março 28, 2007

acordei meio reflexiva hoje. parece coisa de "meu querido diário", mas não é não. fui de ana carolina no coletivo, mas não deu muito certo e voltei à pink mesmo. foi uma maneira que encontrei de me manter acordada. levei uma encarada sinistra da cobradora e pensei "é, as coisas não devem estar fáceis pra ela", e foi então que me ative às questões do mundo. seguinte: você pára e pensa "god, como eu cheguei até aqui?". pensa bem: pode ter sido escolha - sua ou dos seus pais, não importa -, pode ter sido um fatídico "deixa a vida me levar e a gente vê aonde se chega", pode ter sido a conspiração de alguma unidade mor ou sei lá o quê. culpa da cobradora. pensei no seu olhar, na sua posição um tanto corcunda no assento do coletivo e em todas aquelas centenas de pessoas subindo e descendo. pela janela, fiquei rente a um caminhão - de mudança, acho - e não pude deixar de observar seus dois ocupantes. o fulano sentado no lugar do passageiro estava meio cabisbaixo e, do nada, pensei na sua hipotética família: sua hipotética mulher levantando cedo para preparar o café preto e sua marmita, seu hipotético filho fazendo corpo mole para não ir à escola e na sua preocupação por pagar a conta de luz até o fim da semana. pensei de novo na cobradora. e na minha teoria de que tudo na vida é uma questão de escolha. será que a cobradora gosta de ser cobradora? e o cara do caminhão gosta de ser ajudante? e eu gosto de estar onde estou agora? o mundo é da classe A, alguns brasileiros consolados diriam. o mundo é dos espertos, eu diria. e, diante de muitos outros questionamentos, fico me perguntando como é que a gente cai tão facilmente na indiferença? não digo em relação à sociedade em geral, mas em relação a si próprio. pensa de novo: você morre de vontade de sair de casa pra morar na sua própria casa. por que é que não sai? você morre de vontade de escrever um livro. por que não escreve? você morre de vontade de ajudar o velhinho a atressar a rua. por que não ajuda? a gente sempre acaba caindo no velho discurso reclamante com a bunda sentada na cadeira. vez ou outra, com um copo de cerveja na mão. mas não sai disso. não se nota que a indiferença propriamente dita, muitas vezes, não está no não refletir. está, pura e simplesmente, no não fazer. a gente até assiste ao telejornal pra se atualizar um pouco, mas eles ajudam mais na alimentação do nosso desconsolo do que numa saída prática para essas questões. a gente até tenta ler um bom livro, mas a coisa acaba ficando só pra você mesmo porque a maioria das pessoas não busca soluções em livros. às vezes, você até consegue desabafar com alguns corpos presentes, mas, em outras vezes, você cria um blogue, abusa da mania de falar sozinha, e despensa as suas frustrações nele. não é fácil para a cobradora e também não é fácil pra mim.

Um comentário:

Ricardo Miyake disse...

De volta, após um looongo verão sufocante... (mas o outono não está melhor...) Bjs!