maio 07, 2007

brasileiros são seres inconseqüentes. há não muito tempo, cerca de cinqüenta anos, talvez, essa inconseqüência era semeada para o bem. o resultado está aí: toda a evolução no cenário político, social e cultural que temos hoje. em alguns pontos, precária, diga-se de passagem. mas, na maioria deles, memorável. foi com esse espírito de possibilidades e de um saudosismo platônico por não ter vivido uma época tão rica, que acompanhei o espetáculo "cara e coração", com moraes moreira e armandinho. um espetáculo de 1.977, época em que os jovens eram diferentes e direcionavam a sua, bem, a sua racionalidade, não para apologias à violência ou rotulações de bicho-papão aos policiais. havia luta por uma vida melhor, por um cenário político melhor. uma supervalorização da cultura. os frutos da minha geração sabem o que é isso? a arma mais poderosa eram as palavras, as canções. não os murros e pontapés e destruição de bens alheios.

com o coração roxo. foi assim que deixei a minha casa hoje cedo, ao ver pela televisão o bangue-bangue que os jornais mostraram desde a madrugada de domingo, quando a polícia se confrontou com pseudos-apreciadores-de-música, vulgo vândalos, no meio da apresentação dos racionais mcs. ou seriam irracionais? depende do seu ponto de vista.

toda forma de amor vale a pena, disse pessoa. e eu digo que toda forma de cultura também. e foi essa a proposta da virada cultural deste ano - um coquetel de muita música brasileira, valorizando todos os estilos - dança, ópera, teatro, música e teatro, assim, tudo junto, e muitas pessoas que normalmente não se interessam por esses temas, lá, embriagadas do melhor que uma cidade do tamanho de são paulo pode oferecer. e você liga a tevê e se depara com uma proposta que deveria ser unicamente cultural, misturada à pancadaria. isso faz a gente esmorecer. mas só por um momento. porque, repito: toda forma de cultura vale a pena.

espero que os bons apreciadores das artes e suas manifestações continuem criando propostas como estas. propostas para o povão. sim, aqueles que não tem dinheiro para ver um show numa casa de espetáculos, mas aqueles mesmos que, no meio de gente, suor e euforia, sabe emanar uma energia que dinheiro nenhum nesse mundo pode comprar. porque as artes estão aonde o povo está. e enquanto existirem propostas assim, a minha indignação será vencida por um fio de esperança!

como lindamente cantou zelinha:

"na medida do impossível tá dando pra se viver. na cidade de são paulo, o amor é imprevisível..."

Um comentário:

i disse...

Não consigo deixar de pensar que em algum momento o país ficou para trás...