voam os pássaros, e saber com que gestos flores diminutas se abrem ao amanhecer. (...)

(trecho de "Os Cadernos de Malte Laurids Brigge", de Rainer Maria Rilke)