março 24, 2004

Quem nunca causou na vida?

Andei causando, sabe? Sim, causando, do verbo causar. Provoquei. Sempre faço isso. Hum, por quê? Ah, porque é assim que sou. Em casa, no escritório, na rua e na internet. Sim, na internet. Tenho causado bastante por aqui. Tem um montão de gente querendo me pegar de jeito. Por que causei? Nada demais, fui defender Caetano e Gil, só isso. Não, não me interessa a conta bancária deles, se andam embolsando do governo, se colocam no mundo filhos inúteis, nada disso. Não agora. Interessa sim sua herança musical. Se não são tão bons quanto antes também não me interessa. As pessoas mudam, sabia? Umas para melhor e outras para pior. Ninguém passa mais que vinte e quatro horas exatamente igual. Não, não passa. Brasileiro tem memória curta, esse é o meu problema com as pessoas. Se já fiz isso antes? O que, causar na internet? Sim, sim, já fiz. Há um tempo atrás arrumei uma puta confusão com um pessoal aí. Fui defender a Clarah Averbuck no blogue da GNT. O que eu estava fazendo lá? Lendo a crônica da Clarah, lógico. Um montão de gente não entendeu nadica de nada do que ela escreveu e lá fui eu, pintando de advogada e professora ao mesmo tempo. Professora eu sou e, involuntariamente, estou apresentando grandes sintomas de advogada. O que a Clarah disse? Ah, ela disse que blogueiros não são escritores e que, nem sempre, escritores são blogueiros. Sim, escritores têm blogues. Conheço um montão. Mas blogue é um espaço particular e cada um faz dele o que quiser. Não é exclusivo da literatura, entendeu? Tudo bem, não quero discutir isso de novo. Sim, a Clarah é polêmica. Todo mundo é quando defende sua causa. Estou mentindo? Não é todo mundo que gosta dela. Não é todo mundo que gosta de mim também. O que ela acha das críticas? Nada. Ela não opina sobre isso. Faz bem ela. Sim, ela me disse isso uma vez. O que ela achou da minha opinião? Não achou muito, não. Deve ter caído da cadeira de tanto rir das asneiras que escrevi. Sim, escrevo asneiras, sabia? Nunca percebeu, não? Você precisa rever seus conceitos. Eu revejo os meus todos os dias. O Alê que fica nervoso quando não consegue mudar minha opinião. E ele quase nunca consegue. E eu também não mudo a dele, exceto em assuntos profissionais. Aí, não sei se por ética ou por ele realmente concordar. Ontem, mandei uma crônica do Zuenir Ventura pra ele e você tinha que ver, ficou uma fera. Não, comigo não. Com o Zuenir. O Alê não gosta dele. Ele não gosta dos colaboradores, só dos jornalistas por formação acadêmica. O que o Zuenir fez? Nada demais. Só criticou o despreparo de certos estudantes de jornalismo, ilustrando com um fato que ocorreu com ele. Mas não agiu ilicitamente, imagine. Ele não citou o nome do estudante que o entrevistou, apenas citou trechos da entrevista. Ele criticou a instituição e não o estudante. O Alê disse que ele não tem o direito de fazê-lo porque não é jornalista. Só os jornalistas podem falar de jornalistas? Disse ainda que a crônica foi plágio de idéia da Raquel de Queiróz. Até me mandou a crônica dela, a qual ele se referia. Muito bem escrita. Mas não, não foi plágio. Na literatura e na comunidade jornalística não existe plágio de idéias. Imagine se só o Drummond pudesse falar de amor. E o Vinícius, o que seria dele? O que seria de todos nós? Eu, hein. É, o Alê não gosta mesmo do Zuenir. É o jornalista mais parcial que já conheci na vida. O Alê, não o Zuenir. Ele gosta da Ana Paula Padrão. Até tem a foto dela no papel de parede do computador dele. O que eu acho dela? Nada. Nunca consigo ver o Jornal da Globo. Acordo às cinco, sabia? O Alê é um cara sério e leva as coisas muito a sério. A gente briga muito, sabe? Mas eu gosto dele e de todos meus amigos jornalistas. Até tenho intenção de me tornar uma algum dia desses. Essa discussão foi verbal, em pleno escritório. A gente sempre faz isso. Não, não falo baixo. Nem ao telefone. Se tento falar baixo ao telefone, não dá certo. Sim, sempre fui assim. Uma vez fiz um escândalo na rua por causa de uma abelha. Odeio abelhas. Eu era uma criança comedora de hambúrgueres, sabe? Ainda sou. Estava na ladeira da granja com minha mãe, lá em Diadema. Era perto da minha casa e estávamos cansadas. Tínhamos passeado bastante pelo centro e estava um calor infernal. Detesto calor infernal também. Sabe criança que, quando se vê nessa situação, anda rapidinho na frente da mãe só para esperá-la sentadinha logo mais adiante? Então, cheguei na metade da ladeira e sentei esperando minha mãe, lá embaixo. De repente, senti uma picada. Uma picadinha mínima. Quando vi a abelha, ah, foi um escândalo só. Nunca subi uma ladeira tão rápido em toda a minha vida. Quando fui ver, tinham umas três vizinhas no portão. Uma tinha levado até um vidro de álcool para passar na minha perna. Abelhas! Sempre acontece isso comigo. Já contei que aprendi a andar de bicicleta por causa de uma abelha? Sim, foi na Praça da Moça lá em Diadema. Era uma Monark rosa. Nem era minha. Estava tentando quando, de repente, pousa uma abelha americana no meu anti-braço esquerdo. Foi terrível. Pedalava e assoprava ao mesmo tempo, tentando espantá-la. Ela lá, concentrada fazendo seu trabalho. Entrei em desespero total. Quando vi, tinha aprendido a andar de bicicleta e, oh, mal tinha aprendido e já estava pedalando sem as duas mãos. Cometi um assassinato abelhudo, não tenha dúvidas. De recompensa, fiquei com um calombo enorme no meu braço. Mas aprendi a andar de bicicleta. Sim, continuo tendo pavor de abelhas. Até o Vitinho ri de mim, acredita? Outro dia fomos ao Zoológico, um mês antes de começarem a matar os animaizinhos. Estávamos na praça de alimentação, só nós dois, sem as minhas duas irmãs para nos acudir. O Vitinho lá, concentrado na batatinha e eu mal conseguia olhar para o lado em meio a tanta abelha. Sem mais nem menos, aquela abelha intrusa resolveu invadir o meu suco passando sabe por onde? Pelo buraco do canudo. Ah, perdi as estribeiras. Saí derrubando tudo. O vitinho? Não, ele ficou lá, achando que eu estava fazendo graça pra ele rir. Depois disso, a mãe dele percebeu que não pode nos deixar sozinhos em um ambiente em que sobrevoam abelhas. Não, não pode. Se eu não trabalho? Sim, claro que trabalho. Tá vendo! Por que foi tocar nesse assunto? Estou sendo convocada para uma reunião. Deixe eu ir causar por lá também. Tchau.

Nenhum comentário: