maio 16, 2006

Na fila do banco

O ar condicionado na potência máxima, como se o intuito de todas essas pessoas fosse uma visita longa à Era Glacial. Mas não. É só uma tentativa exagerada de fugir do calor em pleno outono. Mania estranha essa que paulistano tem de ligar o ar condicionado por qualquer razão. Está no carro e quer fugir do barulho urbano, pronto, fecha tudo e liga o ar condicionado. Está no escritório, o sol raiando lá fora, não dá outra, trava as janelas e bota esse ar pra funcionar. Por que é que em fila de banco deveria ser diferente? E ainda, para ajudar, essa fila quilométrica.

Sorte daquele moço todo engravatado. Pelo menos a camisa de mangas compridas dele segura a onda fria. O coitado chegou atrás de mim pingando suor e deve estar achando tudo uma maravilha. Queria só ver ele agüentar os quarenta minutos em pé que nem eu com essa frente-única. Para ajudar, a nervosinha aqui da frente esfregando esse boleto na minha cara. Mocinhaaaa, estamos no mesmo barco, dá pra entender? Está nervosinha, não quer ficar aqui, dê meia volta e vai embora. Só com as balançadas desse boleto, já entendi que você estuda na São Judas e que paga R$ 835,00 de faculdade. Como a data de vencimento é do dia 10 e, deixe me ver, estamos no dia 15, você tem uns bons reaizinhos de multa a pagar aí. Já sei. Seu pai obrigou você vir até aqui para pagar a faculdade, assim como a obriga a ir pra aula todas as noites. Hmmm... mas com essa saia gigante que você está vestindo, esses óculos by Dior na cabeça e essa imitaçãozinha barata de Louis Vutton, você é daquelas que senta mesmo, mas no banco do bar da frente da faculdade, né? No colo... ah, deixa pra lá!

E aquela guria encostada no divisor de filas? O glamour em pessoa e, ora essa, ela usa All Star! Sério, qualquer pessoa com All Star tem o mínimo do fashion no sangue, vai dizer que não? Para mim, quem usa All Star tem conteúdo, ideologia e merece respeito. E a guria é corajosa. Olha só aquele piercing no nariz e aquela tattoo no braço. A senhorinha atrás dela nem tem coragem de levantar os olhos, coitada. Uma faz cara de brava e a outra, cara de medo. Surreal, isso. Mas juro que vou fazer cara de terrorista se os TRÊS motoboys que ocupam os únicos TRÊS caixas que estão funcionando permanecerem lá nos próximos três segundos. Senhoras e senhores, tem caixinha de sugestão nesse banco? Vou sugerir agora mesmo um novo procedimento: os motoboys têm das dez ao meio-dia para realizarem seus serviços. Depois disso, só os brasileiros normais, aqueles com contas vencidas que não podem ser pagas nem via internet e nem via telefone, podem usufruir dos serviços bancários nas agências. Não é uma boa idéia?

Brasileiro é assim mesmo. Tem de agüentar todas essas caras e bocas até chegar a sua vez. Mas quando chega a sua vez - que novidade! -, o sistema sai do ar. E você ainda tem que se conformar, chegar em casa, ligar a TV e ouvir que o seu banco é o mais completo do país.