março 29, 2007

observação 1: sim. isso aqui está parecendo "meu querido diário".

observação 2: falo tanto de bar e de cerveja que daqui a pouco vão me obrigar a inserir o seguinte aviso: "o ministério da saúde adverte: leia o proseando com moderação".

observação 3: estou escrevendo minha vida num parágrafo só. percebeu?
conversando com uma amiga outro dia, perguntei eufórica: "cara, você viu o saia justa da última quarta?". ela, com aquele olhar de quem libera pensamentos do tipo "só a juliana mesmo, pra vir com esses assuntos", lançou enoooormes explicações dizendo que até assiste ao programa, mas somente quando a mulherada se dá ao sensato trabalho de ao menos ouvir o que a outra está falando, sem prosear ao mesmo tempo. poxa vida, mas não é esse o verdadeiro lance do programa? - pensei. e então eu descobri porque gosto tanto do dito: sou mulher. sou igualzinha a todas elas. tenho um quê ridículo de beth lago. tenho aquele ar de surreal da marcia tiburi. sou provida, vez ou outra, de momentos sérios como a mônica. e sou meio pseudo-intelectual igual à maitê. okay, me falta um pouco de modéstia também, mas aí já estou falando do lado juliana mesmo. ocorre que o saia justa, na minha opinião, é um dos melhores programas que a tevê exibe ultimamente. tem muita babaquice, é verdade, mas também há um super interfone ligado ao mundo. você se sente na sala da sua casa, falando com suas amigas. ou numa mesa de bar. discute-se política, sociedade, literatura, música, mulherices, etc etc etc. e não tem nada melhor do que falar de tudo isso munida de um certo pesar, mas ainda assim com humor. ultimamente tem sido assim: eu choro com os telejornais, limpo as lágrimas, espero a noite chegar, ligo a tevê e morro de rir com o saia justa.

março 28, 2007

acordei meio reflexiva hoje. parece coisa de "meu querido diário", mas não é não. fui de ana carolina no coletivo, mas não deu muito certo e voltei à pink mesmo. foi uma maneira que encontrei de me manter acordada. levei uma encarada sinistra da cobradora e pensei "é, as coisas não devem estar fáceis pra ela", e foi então que me ative às questões do mundo. seguinte: você pára e pensa "god, como eu cheguei até aqui?". pensa bem: pode ter sido escolha - sua ou dos seus pais, não importa -, pode ter sido um fatídico "deixa a vida me levar e a gente vê aonde se chega", pode ter sido a conspiração de alguma unidade mor ou sei lá o quê. culpa da cobradora. pensei no seu olhar, na sua posição um tanto corcunda no assento do coletivo e em todas aquelas centenas de pessoas subindo e descendo. pela janela, fiquei rente a um caminhão - de mudança, acho - e não pude deixar de observar seus dois ocupantes. o fulano sentado no lugar do passageiro estava meio cabisbaixo e, do nada, pensei na sua hipotética família: sua hipotética mulher levantando cedo para preparar o café preto e sua marmita, seu hipotético filho fazendo corpo mole para não ir à escola e na sua preocupação por pagar a conta de luz até o fim da semana. pensei de novo na cobradora. e na minha teoria de que tudo na vida é uma questão de escolha. será que a cobradora gosta de ser cobradora? e o cara do caminhão gosta de ser ajudante? e eu gosto de estar onde estou agora? o mundo é da classe A, alguns brasileiros consolados diriam. o mundo é dos espertos, eu diria. e, diante de muitos outros questionamentos, fico me perguntando como é que a gente cai tão facilmente na indiferença? não digo em relação à sociedade em geral, mas em relação a si próprio. pensa de novo: você morre de vontade de sair de casa pra morar na sua própria casa. por que é que não sai? você morre de vontade de escrever um livro. por que não escreve? você morre de vontade de ajudar o velhinho a atressar a rua. por que não ajuda? a gente sempre acaba caindo no velho discurso reclamante com a bunda sentada na cadeira. vez ou outra, com um copo de cerveja na mão. mas não sai disso. não se nota que a indiferença propriamente dita, muitas vezes, não está no não refletir. está, pura e simplesmente, no não fazer. a gente até assiste ao telejornal pra se atualizar um pouco, mas eles ajudam mais na alimentação do nosso desconsolo do que numa saída prática para essas questões. a gente até tenta ler um bom livro, mas a coisa acaba ficando só pra você mesmo porque a maioria das pessoas não busca soluções em livros. às vezes, você até consegue desabafar com alguns corpos presentes, mas, em outras vezes, você cria um blogue, abusa da mania de falar sozinha, e despensa as suas frustrações nele. não é fácil para a cobradora e também não é fácil pra mim.

março 27, 2007

falando em falar sozinha, quando eu mudei meu template, os comments sumiram. bau bau! caput! desapareceram. e, não sei se notaram, mas o contador de visitas também. aí eu até pensei em ir atrás e fazer tudo reaparecer. mas quer saber? vou nada. porque eu gosto de falar sozinha. sofro dessa maldita síndrome do individualismo. e olha que nem filha única eu sou. volta e meia ela vai embora e eu fico meio pop, mas a verdade é que a minha verdadeira essência depende um pouco do ser só. não me importo se tem alguém ouvindo quando estou cantando. nem mesmo se alguém vem se aproximando quando estou vendo alguma série erótica. estou no meu espaço e, se alguém tem que se sentir envergonhado por alguma coisa, que seja quem se aproxima. é a arte de criar a sua própria bolha e então fazer o mundo parecer mais fácil. estou tentando aprender a arte do despudor também. mas vai ser muito difícil eu expor as minhas gorduronas pra fora da calça, por exemplo. ou fazer sóbria o que eu faço quando estou bêbada. aliás, bom assunto esse. que mania, essa que as pessoas tem de julgar. tudo bem, tudo bem, eu detesto indiferença, mas sair julgando atos e pensamentos alheios? ora, bolas! olhar para o próprio umbigo de vez em quando é enriquecedor. as pessoas deveriam tentar. quem, eu? estou tentando, meu caro. estou tentando.

março 26, 2007

porque eu converso com a tevê, sabe como é? é, sim. os caras ficam lá falando e eu falo de volta. tem dia de manhã que eu me emociono até com o jornal. com a porra dos cinqüenta anos da união européia. pode isso? e mando o chavez pra putaquepariu porque ele decidiu reintegrar terras pra criar gados. okay. cada povo tem o presidente que merece e eu tenho o lula. deveria guardar minhas lágrimas para o meu povo, né não? mas tá bom, tem lágrimas pra todo mundo. e comentário pra tudo também. porque eu estou voltando ao estranho estado de ter a resposta na ponta da língua pra quem quer que seja. falar com a tevê e sozinha no coletivo é coisa de doido. de marciano mesmo. daqui a pouco vou conversar comigo mesma sobre meus segredos e todo mundo vai ficar sabendo. quando era pequena e sentia que estava crescendo - essa coisa de adolescente, sabe? -, eu tinha o estranho medo de que as pessoas ouvissem o que eu pensava. e outras coisas do tipo "será que o amarelo pra mim não é verde pra ele?". pois é. só depois eu fui perceber que não adiantava ter esse tipo de medo porque os pensamentos eram audíveis sim, senhora. e a certeza da vez é: tenho medo de mim.
hoje me sinto um pouco perdida nos labirintos das minhas dúvidas. coloco as esperanças todas no tempo - essa minha arte de buscar esperança! - e ouço o calm down na minha cabeça com a mesma freqüência que entôo o será?!

aí eu venho até aqui, escrevo isso aí em cima e novamente não me reconheço. antes que eu apague tudo, toma!

março 08, 2007

descobri que sou uma negadora nata, daquelas que negam a essência, os problemas, as alegrias, os anseios.

em relação a você, muita coisa deixou de ser negada. só você teve o dom de me causar certas sensações. jamais neguei que passar madrugadas ao seu lado, filosofando sobre a vida e rindo das nossas histórias com nossos amigos foram momentos impagáveis.

jamais neguei que minha vida cheia de gente hoje foi desenvolvida me espelhando em você.

jamais neguei que minha paixão musical nasceu por sua causa, ainda quando falávamos de bossa nova, da dany gato e da zelinha.

jamais neguei que a profissional juliana hoje foi inicialmente idealizada por você, graças ao seu feeling de sacar pessoas e aproveitá-las - não se aproveitar delas. não entendo bem o porquê, mas não me sinto aproveitada negativamente por você. porque o amor é capaz de justificar até o injustificável.

jamais neguei que você sempre foi uma boa pessoa. até hoje insisto em acreditar que os nossos desvios ocorreram por conta de um coração deixado de lado - o seu.

jamais neguei que sempre quis o seu bem, mesmo quando você jogou na minha cara que minhas reais intenções eram outras, bem outras. mesmo não encontrando fundamento, decidi não invocar qualquer espécie de explicação. prossegui jamais negando que você deu alguma espécie de sentido à minha vida, me abrindo os olhos e os fechando de vez em quando.

jamais neguei que enxergava uma importância tremenda quando, trabalhando, você me despertava com um "oi" do outro lado da linha. ou quando eu ouvia pelo celular "alô alô marciano", carinhosamente dedicada a mim.

jamais neguei que encontrei verdade nas suas palavras - das primeiras às últimas - e por isso estou aqui te libertando do meu coração. e acredite, também não nego que minhas decisões tenham sido impróprias.

de tudo, hoje percebo que você foi a minha única não negação. e esse tipo de coisa somente acontece quando há amor, aquele amor parecido com o maior do mundo. não o de mãe ou o de filho - quase isso, o de amigo.

não nego aqui que jamais senti saudades. que jamais senti vontade de pegar no telefone e te contar sobre o beijo que eu dei, o livro que eu li, o show que eu fui. ou de sair por aí perguntando de você, mesmo sem haver necessidade porque todo mundo me traz notícias suas. não me atrevo negar que fico desesperada quando a notícia que chega é que você está aflito com alguma coisa.

não nego em circunstância alguma que o nosso fim fez em mim um estrondo horrível.

assumo e não nego que passei os últimos doze meses engolindo o choro e que a minha técnica de espairecer foi por água abaixo, libertando soluços sofrridos, logo depois que o avistei vindo na minha direção e eu levantei a cabeça e apressei o passo.

não nego você porque, como diz Drummond:

"de tudo fica um pouco
às vezes um botão
às vezes um rato."

não acho que seja possível pôr um fim no fim. novidade de espírito não tem nada a ver com espírito evoluído. não acho que mudei muita coisa ou que esta situação deva ser mudada. também não busquei em nenhum momento o "dizem por aí", mas acho que você tem o direito de saber como eu me senti durante todo esse tempo. como eu me sinto agora.

apenas isso.

como não tenho culhão pra dizer tudo isso pessoalmente, lanço minhas palavras ao cyberespaço.

março 06, 2007

porque é assim: eu não sou pessoa de uma pessoa só.
de um amigo só, de um ídolo só,
de uma música só ou de um livro só.
minhas, são muitas as teorias.
sou de todo mundo - uma condição quase tribalista.
dificilmente sei eleger o melhor,
o mais bonito, o mais inteligente.
meu negócio, ó, é gente.