julho 15, 2007

às vezes me convenço
que a amizade
é um estado
quase árabe
de espírito

julho 12, 2007

Sabe, eu gosto de pensar que literatura é a atividade mais solitária que existe. Sabe por quê? Simplesmente porque você escreve pra você. É uma atividade que depende única e exclusivamente de você. Claro que tem lá o desejo de ser lido, compreendido, surpreendido. Mas isso é raro. O verdadeiro lance é achar exatamente o ponto que a literatura te ajuda. Pra mim funciona como uma análise. Meu blogue é como se fosse meu analista. Vou lá, crio coragem, digo um monte de coisas e saio correndo. Eu acho que antigamente as pessoas eram mais sensíveis, sim. A diferença é que naquela época existiam poucos frustrados no mundo. As mudanças não eram vistas a longo prazo e as pessoas não trabalhavam com o tempo escorrendo pelas mãos. Hoje é diferente. Outras épocas. Entendo o que você diz porque sofro do mesmo mal. Exatamente do mesmo mal. Mas você precisa transformar a literatura na sua grande aliada. Escrever desenfreadamente sem a ânsia sufocante de achar que aquilo vai cair como uma luva em alguém. Escreva pra você. Deixe que caia como uma luva em você. E o que vier será lucro. E também é importante que você não force. Deixe que a atividade flua. Na hora que tiver de vir, virá. Com um pensamento, uma cena, uma música. Não desanime. Entenda que a literatura é algo de você para você. E pronto.

julho 10, 2007

Entre umas e outras

Uma anda pelo mundo atrás de respostas. Por quês. Comos. Serás. Todos lançados ao vento desenfreadamente. Tem dias que duvida do feito de suportar e, sabe-se lá como, apenas consegue. Em alguns momentos pensa ter chegado no resultado, mas o minuto seguinte vem e desfaz tudo outra vez. Concluiu que esse é o segredo de viver: dá-se um passo, lança-se um pergunta e pronto - sai correndo atrás das respostas. Quem consegue alcançá-las é feliz. Quem pensa que alcançou passa a vida oscilando entre risadas e lágrimas. E os que ainda estão na busca nutrem-se de esperanças ou simplesmente desistem. Destes é que ela tem medo. Provavelmente, porque sabe exatamente o que sentem e o que não querem, assim, na íntegra.

A outra é dona de si. Guerreira e vítima na medida certa. Entende os contextos porque os constroi com as próprias convicções. Se sente medo e acha que é o momento de recuar, simplesmente recua. Não apresenta justificativas, não pede permissão, não calcula limites e vai. Até onde a sua vontade permite. Vive um dia após o outro. Apaga as decepções como se apaga uma equação que não está certa. Assopra os fiapos e recomeça. Se parasse para refletir o que se passou, talvez desejasse ser outra pessoa. Mas acha que a vida é curta demais e prossegue. Não sabe se tem medo porque não se permite bloquear um impulso. Acredita que a felicidade está nas tentativas. E talvez ela esteja certa.

Entre umas e outras, no fundo, desejo que uma seja a outra.

julho 03, 2007

Deixando as Amarras

Sabe que eu descobri que nós temos muitas coisas em comum? O Jazz me fez perceber. Talvez você não saiba quem é a Amy Winehouse e nem a Diana Krall. Talvez você conheça bem a Ella e a Billy Holliday e até poderíamos emendar uma conversa longa falando sobre elas e sobre outras tantas que eu ainda não tive a oportunidade de descobrir. É engraçado porque eu me lembro das nossas brigas no carro pelas músicas que tocavam na rádio. Eu dizia que não queria ouvir música de velho e você arrebatava, dizendo que era música de inteligente. Hoje vejo que você está coberto de razão.

Acho que você adoraria saber que hoje eu lamento muitíssimo por não ter prosseguido com aquelas aulas de órgão em que me matriculou. Aulas que eu detestava porque tinha que deixar minhas amigas brincando nas tardes de sábados ensolarados e suportar o professor chato que, ao invés de dar atenção às alunas, ficava cortejando a minha irmã. Se naquela época eu tivesse o dom da argumentação como tenho hoje, talvez eu o teria convencido a me matricular nas aulas de violão. E enquanto você me falaria sobre os deuses dos teclados, eu lhe falaria sobre Zélia Duncan e Menescal e Gilberto Gil. Seriam papos interessantíssimos.

Engraçado, mas descobri que somos tão iguais. Você não imagina isso, não é mesmo? Mas somos. Não chego a ter o seu gênio, esse foi herdado pelos outros. Mas tenho a sua mania de se indignar perante as coisas. Sabe aquela coisa de falar, falar, falar, se cansar, tomar fôlego e falar de novo? Minha mãe quer morrer quando isso acontece e eu a entendo porque isso deve fazê-la lembrar você. Você deve se lembrar da nossa última discussão. Eu lá em cima e você lá embaixo. Cada um com a sua verdade, meu deus, aquilo não teve um fim. Foi pior do que quando eu disse a você que pela primeira vez que votei no Lula. Aposto que você morre de vontade de olhar na minha cara e despejar um fatídico "não te falei". Ou talvez até despejar outras coisas que não me fariam diferença. Como quando você fez questão de me prometer aquele anel de formatura que eu jamais usaria. Você me vê usando um anel de formatura?

Às vezes tenho vontade de pegar um avião e ir até aí pra te encarar de frente. Quem sabe mostrar minhas tatuagens e falar dos meus amigos gays. Sabe que morro de vontade de saber o que você pensa sobre isso? E se eu te falasse que aquela minha prima, que você tanto gosta, é gay? Juro. Não quer acreditar, não acredite.

Se eu pudesse em algum lugar do passado me encontrar com aquela menininha mimada e pirracenta, cara, não tenha dúvidas de que eu a ensinaria a ser gente. Diria a ela para comer menos e provaria por A+B que ganhar ou não presente no natal não faz a menor diferença. Mas eu bateria palmas toda vez que ela fizesse uma cena para unir a família na mesa. Ah, se bateria. E também faria com que ela lesse muito mais e amadurecesse um pouquinho mais rápido. Assim, quem sabe a sua empresa teria resistido ao tempo e aos avanços da modernidade? Talvez, nossos problemas com dinheiro seriam outros, talvez maiores, e o prazer de ver algo nosso ir pra frente ofuscaria os olhos daqueles dois que não souberam aproveitar o que tinham.

A vida está complicada, não é mesmo? Por aqui, tudo inteiro. Os cachorros continuam latindo, os inquilinos deram um tempo. Ou nós demos, não sei ao certo. Continuo pagando as contas e estudando. De vez em quando dá vontade de falar com você sobre isso, mas não me adiantaria muito. Na maioria das vezes é melhor falar com quem está de fora porque as verdades soam mais realistas, se é que isso é possível. Quero entrar na sua casa qualquer hora dessas para pegar os livros. Eles devem estar carentes de olhares, afinal, estão há tanto tempo esquecidos. Ainda são seus, mas considero meu maior tesouro.

O Jazz me fez dizer tudo isso. E tem um montão de outras coisas que ainda estão aqui e prefiro que aqui fiquem. Você poderia ter sido lembrado por muitos motivos e foi logo me aparecer com o Jazz.