junho 12, 2006

O Banheiro da Maria

Uma das coisas mais comuns desde que o mundo é mundo é a habitual troca de informações que as mulheres desempenham no banheiro. Um banheiro feminino proporciona um pouco de tudo. Desde reflexões filosóficas até firulas das mais superficiais futilidades humanas.

Mas quando você trabalha num ambiente em que a maioria das pessoas é formada por mulheres e o toallete não passa de um “dois pra quarenta coletivo”, você começa a não fazer muita questão dessa prática comunicacional. A complexidade feminina somada ao famoso jeitinho brasileiro acaba fazendo, quase que involuntariamente, com que você saia em busca de uma reflexão, digamos, mais introspectiva, na paz dos azulejos. Foi então que me dei conta de que a solução estava exatamente na porta à frente do “diário de bordo da empresa”. Um espaço com pouco luxo, com, vai lá, uns três (no máximo quatro) metros quadrados, um pitoresco chuveiro alocado exatamente em cima do vaso sanitário (???), cujo espaço entre um objeto e outro é arquitetonicamente dividido por um, sim, é verdade!, cabo de vassoura, que vai de uma extremidade e outra da parede. Mas para este eu sei a finalidade! Funciona precisamente como um varal para os panos de chão, louça e de tirar pó após suas respectivas higienizações.

Senhoras e senhores, com vocês, o Banheiro da Maria!

O ambiente ideal para dar um tempo do caos da vida pessoal ou corporativa por uns momentos, longe de interrupções, constrangimentos ou qualquer artifício que um banheiro coletivo venha a oferecer. E, mesmo que solitária, se houver a estranha necessidade de uma fofoquinha ou uma profunda reflexão, o Banheiro da Maria continua sendo a melhor solução. Entre produtos de limpezas, vassouras, rodos, estoque de papéis higiênicos e toalhas descartáveis, é possível encontrar edições recentes de Caras, Veja, Capricho, Minha Novela e, pasmem!, exemplares exímios de renomados escritores nacionais e internacionais.

Ninguém entendeu ainda porque respondo que “fui refletir” quando largo meu e-mail bombando, meu telefone esgoelando e o chefe arrepiando os cabelos e me refugio no Banheiro da Maria. Sem querer, me pego brincando com Drummond, dialogando com Clarice, ficando cega com Saramago ou conhecendo um pouco mais sobre a vida da Oprah numa revista qualquer. Muitas vezes, acabo refletindo sobre o fato de que, por alguns momentos, não importa você ganhar trezentos Reais por mês, ter cinco filhos, fazer supletivo na comunidade católica perto da sua casa e, uma vez por semana, visitar um advogado do Estado para saber como anda o processo do emprego antigo. Por alguns momentos não importa. Porque, mesmo fazendo parte do sistema, você pode sair da sua realidade em quatro metros quadrados e se deparar com um mundo real e fantasioso bem ao alcance dos seus olhos, entre páginas de revistas e livros que, provavelmente, nem mesmo o presidente da empresa aonde você limpa o banheiro e serve o café tem conhecimento.

Viva o Banheiro da Maria!

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