janeiro 22, 2004

Florescer de uma amizade - Final

Algum tempo se passou e um ventinho refrescante fazia com que os cabelos de Cacau balançassem naturalmente. Ali, ao lado de Kaíque, uma fileira de formigas empenhadas no árduo trabalho de transportar alimentos para o formigueiro, chamava a atenção do rapaz. Entre as formigas havia uma em especial, com dificuldades para carregar um enorme pedaço de folha, verdinha como a bandeira nacional. As demais formigas continuavam o trajeto, concentradas no trabalho, sem se importar com a companheira em apuros. Mas a formiguinha parecia não se importar e insistia em seu esforço, para cumprimento da tarefa. Foi quando Kaíque percebeu que estava sozinho nessa e que ninguém poderia ajudá-lo. Não poderia desistir, não naquelas alturas dos acontecimentos. Teria que ser persistente, verdadeiro e, sobretudo, sincero. Insistiu, olhando ainda mais fundo nos olhos de sua amada:

- Cacau, acho que, se eu tive coragem de perguntar, você também poderia ter de me responder. Não subestime meus sentimentos, não subestime a nossa amizade, os nossos sentimentos.

Cacau parecia séria e permaneceu pensativa por algum tempo, com os olhar fixo em Kaíque. Sentia por dentro uma palpitação, mas seu jeito exigente de ser não permitia demonstrar qualquer exaltação. Esse era o seu jeito, muitas vezes, mais racional que emocional. Sempre agia com a razão, mesmo quando não existia a menor intenção. Desviou sutilmente o olhar de Kaíque, observou as próprias mãos unidas e, com um profundo suspiro, muito mais de alívio que de aceitação, resolveu abrir o coração:

- Está bem... Sabe, eu acho que essa pergunta já está respondida. Ela sempre foi respondida durante todo o tempo que ficamos juntos, mesmo sem jamais você tê-la me feito antes.

Seu olhar continuava baixo e agora balançava a cabeça de um lado para o outro, lentamente. Parecia um ato de negação, como se não estivesse entendendo aquilo tudo. Mas, na verdade, a relação dos dois jamais havia ficado tão clara. E continuava:

- Kaíque, eu tive medo. Medo de você ter entendido tudo errado, de não ter sacado. Droga, as pessoas sempre confundem os sentimentos, não os compreendem. Olha, eu adoro estar com você, ouvir você, falar com você. Gosto da diversidade dos nossos assuntos, na confiança que conquistamos um no outro e na leveza que nossos problemas ganham, quando conversamos sobre eles.

Kaíque consentia com a cabeça, em silêncio. Os dois pareciam mais leves naquelas circunstâncias e Cacau continuava com suas racionais declarações:

- Ka, acho que você não me conhece completamente, ou, talvez, eu não me conheça muito bem. Eu gosto de você a ponto de aceitá-lo exatamente como é, a ponto de não fazer esforço para mudar o seu jeito de ser. Acho que nós, assim como a maioria das pessoas, não entendemos de sentimentos. Os sentimentos não podem ser explicados com palavras. Quer saber mais? Os sentimentos não existem para ser compreendidos, apenas e simplesmente para ser sentidos.

Naquele instante, Kaíque levou sua mão até a boca de sua amada, fazendo com que ela parasse de falar. Encarou-a como nunca fizera antes, ajeitou os seus longos cabelos e sentiram-se profundamente através de apaixonado beijo.

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