março 29, 2004

Por favor, aceite!

Você me viu sorrir e me disse para não sonhar. Disse que aquilo era aquilo, o ali, o agora e que de nada adiantaria eu viver de ilusão. Eu entendi, sério, entendi.

Então, você me ofereceu a sua verdade e eu aceitei. Todos os seus planos, os seus projetos . Vesti-me dos seus objetivos e não me importei se estava na moda ou não.

Aceitei a sua falta de possibilidades e até mesmo quando sem querer você não disse nada, nem que sim nem que não, eu aceitei.

Você me puxou para dentro do seu mundo e eu tirei os sapatos para entrar em você.

Eu conheci o Natal e aprendi a esperar e a prosperar. Entendi quem vinha primeiro e não me importei – respeitei as suas satisfações e ignorei o seu passado. Mais que isso: eu aceitei.

Engoli o tédio, inventei domingos, encontrei minha fé.

Chorei ao seu lado, lamentei as dores do mundo e não medi sacrilégios.

Compreendi o meu destino e resolvi encarar os seus desafios. Como recompensa, desvendei o enigma e aceitei. Simplesmente aceitei.

Aprendi a destruir o mal, a apreciar a vida e a amar as pessoas. Descobri que precisava delas, das suas felicidades e exaltações.

Deixei que você me conduzisse, fosse o meu guia, a minha bússola em mar aberto, em plena tempestade.

Aceitei tudo o que você me ofereceu, sem me preocupar se aquilo me deixaria pobre ou não.

Aceitei você, a sua pretensão e não me importei. Seus desejos foram os meus desejos e seu suor era formado pelas minhas lágrimas, que se escondiam em meio às suas alegrias. Não me importei.

Mas isso eu não aceito. Sério, pode levar. Leva, leva embora com cuidado. Não deixe cair, não deixe transbordar porque isso é perigoso. Sei que não é secreto e eu vejo isso. Mas não quero e queria que você entendesse. Eu aceitei você e só queria que você me aceitasse.

(Letra "proseada" da música Virtude de autoria do Francisco Lima, conforme desafio proposto em uma discussão sobre a aproximação da música com a literatura)

Nenhum comentário: