maio 23, 2007

Verde

As pessoas no seu silêncio conseguem mostrar o que há de mais verdadeiro dentro de si. O aspecto de dor fatalmente é revelado num semblante triste, ausente de palavras e rico de olhares perdidos. Pensamentos embaralhados tentando responder questões sem um pingo de concentração. Então você se esforça para encontrar um fiapo de alegria num rosto irreconhecível, mas não adianta. Nem mesmo aguçando a mais fértil das imaginações. E de repente tudo pode ficar pior com a presença de um ser de branco. Não sei porquê, mas dizem que isso faz amadurecer. Você só fica aguardando o momento. Tenta uma revista. Uma música. As pessoas olham pra você e, graças a alguma coisa, você permanece lá.

Verde, por enquanto.

maio 07, 2007

brasileiros são seres inconseqüentes. há não muito tempo, cerca de cinqüenta anos, talvez, essa inconseqüência era semeada para o bem. o resultado está aí: toda a evolução no cenário político, social e cultural que temos hoje. em alguns pontos, precária, diga-se de passagem. mas, na maioria deles, memorável. foi com esse espírito de possibilidades e de um saudosismo platônico por não ter vivido uma época tão rica, que acompanhei o espetáculo "cara e coração", com moraes moreira e armandinho. um espetáculo de 1.977, época em que os jovens eram diferentes e direcionavam a sua, bem, a sua racionalidade, não para apologias à violência ou rotulações de bicho-papão aos policiais. havia luta por uma vida melhor, por um cenário político melhor. uma supervalorização da cultura. os frutos da minha geração sabem o que é isso? a arma mais poderosa eram as palavras, as canções. não os murros e pontapés e destruição de bens alheios.

com o coração roxo. foi assim que deixei a minha casa hoje cedo, ao ver pela televisão o bangue-bangue que os jornais mostraram desde a madrugada de domingo, quando a polícia se confrontou com pseudos-apreciadores-de-música, vulgo vândalos, no meio da apresentação dos racionais mcs. ou seriam irracionais? depende do seu ponto de vista.

toda forma de amor vale a pena, disse pessoa. e eu digo que toda forma de cultura também. e foi essa a proposta da virada cultural deste ano - um coquetel de muita música brasileira, valorizando todos os estilos - dança, ópera, teatro, música e teatro, assim, tudo junto, e muitas pessoas que normalmente não se interessam por esses temas, lá, embriagadas do melhor que uma cidade do tamanho de são paulo pode oferecer. e você liga a tevê e se depara com uma proposta que deveria ser unicamente cultural, misturada à pancadaria. isso faz a gente esmorecer. mas só por um momento. porque, repito: toda forma de cultura vale a pena.

espero que os bons apreciadores das artes e suas manifestações continuem criando propostas como estas. propostas para o povão. sim, aqueles que não tem dinheiro para ver um show numa casa de espetáculos, mas aqueles mesmos que, no meio de gente, suor e euforia, sabe emanar uma energia que dinheiro nenhum nesse mundo pode comprar. porque as artes estão aonde o povo está. e enquanto existirem propostas assim, a minha indignação será vencida por um fio de esperança!

como lindamente cantou zelinha:

"na medida do impossível tá dando pra se viver. na cidade de são paulo, o amor é imprevisível..."