março 10, 2004

Fraquezas

Assumir fraquezas parece uma atitude um tanto quanto bucólica, né? É mais ou menos como assumir um grande pecado ou talvez um crime mal feito. Então, de repente, você se vê refém do mundo, das pessoas, das coisas, da sua própria vida. E, meio que sem perceber, você começa a subestimar os próprios conceitos, a desconfiar da capacidade de fazer, de ser, de fazer ser. E a vida parece fútil, injusta, reveladora de coisas jamais imaginadas e as pessoas, ora, as pessoas parecem monstros que tramam o tempo todo contra tudo e contra todos, contra você e, no primeiro momento de descuido, o espelho não mostra mais aquela velha imagem conhecida. Você não é você. A sua vida não é mais sua e passa a ser fruto de mãe e pai desconhecidos e você começa a acreditar que a sua vida jamais foi sua e nem de ninguém. A vida. Que vida? Tudo ao redor parece conspirar, tudo é do contra. O inesperado, o não desejado. Tudo o que você gostaria de mudar, de entender, de não mais crer. Esse “tudo” é manipulador, incontrolável. Não é ingênuo. Não é perfeito nem imperfeito. Tudo é errado, desesperador, incompreensível. Tudo, tudo, tudo não passou de um pesadelo. Não de conseqüências. Tudo foi um pesadelo, uma dramatização barata da sua mente perseguida. Talvez, algo que poderia ser, mas não é e não foi. Tudo pode ser resgatado, positivo, remodelado. A sintonia encontra a freqüência certa e a música passa a ser entendida. Nem cantada nem dançada. Apenas compreendida. E, mesmo com os cabelos bagunçados, com um gosto desconhecido na boca, com o cérebro disputando lugar com o coração, mesmo com aquele velho pijama que você tanto gosta, mesmo com excesso de claridade na face, você consegue abrir os olhos. E, devagar, começa a reconhecer o ritmo, o verde, o rosa, o azul e o branco.

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