abril 07, 2004

Coisas que emocionam

Não sei como e nem por que me veio à cabeça tais palavras. Estou aprendendo a gostar de poemas agora, já grande. Tenho muito que percorrer. Mas já tenho meus favoritos, acreditam nisso? Sim, é dele mesmo: Mário de Andrade. Um dos melhores poemas já identificados por minhas vistas míopes e sei lá mais o quê. Ah, tenho que compartilhá-lo com vocês! Poema é como música e a gente nunca sabe por onde ele toca nosso coração. Chega por algum caminho. Muitas vezes, as lágrimas também têm motivos desconhecidos. Aconteceu comigo. Não conti minhas emoções quando vi esse poema na minissérie Um só Coração, anunciando a morte do poeta Mário de Andrade há alguns capítulos. Já o conhecia, mas foi diferente. Espero que apreciem. E que se sintam. E que se emocionem.

Poemas da amiga
(Mário de Andrade)

A tarde se deitava nos meus olhos
E a fuga da hora me entregava abril,
Um sabor familiar de até-logo criava
Um ar, e, não sei porque, te percebi.

Voltei-me em flor. Mas era apenas tua lembrança.
Estavas longe doce amiga e só vi no perfil da cidade
O arcanjo forte do arranha-céu cor de rosa,
Mexendo asas azuis dentro da tarde.

Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus amigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.

Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.

No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia
Sereia.

O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade...

Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...

As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.

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