agosto 30, 2007

cortei.

sempre quis fazer isso. cheguei perto outras vezes, mas nunca a ponto de fazer acontecer. fui lá. perguntei. imaginei. introduzi inúmeras pesquisas de campo. arrisquei o software. convenci uma amiga íntima do photoshop a fazer uma montagem. pensei. desisti. pensei de novo. me convenci e larguei de mão.

eu precisava de uma novidade de espírito. na ausência de alguém pra dizer que eu amo e de limite no cartão de crédito, não pensei duas vezes e fui lá. ao lugar que posso fazer o que bem entender na certeza de que afetarei apenas e tão somente a mim.

cortei.

cheguei e disse pra maria que queria ponta em tudo. paradoxalmente, sem nenhuma certeza do que estava dizendo. exatamente da forma como faço sempre de quase dois em dois meses. disse corta e ela cortou.

e eu não gostei.

dessa vez fui guiada pelo instinto e não rolou pesquisa de campo e nem reflexão. simples: você acorda, diz vou e vai. simples assim.

no primeiro dia, eu emanava novidade. passei mousse e fixador e me mandei. o pessoal aprovou e não concordou com a minha definição de estar parecendo mais velha. não discuti, mas não tive dúvidas de que estava ainda mais parecida com minha mãe. mamãe!

aí veio o domingo. testei a pomada que a san havia indicado, achei que gostei e me mandei pela segunda vez. o dia foi encerrado no cinema e, olhando as atrizes, não pude me convencer sequer do razoável.

então chegou a segunda e, com ela, alguns comentários consistentes. levei uma encarada sinistra e totalmente avaliativa do zulinho, que se findou com um indecifrável "gostei". tá bom.

conseqüentemente, chegou a terça. a pomada deixou tudo uó. irritada, ignorei o espelho e me mandei pela terceira vez. acho que as coisas não estavam bem mesmo porque o dia não foi digno de um comentário sequer.

e finalmente veio a quarta, gritando uma mudança estratégica. troquei a pomada pelo antigo creme de pentear e um conformismo tomou conta, literalmente, da minha cabeça. mas só até a hora do almoço, quando o paulinho inevitavelmente concluiu que eu estava parecidíssima com a velma, do scooby doo. vermelho. curtinho. de óculos. hã. deixa pra lá.

só que não adiantou. chegou a noite e, nos preparativos para o jantar japonês, a marcitchas, que não faz idéia de quem seja o paulinho, não pôde evitar a comparação: ju, você está parecendo a velma! nocaute. me convenci.

escrevendo esse texto, lembro-me que eu só queria ponta em tudo e que, de ponta mesmo que é bom, não tem nada. pelo menos não do jeito que eu idealizei. o jeito é esperar crescer e evitar o espelho. será que vai ficar muito estranho se eu adotar o boné?!

agosto 15, 2007

memórias que fizeram de mim quem eu sou.

é.

essa é a minha lição de casa.

vou ali tentar me lembrar e já volto.

agosto 02, 2007

que você desça desse ônibus, tropece banalmente no esgoto mais próximo e morra afogado em excrementos de ratos e de seres medíocres da sua espécie.

que o universo vomite em você todos esses dizeres numa intensidade triplicada pela revolta, impotência e indignação que aqui apresento.

que as palavras de perseverança que eu disse ainda ontem na frente daquela câmera reconstitua esse meu espírito ferido pela violação à conduta de um ser humano digno, que se levanta todos os dias às seis da manhã para ganhar de forma decente o montante vergonhoso que paga as contas da família, e ainda assim não garante reconhecimento ou insenção da obrigação, assuntos estes que não vêm ao caso.

não vou rezar esta noite porque meu gênio impulsivo, tenho certeza, vai responsabilizar deus e o lula que, coitado, têm muitas vaias brasil afora com o que se preocupar, ao invés de perder suas horas preciosas refletindo na criminalidade e violência que tomam conta das cidades.

pensando bem, vou reconsiderar esta decisão e rezar, sim. mas só, seu verme maldito, para você observar as fotos daquele celular e se sensibilizar com o sorriso lindo daquela criança, cujo momento específico ficará para sempre gravado apenas na minha memória.

rezarei, ainda, para que você veja as imagens daquela casa, daqueles cachorros e de todas aquelas pessoas felizes, e se digne a levar a sua vida pela força de um trabalho honesto e não sobreviver às custas do esforço alheio.

rezarei também para que você ouça as músicas daquele mp3, seja influenciado de alguma forma, e encontre serenidade de espírito e sensibilidade nessa sua alma depravada, com a mágica do bem transformadora que a música causa nas pessoas.

torcerei para que você seja guiado por uma curiosidade que, embora suja, o leve a abrir aquela apresentação profissional no power point e seja despertado pelo desejo e vontade de ser inserido no mercado de trabalho, o qual inclusive ratos como você têm direito nessa democracia podre em que vivemos.

sei que você deve estar rindo em algum lugar e exigindo de mim agradecimentos por eu ainda ter ficado com a minha carteira e a minha vida. pois fique sabendo que não estou agradecida a isso simplesmente porque me recuso a declinar a comodismos convencionais como este. fique sabendo também que, por mais que eu tenha certeza de que esta é uma questão de cunho moral e administrativo, não dedicarei culpas ao governo. não andarei por aí reconhecendo você face a face. saiba você, seu escroto, que prossegui no meu caminho: encontrei minhas amigas e vi o filme que tinha em mente. amanhã acordarei novamente às seis horas e tentarei chegar mais cedo ao escritório para colocar em dia a apresentação que você me impediu, e me disponibilizarei além dos limites para aceitar mais freelas e conseguir pagar por três celulares ao mesmo tempo, situação que seres limitados como você me obriga.

e, acredite, não me sensibilizarei diante de cenas sórdidas nas prisões do estado vitimando seres da sua estirpe, liricamente apresentadas pela tevê e pelo cinema. não derramarei lágrimas diante de relatos de vítimas da própria índole e circunstância, justificando a criminalidade como singelos métodos de sobrevivência.

se ainda não entendeu, no português que está acostumado, quero que você se FODA e que ao mesmo tempo seja tão fodido a ponto de que, propositalmente, tudo o que te dá prazer na vida vire do avesso.