setembro 18, 2006

Fruto de uma Geração

Oh, sim. Uma camisa de linho gasta, não combinando com a calça jeans envelhecida. Uma sacola de plástico na mão esquerda e, na mesma mão, uma vareta de uns trinta centímetros. Na cabeça, praticamente todos os fios brancos. Na outra mão, um cigarro. No fundo dos olhos, a produção de um longa de quase setenta anos. No coração, muitas esperanças idas e as últimas escapando na fumaça enviada pelo pulmão. Nos pés, ah sim, nos pés um bom e velho All Star surrado. E talvez esta seja a essência do que eu gostaria de me tornar daqui a alguns anos. Não apenas uma imagem. Uma essência lapidada. Coisa de quem não está nem aí para os medos da vida. Coisa de quem é inconformado com o mundo. De quem é inquieto. Coisa de quem busca revolução.

Depois que você vira adulto, passa a entender muitos aspectos da vida. E deixa de compreender muitos outros também. O mundo prossegue e você tem que escolher. Está tudo numa prateleira de supermercado. Você segue escolhendo entre rótulos, marcas e embalagens, até que o coletivo escolhe por você. Quando pára pra ver, dá nisso: uma geração movida pela inércia. Pergunto: aonde está "o futuro do país"? Cadê aquela sede de se libertar? Cadê a herança dos famosos anos 60 e 70? Cadê a moçada na rua dizendo não para a política suja? Cadê a produção cultural focada no coletivo? Cadê quem se veste com a armadura da coragem e vai lutar pelo todo? Cadê aquela movimentação acadêmica? A música falando pela gente? Cadê? Cadê?

Cusiosamente, isso tudo não está na TV nem no cinema. Mal dá pra dizer que isso é coisa de filme ou de novela. Porque o Brasil deu a luz a uma geração burra e irracional. Uma geração umbiguista, é verdade. Uma geração emotiva demais e apolitizada. Sem manifestos. Sem argumentações de um mundo melhor. Uma geração acometida pela síndrome do "deixa a vida me levar". E a vida leva sim: do nada a lugar nenhum. E quando a crise é enfatizada, vai todo mundo pro analista.

Uma camisa de linho gasta, não combinando com a calça jeans envelhecida, e um bom e velho All Star nos pés. E fim.

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