março 31, 2004

Começando pelo fim

Mania de começar pelo fim. Quem não tem curiosidade de saber o que vai acontecer no final? Como vai terminar a novela? E aquele filme, será que o mocinho realmente vai levar a melhor?

Essa característica é comum em todas as pessoas. A gente vive premeditando o que poderá vir depois. Vive com aquela curiosidade de saber se o romance vingará, se terminará o ano com dinheiro, se morrerá cedo e muitos outros “se”, que seriam suficientes para estender esse texto por mais umas quinhentas páginas. Tem gente que se rende às crenças de religiões africanas. Tem gente que prefere os costumes ciganos e tem gente até que acredita em dons sobrenaturais. Será que é bom viver correndo atrás do que acontecerá? Vai depender da circunstância, mas não deixa de ser um comportamento inevitável. Eu vejo isso de forma positiva quando nos permite o estabelecimento de metas, quando parte de um planejamento pessoal ou até mesmo profissional. Agora, a partir do momento que há o desprendimento do foco principal, dos verdadeiros objetivos, imaginando apenas o que poderá ser o final, pode sim senhor trazer prejuízos catastróficos. É preciso saber se policiar.

Em muitos momentos, nos atentamos ao final dos fatos e acontecimentos involuntariamente. Eu, por exemplo, tenho uma mania peculiar de, sempre que iniciar a leitura de um novo livro, ir direto à frase final. Se estraga a surpresa? No meu caso, não. Primeiro porque, saber do final desconhecendo o contexto, é irrelevante. E, depois, sempre acabo sendo absorvida pelo contexto e, conseqüentemente, esquecendo do final. Isso quando o destino não decide colaborar e o final acaba sendo o início por conta própria. Acabo de ler o livro 1933 foi um ano ruim, de John Fante, e descobri que ele foi publicado pouco antes de sua morte, no ano de 1983. Como é o segundo livro que leio do autor, não é mentira afirmar que iniciei a trajetória literária a la Jonh Fante pelo final.

Ainda no meio literário, no final do ano passado, ganhei o livro A Ditadura Derrotada, de Elio Gaspari, último livro da trilogia que completa-se com A Ditadura Escancarada e A Ditadura Envergonhada. Tive, claro, a opção de substituí-lo na livraria por qualquer um dos dois primeiros, mas optei por não fazê-lo. Mais uma vez, impulsionada pelo "ímpeto do que ocorrerá no final", resolvi iniciar minha leitura por meio das últimas conclusões do autor em relação à ditadura militar no Brasil. Comecei pelo último ciente de que, neste caso, a ordem dos fatores não iria alterar o produto. De súbito, fui atingida por uma dupla curiosidade: a de conhecer a visão de mais um jornalista a respeito deste drástico período político e a ansiedade de saber como foi que Elio Gaspari finalizou o terceiro fruto após anos de estudos, de coleta de depoimentos, aprendizados, e concepções de amizades, conforme o livro ilustra muito bem. Conclusão: independente de começo, meio ou fim, iniciei uma leitura prazerosa que poderei comentar mais a fundo em uma outra ocasião.

Continuando essa minha reflexão, certa vez, li um texto do ilustre Charles Chaplin que dizia algo sobre como a vida deveria ser iniciada com a velhice, quando já passamos pelas experiências de uma vida inteira, aprendemos, choramos, perdoamos, seguindo pela juventude, quando normalmente desfrutamos o que de melhor a vida nos oferece e sendo finalizada com um belo gozo, o momento da nossa concepção. Trata-se de uma teoria bastante interessante, fruto daquele nosso sentimento de saber antecipadamente no que vai dar a caminhada e em concluí-la em grande estilo.

Mas há algo realmente muito importante nesse pensamento. Existe, nisso tudo uma esperança, um otimismo, uma torcida pelo bem sucedido, seja lá o que ele for. E, se o fim é a felicidade, por que não começar por ele, ou melhor, por ela?

março 29, 2004

Por favor, aceite!

Você me viu sorrir e me disse para não sonhar. Disse que aquilo era aquilo, o ali, o agora e que de nada adiantaria eu viver de ilusão. Eu entendi, sério, entendi.

Então, você me ofereceu a sua verdade e eu aceitei. Todos os seus planos, os seus projetos . Vesti-me dos seus objetivos e não me importei se estava na moda ou não.

Aceitei a sua falta de possibilidades e até mesmo quando sem querer você não disse nada, nem que sim nem que não, eu aceitei.

Você me puxou para dentro do seu mundo e eu tirei os sapatos para entrar em você.

Eu conheci o Natal e aprendi a esperar e a prosperar. Entendi quem vinha primeiro e não me importei – respeitei as suas satisfações e ignorei o seu passado. Mais que isso: eu aceitei.

Engoli o tédio, inventei domingos, encontrei minha fé.

Chorei ao seu lado, lamentei as dores do mundo e não medi sacrilégios.

Compreendi o meu destino e resolvi encarar os seus desafios. Como recompensa, desvendei o enigma e aceitei. Simplesmente aceitei.

Aprendi a destruir o mal, a apreciar a vida e a amar as pessoas. Descobri que precisava delas, das suas felicidades e exaltações.

Deixei que você me conduzisse, fosse o meu guia, a minha bússola em mar aberto, em plena tempestade.

Aceitei tudo o que você me ofereceu, sem me preocupar se aquilo me deixaria pobre ou não.

Aceitei você, a sua pretensão e não me importei. Seus desejos foram os meus desejos e seu suor era formado pelas minhas lágrimas, que se escondiam em meio às suas alegrias. Não me importei.

Mas isso eu não aceito. Sério, pode levar. Leva, leva embora com cuidado. Não deixe cair, não deixe transbordar porque isso é perigoso. Sei que não é secreto e eu vejo isso. Mas não quero e queria que você entendesse. Eu aceitei você e só queria que você me aceitasse.

(Letra "proseada" da música Virtude de autoria do Francisco Lima, conforme desafio proposto em uma discussão sobre a aproximação da música com a literatura)

março 24, 2004

Quem nunca causou na vida?

Andei causando, sabe? Sim, causando, do verbo causar. Provoquei. Sempre faço isso. Hum, por quê? Ah, porque é assim que sou. Em casa, no escritório, na rua e na internet. Sim, na internet. Tenho causado bastante por aqui. Tem um montão de gente querendo me pegar de jeito. Por que causei? Nada demais, fui defender Caetano e Gil, só isso. Não, não me interessa a conta bancária deles, se andam embolsando do governo, se colocam no mundo filhos inúteis, nada disso. Não agora. Interessa sim sua herança musical. Se não são tão bons quanto antes também não me interessa. As pessoas mudam, sabia? Umas para melhor e outras para pior. Ninguém passa mais que vinte e quatro horas exatamente igual. Não, não passa. Brasileiro tem memória curta, esse é o meu problema com as pessoas. Se já fiz isso antes? O que, causar na internet? Sim, sim, já fiz. Há um tempo atrás arrumei uma puta confusão com um pessoal aí. Fui defender a Clarah Averbuck no blogue da GNT. O que eu estava fazendo lá? Lendo a crônica da Clarah, lógico. Um montão de gente não entendeu nadica de nada do que ela escreveu e lá fui eu, pintando de advogada e professora ao mesmo tempo. Professora eu sou e, involuntariamente, estou apresentando grandes sintomas de advogada. O que a Clarah disse? Ah, ela disse que blogueiros não são escritores e que, nem sempre, escritores são blogueiros. Sim, escritores têm blogues. Conheço um montão. Mas blogue é um espaço particular e cada um faz dele o que quiser. Não é exclusivo da literatura, entendeu? Tudo bem, não quero discutir isso de novo. Sim, a Clarah é polêmica. Todo mundo é quando defende sua causa. Estou mentindo? Não é todo mundo que gosta dela. Não é todo mundo que gosta de mim também. O que ela acha das críticas? Nada. Ela não opina sobre isso. Faz bem ela. Sim, ela me disse isso uma vez. O que ela achou da minha opinião? Não achou muito, não. Deve ter caído da cadeira de tanto rir das asneiras que escrevi. Sim, escrevo asneiras, sabia? Nunca percebeu, não? Você precisa rever seus conceitos. Eu revejo os meus todos os dias. O Alê que fica nervoso quando não consegue mudar minha opinião. E ele quase nunca consegue. E eu também não mudo a dele, exceto em assuntos profissionais. Aí, não sei se por ética ou por ele realmente concordar. Ontem, mandei uma crônica do Zuenir Ventura pra ele e você tinha que ver, ficou uma fera. Não, comigo não. Com o Zuenir. O Alê não gosta dele. Ele não gosta dos colaboradores, só dos jornalistas por formação acadêmica. O que o Zuenir fez? Nada demais. Só criticou o despreparo de certos estudantes de jornalismo, ilustrando com um fato que ocorreu com ele. Mas não agiu ilicitamente, imagine. Ele não citou o nome do estudante que o entrevistou, apenas citou trechos da entrevista. Ele criticou a instituição e não o estudante. O Alê disse que ele não tem o direito de fazê-lo porque não é jornalista. Só os jornalistas podem falar de jornalistas? Disse ainda que a crônica foi plágio de idéia da Raquel de Queiróz. Até me mandou a crônica dela, a qual ele se referia. Muito bem escrita. Mas não, não foi plágio. Na literatura e na comunidade jornalística não existe plágio de idéias. Imagine se só o Drummond pudesse falar de amor. E o Vinícius, o que seria dele? O que seria de todos nós? Eu, hein. É, o Alê não gosta mesmo do Zuenir. É o jornalista mais parcial que já conheci na vida. O Alê, não o Zuenir. Ele gosta da Ana Paula Padrão. Até tem a foto dela no papel de parede do computador dele. O que eu acho dela? Nada. Nunca consigo ver o Jornal da Globo. Acordo às cinco, sabia? O Alê é um cara sério e leva as coisas muito a sério. A gente briga muito, sabe? Mas eu gosto dele e de todos meus amigos jornalistas. Até tenho intenção de me tornar uma algum dia desses. Essa discussão foi verbal, em pleno escritório. A gente sempre faz isso. Não, não falo baixo. Nem ao telefone. Se tento falar baixo ao telefone, não dá certo. Sim, sempre fui assim. Uma vez fiz um escândalo na rua por causa de uma abelha. Odeio abelhas. Eu era uma criança comedora de hambúrgueres, sabe? Ainda sou. Estava na ladeira da granja com minha mãe, lá em Diadema. Era perto da minha casa e estávamos cansadas. Tínhamos passeado bastante pelo centro e estava um calor infernal. Detesto calor infernal também. Sabe criança que, quando se vê nessa situação, anda rapidinho na frente da mãe só para esperá-la sentadinha logo mais adiante? Então, cheguei na metade da ladeira e sentei esperando minha mãe, lá embaixo. De repente, senti uma picada. Uma picadinha mínima. Quando vi a abelha, ah, foi um escândalo só. Nunca subi uma ladeira tão rápido em toda a minha vida. Quando fui ver, tinham umas três vizinhas no portão. Uma tinha levado até um vidro de álcool para passar na minha perna. Abelhas! Sempre acontece isso comigo. Já contei que aprendi a andar de bicicleta por causa de uma abelha? Sim, foi na Praça da Moça lá em Diadema. Era uma Monark rosa. Nem era minha. Estava tentando quando, de repente, pousa uma abelha americana no meu anti-braço esquerdo. Foi terrível. Pedalava e assoprava ao mesmo tempo, tentando espantá-la. Ela lá, concentrada fazendo seu trabalho. Entrei em desespero total. Quando vi, tinha aprendido a andar de bicicleta e, oh, mal tinha aprendido e já estava pedalando sem as duas mãos. Cometi um assassinato abelhudo, não tenha dúvidas. De recompensa, fiquei com um calombo enorme no meu braço. Mas aprendi a andar de bicicleta. Sim, continuo tendo pavor de abelhas. Até o Vitinho ri de mim, acredita? Outro dia fomos ao Zoológico, um mês antes de começarem a matar os animaizinhos. Estávamos na praça de alimentação, só nós dois, sem as minhas duas irmãs para nos acudir. O Vitinho lá, concentrado na batatinha e eu mal conseguia olhar para o lado em meio a tanta abelha. Sem mais nem menos, aquela abelha intrusa resolveu invadir o meu suco passando sabe por onde? Pelo buraco do canudo. Ah, perdi as estribeiras. Saí derrubando tudo. O vitinho? Não, ele ficou lá, achando que eu estava fazendo graça pra ele rir. Depois disso, a mãe dele percebeu que não pode nos deixar sozinhos em um ambiente em que sobrevoam abelhas. Não, não pode. Se eu não trabalho? Sim, claro que trabalho. Tá vendo! Por que foi tocar nesse assunto? Estou sendo convocada para uma reunião. Deixe eu ir causar por lá também. Tchau.

março 20, 2004

Família

Eram três. Pequenos, com idade não muito diferente entre um e outro. Sete, oito e nove, talvez. É possível que seja menos também. Suas idades somadas e multiplicadas por três totalizam a intensidade do sofrimento que carregavam pelo corpo. Mas eram fortes. E eram crianças. E sabiam sorrir.

Não estavam sós. Caminhavam pela noite escura e fria a caminho de casa. Sim, certamente, tinham um lar. Os dois menores vinham um pouco atrás, comentando sobre o susto que tinham acabado de levar com os latidos fortes da fera presa. Feras que pegam de surpresa aqueles que dificilmente se surpreendem.

O mais velho ia à frente, pela direita, acompanhado pelo Grande Líder Destituído que vinha à esquerda. No centro, uma Grande Causadora. Tinha o triplo de sofrimento que os garotos e parecia que trocara os papéis: responsabilidade com eles e inconseqüência com ela.

Era carregada pelos braços dos que a acompanhavam, que garantiam seu andar descompassado em zigue-zague. Parecia que estava inventando uma coreografia. Mas a sua dança era feia. Despudorada. E assustava os espectadores. Os corações ali presentes enchiam-se de angústia, de milhares de questionamentos, os quais não dizem respeito a ninguém. Ou dizem?

Estava calada, a Causadora. O único som que se ouvia era do sorriso das crianças. E das lágrimas que pingavam dos corações ali presentes. Do desespero que não se podia calar.

Eram crianças. Sim, crianças. Quando chegassem em casa, não receberiam o jantar materno. Não receberiam ordem para tomar banho e nem para apresentar o dever de casa. Também não receberiam o beijo de boa-noite.

Mas eram crianças e sonhariam com os anjinhos e teriam para sempre a proteção divina.

março 17, 2004

Ler

Ler um livro é viver uma grande história de amor. Você convive dias (ou horas) com uma ou mais personagens, presencia os seus anseios, identifica-se com seus problemas, almeja suas alegrias, diverte-se com seu senso de humor, questiona sua chatice, chora por seus dramas e, muitas vezes, vê-se diante de um espelho. É uma relação profunda de entrega. Às vezes vicia e outras faz a relação ficar chata, monótona. Às vezes, desperta curiosidade e outras faz parecer apenas um dever, uma obrigação. Às vezes, faz você entrar em crise, ficar de mal. Então, a relação pode ser mais duradoura, porém, não muito freqüente. Mas sempre há um aprendizado.

Terminar de ler um livro nos remete a um imenso vazio. Depois de você se aprofundar na história e de sentir-se parte dela vem o momento da despedida. Você se sente como se houvessem mais aventuras a viver, mais o que aprender, rir e chorar. Sempre há. Vem aquela sensação de abandono, de solidão e de esperança, assim como os amores que chegam ao fim. E então, você corre atrás de outros amores, outros livros. E é tudo um círculo vicioso. E sempre há garantia de prazer, com mais ou menos intensidade. Fica a seu critério.

Ler um livro é tornar esse prazer eterno e ao seu alcance sempre. É eterno como os amores verdadeiros.
O Caso da Borboleta Dentuça

E também: cobra com patas, brocos (uma espécie de brócoles suprimido), nariz de peixe (ou seria peixe com nariz?), personal tremmmmmm e outros. Ah, você não assiste ao Big Brother? Então, tá! Quer saber? Sorte a sua.

março 12, 2004

A Loucura como uma tendência não indicada

Antigamente, taxavam as pessoas de loucas por motivo pouco. Bastava transgredir alguma regra e pronto: a justificativa era loucura. Hoje, as coisas não mudaram muito de rumo. Os loucos continuam nascendo, porém, para serem percebidos, são necessárias algumas certas estravagâncias. Loucura virou moda. Os grandões ditam e os pequenos acham bonito e mandam ver.

A moda mais louca do momento é matar. Sim, matar mesmo, mas em vez de matarem o preconceito, a fome e as desgraças em geral, preferem matar pessoas. PESSOAS. E essa moda, pasme, possui algumas tendências e tanto: é filho matando pais, pais matando filho, namorado matando namorada, neto matando avó e por aí vai. Mas tem uma tendência, meu amigo, que vou lhe falar! É a mais acentuada de todas as que citei até aqui e outras tantas que devem ter passado pela sua cabeça. Na verdade, essa tendência vem sendo ditada já há algum tempo, mas desde a última estação, a de onze de setembro, lembra? Então, desde esta estação, essa tendência ganhou força total e está aí, fazendo muitas cabeças e arrancando outras tantas. Louco, não? Que isso, loucura pouca é bobagem!

Dá para imaginar a força que uma tendência dessas tem, né? Lá no Oriente, tinha um certo reflexo mundial, mas apenas um reflexo, nada muito além disso. De repente, invade aqui, o Ocidente e deixa todos os resquícios de que será uma temporada, no mínimo, bombástica. Nova York como palco deixou os espectadores polvorosos e repercurtiu no mundo inteiro. Sim, foi marcante, até mesmo para os incrédulos e aqueles que nunca entenderam nadica de nada disso tudo.

Mas, como o berço da moda é a Europa, a próxima temporada não poderia oferecer essa desfeita. Desta vez, a passarela foi montada no dia 11 de março na Espanha. E, como era de se esperar, o mundo inteiro está comentando novamente. As pessoas, aquelas que criam seu próprio estilo de vida e que não gostam de seguir a moda estão chocadas. Eu estou chocada e você, certamente, também está.

Lamentos atrelados a convicções políticas e religiosas, indignações e perdas, muitas perdas. A loucura está falando mais alto que tudo isso e o prêmio oferecido é o medo. Eu disse oferecido? Mentira. É um prêmio imposto, entregue inesperadamente a milhares de famílias espalhadas pelo mundo. Essa tendência de que falo está mais que globalizada e parece que, quanto mais choca, mais ela cresce. Perdeu o controle. A loucura perdeu o controle e o rumo da razão. Essa loucura somente poderá ser vencida com outras loucuras: a esperança e a coragem. Essa moda maluca, definitivamente, não pode continuar roubando a cena. Eis aqui a minha proposta para mudarmos de estação e derrotar esse manicômio. Você vem comigo?

março 10, 2004

Fraquezas

Assumir fraquezas parece uma atitude um tanto quanto bucólica, né? É mais ou menos como assumir um grande pecado ou talvez um crime mal feito. Então, de repente, você se vê refém do mundo, das pessoas, das coisas, da sua própria vida. E, meio que sem perceber, você começa a subestimar os próprios conceitos, a desconfiar da capacidade de fazer, de ser, de fazer ser. E a vida parece fútil, injusta, reveladora de coisas jamais imaginadas e as pessoas, ora, as pessoas parecem monstros que tramam o tempo todo contra tudo e contra todos, contra você e, no primeiro momento de descuido, o espelho não mostra mais aquela velha imagem conhecida. Você não é você. A sua vida não é mais sua e passa a ser fruto de mãe e pai desconhecidos e você começa a acreditar que a sua vida jamais foi sua e nem de ninguém. A vida. Que vida? Tudo ao redor parece conspirar, tudo é do contra. O inesperado, o não desejado. Tudo o que você gostaria de mudar, de entender, de não mais crer. Esse “tudo” é manipulador, incontrolável. Não é ingênuo. Não é perfeito nem imperfeito. Tudo é errado, desesperador, incompreensível. Tudo, tudo, tudo não passou de um pesadelo. Não de conseqüências. Tudo foi um pesadelo, uma dramatização barata da sua mente perseguida. Talvez, algo que poderia ser, mas não é e não foi. Tudo pode ser resgatado, positivo, remodelado. A sintonia encontra a freqüência certa e a música passa a ser entendida. Nem cantada nem dançada. Apenas compreendida. E, mesmo com os cabelos bagunçados, com um gosto desconhecido na boca, com o cérebro disputando lugar com o coração, mesmo com aquele velho pijama que você tanto gosta, mesmo com excesso de claridade na face, você consegue abrir os olhos. E, devagar, começa a reconhecer o ritmo, o verde, o rosa, o azul e o branco.

março 08, 2004

Ser Mulher

Ser mulher hoje em dia é correr atrás, é ser (assim como o sertanejo), antes de tudo, forte. Ser mulher é ser fonte de prazer. É ser a peça chave para esse quebra-cabeça que é o mundo. Ser mulher é ter o dom de gerar vida, outras mulheres. Não, caros, não estou soando feminista demais. É impressão. Mulheres não existiriam se não fossem os homens e estes também não, se não fossem as mulheres. Homem e mulher formam um só e geram juntos a essência da vida, o alimento da alma: o amor.

Todo ser humano, independente do sexo, traz dentro de si uma essência feminina. Sim, todo mundo tem o seu lado mulher de ser e, por isso, desejo a todas as mulheres e a todos os lados femininos que circulam por aí, mundo afora, um Feliz Dia Internacional da Mulher!

março 03, 2004

A índole das criancinhas

- Sempre me guarde, me proteja, me ilumine, amém.

- Amém!

Houve um olhar repreensivo para a pequena Giulia ao pé da cama, que imediatamente completou:

- Amém, Papai do Céu!

As duas correram para debaixo das cobertas, com o acompanhamento da mãe, que ajeitou suas garotinhas acolhedoramente, com um leve beijo de boa-noite na testa de cada uma.

A mãe, por um simples comportamento de mãe, sentou-se na cadeira que estava ao lado e ficou por um instante observando suas crias, assim, com olhar de mãe, sem dizer nada. Foi interrompida pela curiosidade incontrolável de Nicole:

- O que foi, mamãe?

- Nada. Estava aqui pensando... Estive em Santo Amaro hoje e, na porta de uma loja havia uma família com um monte de criancinhas. Tinha uma, que estava no colo da mamãe dela, que chorava, chorava...

O olhos arregalados da Nicole, não apenas por curiosidade, mas, sobretudo, por sua essência infantil, virgem das maldades do mundo, precederam sua pergunta:

- Mas por quê?

- Ah, ela não tinha chupeta e a mãe dela não tinha dinheiro para comprar.

O siêncio tomou conta do quarto naquele momento, quando, inesperadamente, num ato terno e atípico nos dia de hoje, Nicole levou a mão à sua boca, pegou sua chupeta e entregou à mãe, em silêncio, sem a mínima necessidade de palavras. O silêncio permaneceu, até que a mãe o interrompeu:

- O bebezinho que estava chorando tinha mais cinco irmãozinhos. Assim, um pouquinho maior que ele...

Não precisou continuar. A pequena Giulia, sem muita certeza de sua decisão, porém, guiada pelo seu bondoso coraçãozinho, levou a mão até a chupeta, hesitou por um momento e entregou à sua mãe.

No meio daquela noite, a mãe teve seu sono interrompido com alguns leves chacoalhões. Abriu o olho lentamente e viu a pequena Giulia, que disse, meio sonolenta:

- Mamãe, você pode devolver a minha chupeta, por favor? A mãe do menininho que trabalhe para comprar uma chupeta pra ele, assim como a minha faz.

(adaptação de uma história narrada por um dos oitenta passageiros de um coletivo lotado, às sete horas da manhã de uma terça-feira ensolarada)

março 01, 2004

Vega no Centro Cultural

Mágica, assim é a música, quando toca o nosso coração.

De forma não menos mágica, sim, precedida por um belo espetáculo de magia, a banda Vega apresentou o seu incrível repertório, embalado pelo carisma e talento da vocalista, Claudia Gomes, acompanhada pelo profissionalismo mais que apaixonado da sua banda, domingo, 29 de março, no Centro Cultural de São Paulo.

Hoje, num momento em que a música deixou de ser protesto, deixou de ser paixão, deixou de ser música, são poucas as pessoas que resgatam o verdadeiro sentido de uma sonoridade harmoniosa, de cantar por talento e não por fama ou marketing camuflado. O Vega veio para nos dizer isso: que talento não se compra na esquina nem se pede emprestado ao titio, diretor de qualquer gravadora famosa. Talento vem da alma, do coração e só é revelado verdadeiramente se acompanhado por uma certa humildade e dignidade. Se não, não dura. Se não dura, não é talento.

Mas não é só talento que acompanha essa super banda. Acima de tudo, criatividade. Seus shows começam sempre de forma inesperada e peculiar. Quer ir ao show do Vega? Então, relaxe e vá porque, certamente, além da voz maravilhosa da Claudinha, que nos surpreende cada vez mais, sempre haverá outras surpresas nos aguardando. A desta vez, acreditem, resgataram o cantor Leo Jaime, que, em meio a tantos jovens, mostrou-se mais imortal que nunca.

E, em meio a um clima jovial, a uma união mais que perfeita do hoje com o ontem, a uma explosão de carisma, talento e criatividade, o Vega concluiu mais um super show, que ficará na memória dos que estiveram presentes para todo o sempre. E viva à nossa boa música nacional!